
É tiro e queda: todo ano, invariavelmente, algum político posta algo fora do tom durante o carnaval.
No caso do objeto de análise desta coluna, não foi exatamente um político, mas um órgão público: o perfil no Instagram da Prefeitura de Belo Horizonte.
Enquanto escrevo, bate um frio na barriga. Tão certa quanto a ressaca da Quarta-Feira de Cinzas é a convicção de que a coluna será mal interpretada por alguns – ou por muitos.
Religião, ideologia e carnaval formam um mix de temas explosivos que mexem com nossos instintos mais primitivos.
Antes que prossiga a leitura, vamos combinar uma coisa? Essa coluna é sobre comunicação. Estritamente sobre comunicação. Todo o resto é pano de fundo para analisar a necessidade ou não de um conteúdo.
Vamos aos fatos, a polêmica que começou com a prefeitura e a Câmara Municipal e logo em seguida ganhou a opinião pública.
A Prefeitura de BH, em parceria com um influenciador local, fez uma postagem no início do Carnaval em que dois homens fantasiados de Jesus Cristo e diabo se beijam.
A Frente Parlamentar Cristã, da qual fazem parte 27 dos 41 vereadores da Câmara, emitiu nota em protesto contra a publicação e a postagem foi apagada no domingo.
A treta é essa.
A primeira reflexão é de ordem operacional.
Quem aprovou o post? Quem era o(a) responsável publicação? Estou partindo do pressuposto de que o post era um equívoco do ponto de vista institucional.
Como cidadão, não vi nada demais. Mas, caso fosse o gestor de uma conta tão importante, minha opinião de nada valeria. Eu não poderia medir o impacto pela “minha régua”.
Cada órgão público tem seu próprio fluxo de publicações. Em algumas situações, o social media tem autonomia para postar. Em outras, quem aprova é o responsável pela área digital. Ou pode ser o próprio secretário. Cada órgão tem seu próprio manual.
Desconheço a hierarquia do núcleo digital da Prefeitura de Belo Horizonte, mas esse post deveria ter sido barrado antes mesmo de existir.
O segundo ponto é o uso de influenciadores na comunicação política e institucional.
Eu sou amplamente favorável ao marketing de influência, especialmente os nano influenciadores (aqueles que possuem entre mil e 10 mil seguidores) e micro influenciadores (entre 10 mil e 50 mil seguidores). Ao contrário dos grandes influenciadores, eles têm taxas de engajamento mais altas e público mais segmentado.
Mas, no caso de perfis institucionais, o cuidado deve ser redobrado. Se já é complicado para empresas associarem suas marcas a influenciadores, imagine para políticos e órgãos públicos.
Tudo que um influenciador posta (como estilo de vida e opiniões políticas) pode ser automaticamente transferido para a marca parceira. A parceria é uma espécie de “aval”.
Basta uma rápida passagem pelo feed do influenciador com o qual a prefeitura fez parceria que se vê um forte viés anti-Bolsonaro.
Ele tem todo o direito e liberdade pra isso. Mas também deve ter a consciência de que pode afetar seus interesses comerciais.
Sua posição política pode ser confundida com a da prefeitura. Que tem, entre os “consumidores” de seus serviços, cidadãos de esquerda, direita, centro, apolíticos, etc
Valeu a pena correr o risco de um post com fundo religioso? E mais, correr o risco da parceria com um perfil fortemente político?
Não seria o caso de buscar parcerias com influenciadores “neutros”? Ou, caso você, como eu, não acredite em neutralidade, que pelo menos fosse com alguém menos engajado?
Repito, eu não faço juízo de valor. Mas não correria ambos os riscos.
Imagem gerada por IA.