Como uma brasileira pode ajudar a salvar a Terra da fome com tomates cultivados em Marte

Como a produção dos tomates pode ajudar a acabar com a fome mundial

A brasileira Rebeca Gonçalves, de 32 anos, promete dar um grande salto para o fim da fome no mundo com seu mais novo projeto de astrobiologia. Para isso, ela utiliza uma técnica de cultivo de tomates em solos similares ao de Marte para construir uma alimentação com base em recursos mais escassos, comuns em solos degradados encontrados em diversas regiões da Terra.

Só para se ter uma ideia da importância do projeto, segundo a astrobióloga, hoje há cerca de 1,5 milhões de pessoas afetadas pelo solo degradado no nosso planeta. Ou seja, solos que não conseguem mais ser frutíferos e, portanto, perdem seu papel crucial na alimentação dos brasileiros.

Liderando o grupo de pesquisadores sobre este cultivo na Universidade e Centro de Pesquisa de Wageningen, na Holanda, Rebeca conta sua trajetória na ciência e como quer abrir caminhos para que mais mulheres se identifiquem com a temática.

Como tudo começou

Sempre fui apaixonada por biologia desde pequenina. Eu era o tipo de criança que pegava centopeias na mão, dissecava insetos e ficava fascinada por esse universo. Em paralelo a isso, eu tinha um tio muito presente e físico que adorava me contar a história dos planetas. A primeira coisa de que me lembro de aprender é a ordem dos planetas, isso aos quatro anos – conta a cientista.
Rebeca ao lado do tio que a inspirou a entrar na ciência

Foto: Rebeca ao lado do tio que a inspirou na ciência.

Rebeca conta que anos depois, quando decidiu entrar na faculdade, optou pela Biologia. No entanto, aos 18 anos, uma crise existencial a fez lembrar do que fazia seus olhos brilharem na infância: o espaço, suas dimensões, seus planetas e galáxias.

Eu não tinha a informação, na época, que dentro do setor espacial existem pessoas de diversas áreas para além dos astronautas. Quando eu soube, consegui unir minha paixão pela biologia e pelos astros e assim nasceu a astrobiologia – diz Rebeca.

Para unir as duas paixões, ela encontrou um programa de mestrado sobre o tema no Centro de Análise em Sistemas de Colheita da Universidade de Wageningem, nos Países Baixos.

Os tomates marcianos

Foi neste mestrado que Rebeca decidiu estudar como plantar e colher alimentos nutritivos com recursos escassos. Neste ponto, a pesquisadora explica algo muito importante.

Nem todos sabem, mas quando estudamos algo para além da Terra, precisamos também solucionar um problema na Terra. Ou seja, consegui cultivar tomates em um solo como o de Marte, mas o mesmo cultivo pode ajudar pequenos produtores a colher alimentos em solos já degradados pelo aquecimento global ou por ação dos homens – explica.
Tomates marcianos podem ajudar a acabar com a fome

Foto: Tomates marcianos podem ajudar a acabar com a fome.

A técnica de consorciação de culturas é um método ancestral de cultivo que tem sido usado na Terra desde a época dos Maias, e agora pela primeira vez na história está sendo aplicada na agricultura espacial.

A prática envolve cultivar plantas com propriedades complementares que podem auxiliar umas às outras no crescimento, o que, em última análise, resulta em maior produção de alimentos e na otimização de recursos como água e nutrientes. 

Por exemplo, na pesquisa de Rebeca foram plantados tomates, cenouras e ervilhas. A que melhor se saiu foram os tomates, mas os outros plantios ajudaram a trazer nutrientes propícios para o crescimento dos tomates. Estes alimentos são plantados todos juntos, como faziam os Maias. Desta forma, o chamado “sistema” se ajuda entre si.

Esse cultivo, como já expliquei, é importante para auxiliar a produção na Terra. Com alimentos mais variados podemos garantir segurança alimentar, principalmente para os pequenos produtores que fazem a chamada agricultura de subsistência – fala.

A importância para os astronautas

A técnica pesquisada pela brasileira também será vital para futuras missões tripuladas ao Planeta Vermelho. Colônias em Marte terão recursos extremamente limitados, especialmente durante as primeiras missões, que devem acontecer dentro da próxima década.

O uso da técnica de Rebeca vai economizar o uso de recursos e pode ser um divisor de águas para a produção local de alimentos frescos em missões de exploração, aumentando a segurança alimentar da colônia e sua auto-sustentabilidade, uma característica essencial para a independência das colônias e para o futuro do assentamento humano de longo prazo em Marte.

