É inacreditável que especulem Ronaldo Carioni e João José dos Santos no comando do DNIT-SC

Tem uma frase do humorista Aparício Torelly, conhecido como Barão de Itararé, que eu volta e meio uso aqui por inescapável: de onde menos se espera, daí é que não sai nada. Impossível não lembrar dessa tirada humorística quando se discute, a sério, que os dois nomes em debate para assumir o comando do DNIT em Santa Catarina são dois ex-superintendentes que não deixaram saudades – pelo contrário. Pelo lado do PT, João José dos Santos, que esteve no cargo por uma década nos dois primeiros mandatos de Lula e no primeiro mandato de Dilma. Com carimbo da senadora Ivete da Silveira (MDB), mas em clara articulação do governador Jorginho Mello (PL), sim, ele, sempre ele, Ronaldo Carioni.

Justamente no momento em que o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL) garantiu que estão disponíveis R$ 880 milhões para as obras em rodovias catarinenses, quase quatro vezes mais que o orçamento do ano passado.

A volta de João José dos Santos ao DNIT vem sendo citada discretamente por Décio Lima, presidente estadual do PT, e pela deputada federal Ana Paula Lima (PT) quando questionados sobre nomes para o órgão. Com as nomeações federais em Santa Catarina em banho maria neste começo de governo Lula (PT), foi ganhando corpo a possibilidade de que o MDB catarinense indicasse o posto. A articulação é dos deputados federais Carlos Chiodini, presidente estadual do MDB, e Valdir Cobalchini – ambos cada vez mais à vontade no papel de governistas. Eles evitam que vazem nomes, mas dizem que os emedebistas querem a posição.

Foi nesse contexto que voltou à tona o nome de Carioni, servidor de carreira do DNIT. Inicialmente, a ideia de Jorginho Mello era de que ocupasse uma das superintendências da Secretaria de Infraestrutura – sua nomeação chegou a ser publicada no Diário Oficial do Estado. No entanto, o mesmo MDB que avalizou a ida do deputado estadual Jerry Comper para assumir a secretaria, trabalhou junto ao Ministério dos Transportes, emedebista, para que Carioni e Vissilar Pretto (outro ex-DNIT-SC que ocuparia superintendência estadual) não fossem cedidos. Foi assim que o MDB conseguiu ocupar mais espaços na pasta.

Foi quando surgiu a possibilidade de devolver Carioni para o DNIT-SC. Como o Ministérios dos Transportes é uma vaga do MDB do Senado, Ivete da Silveira (MDB) teria predominância na indicação da vaga ligada à pasta no Estado. E, assim, pelas mãos da ex-suplente de Jorginho no Senado, surgiu Carioni na mesa do ministro Renan Filho. As óbvias restrições foram apontadas ao ministro, inclusive a demissão durante o governo Jair Bolsonaro (PL) “em busca de eficiência“. Antes da demissão, em junho de 2022, Carioni recebeu cobranças públicas do então ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos, hoje governador de São Paulo). Vou recuperar a frase, dita em fevereiro do ano passado.

Olha, não estou satisfeito, obviamente, com o andamento das obras de Santa Catarina. Observe que nós não temos um problema financeiro. Nós temos um problema de execução de obra. Então, o que a gente vai fazer? Vamos botar as máquinas na pista. Então, vou chamar as empresas. Se não for suficiente, vou punir as empresas. Se for necessário tirar o superintendente do Dnit em Santa Catarina, nós vamos tirar. Tem que dar resposta, porque dinheiro tem. Tem o problema, não é financeiro, não falta dinheiro – disse Tarcísio à época.

O petista João José dos Santos não traz memórias melhores, especialmente quando lembramos das BRs 470 e 280. O Vale do Itajaí e o Norte do Estado, regiões em que o antipetismo tem uma concentração até mais forte do que em outras partes do Estado, receberiam como um sinal muito negativo esse déjà vu.

Sinceramente, Santa Catarina merece pelo menos a chance de uma decepção inédita, não esses nomes que já não deram resultado. Talvez seja a hora de um político no comando do DNIT-SC. Daqueles que sabem colher os louros da obra pronta, mas que também dão a cara a tapa quando falham. Um nome que seja mais que o indicado de alguém. Não sou só eu que penso assim. Em algum momento, na discussão de nomes do MDB para a vaga, alguém lembrou do ex-deputado federal Mauro Mariani, candidato a governador da sigla em 2018, retirado da política desde então. Mariani foi o secretário de Infraestrutura de Luiz Henrique da Silveira, encarregado de tirar do papel uma das grandes obsessões daquele governo: garantir que todo município catarinense tivesse pelo menos um acesso asfaltado.

Mariani não teria demostrando interesse quando sondado. Seria um nome interessante, fora da mesmice. Carioni e João José, com todo respeito, nem especulados deviam ser.


Sobre a foto em destaque:

Obras na BR-470. Foto: Alberto Ruy, Ministério de Infraestrutura.

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