O time de pesquisadores, que incluíam também os holandeses Dr. Wieger Wamelink, especialista em estudos marcianos, e Dr. Jochem Evers, especialista em sistemas agrícolas, cultivaram ervilhas, cenouras e tomates em um tipo de simulador de regolito marciano (“regolito” sendo o termo técnico para um solo que não tem matéria orgânica presente).

Este simulador de regolito marciano, produzido por uma equipe de pesquisadores da NASA, é uma correspondência física e química quase perfeita com o verdadeiro regolito de Marte, usado pela própria NASA para testar os rovers que vão para missões no planeta vermelho.

Em meio à conversa, Rebeca conta que, além dos interesses do plantio em solo terrestre, os astronautas também se preocupam com sua alimentação em missões espaciais.

É importante que essas pessoas tenham acesso a alimentos nutritivos e que consigam cultivá-los de forma simples, então, o estudo também irá ajudá-los – diz.

Uma sobe, e puxa a outra – a força das mulheres cientistas

A pesquisadora conta que morou mais de 15 anos na Europa e que, por lá, nunca tinha sentido nenhum tipo de pressão ou constrangimento por ser mulher e cientista. Até pisar no Brasil.

Rebeca fala da importância da ciência para as mulheres

Foto: Rebeca Gonçalves conta que nunca sentiu nenhuma pressão por ser mulher e cientista até estar no Brasil.

Foi aqui que senti a primeira vez a pressão por ser mulher e estar onde estou. Senti que não era tão levada a sério. Mas, agora, minha intenção é mostrar para as mulheres que elas têm espaço dentro da ciência, que podem ter se assim optarem por essa área de estudo. O que queremos é que nenhuma mulher deixe de optar pela ciência por medo de ser mulher neste meio – afirmou.

Só para se ter uma ideia, segundo dados da Unesco, as mulheres representam 33,3% de todos os pesquisadores no mundo e apenas 12% delas são membros de academias científicas nacionais. Ao olhar para áreas de tecnologia e inovação, a presença de pesquisadoras cai ainda mais: elas são apenas uma em cada cinco profissionais.

Rebeca termina a conversa comemorando que a primeira mulher irá para a lua em uma missão com a Nasa. A astronauta Christina Koch fará parte da tripulação da missão Artemis II, quando se tornará a primeira mulher a chegar à Lua.

Foto: Cristina Koch será a primeira mulher a pisar na lua

O lançamento está previsto para o fim de 2024 e os membros deste voo histórico foram anunciados no mês de abril deste ano.

A primeira mulher a pisar na Lua

Christina Hammock Koch é norte-americana, engenheira e astronauta. Desde criança, ela sonhava em explorar o espaço sideral, um sonho que a levou a se formar em Física e a obter um mestrado em Engenharia Elétrica na Universidade Estadual da Carolina do Norte.

Em 2001, ela se graduou no prestigiado programa da Academia da NASA no Centro de Voos Espaciais Goddard, onde trabalhou no desenvolvimento de instrumentos científicos espaciais e em projetos de engenharia para missões de astrofísica e cosmologia da NASA.

Sua dedicação à ciência e à engenharia espacial a levou a participar do Programa Antártico dos Estados Unidos, onde passou mais de três anos alternando entre o Ártico e a Antártida. Nesta última, ela enfrentou o rigoroso inverno no Polo Sul, na Estação Polar Amundsen-Scott, sob temperaturas que chegavam a -79°C.

Além de suas atividades científicas, ela também serviu como membro da equipe de bombeiros da estação e participou de operações de busca e resgate em geleiras e oceanos. Entre 2007 e 2009, ela trabalhou como engenheira elétrica no departamento espacial do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, onde contribuiu para o desenvolvimento de instrumentos científicos destinados ao espaço.

Seus projetos incluíram a criação de instrumentos para o estudo de partículas de radiação em missões da NASA, como as sondas Juno e Van Allen.

Em 2012, ela assumiu duas funções na Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA): primeiro como engenheira de campo no observatório de monitoramento global da NOAA em Barrow, Alaska, e depois como chefe de estação do Observatório da NOAA na Samoa Americana.

Com mais Rebecas e Christinas a ciência continuará caminhando a passos curtos com as mulheres, vislumbrando um futuro ainda distante, mas muito mais possível.


Foto em destaque: Rebeca Gonçalves e os tomates marcianos.
Crédito das fotos: Arquivo pessoal.

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