O combate a pandemia de HIV ganhou um novo aliado nos últimos dias. Isto pelo sucesso dos testes da Gilead Sciences sobre o medicamento injetável de longa duração Lenacapavir para a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) contra o HIV.
Mas calma, antes é preciso entender o que é PrEP. Caso você não saiba, a PrEP é um medicamento que as pessoas tomam para reduzir o risco de pegar o HIV. Quando tomado diariamente, ele pode ser altamente eficaz na prevenção da infecção pelo HIV, especialmente para aqueles que estão em maior risco de exposição ao vírus, isso inclui travestis, transexuais, gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas privadas de liberdade e usuários de drogas, por exemplo.
Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), um recente teste do medicamento entre mulheres cis na Uganda e na África do Sul foi tão bem-sucedido que foi concluído antes do prazo final. Injeções semestrais de Lenacapavir mostraram uma grande eficácia na prevenção de infecções por HIV em comparação com os medicamentos preventivos orais de uso padrão para a profilaxia pré-exposição (PrEP).
Letícia de Assis, uma mulher de Florianópolis que vive com HIV, conta que a medicação traz esperança.
Eu me sinto muito esperançosa como pesquisadora e como ser humano. Apesar de não ter efeito para nós que já vivemos com HIV, isso pode finalmente controlar uma epidemia que já cerceou a vida de muito gente e que ainda é um problema grave de saúde pública mundial – conta Letícia.
A recente descoberta do Lenacapavir pela Gilead é vista como um marco na luta contra o HIV, e a Unaids está pressionando para que a empresa permita a produção de versões genéricas do medicamento, visando torná-lo acessível a todos os países de baixa e média renda. Para alcançar isso, a Unaids está buscando acordos de licenciamento voluntário através do Medicines Patent Pool (MPP), uma iniciativa apoiada pela ONU que tem um histórico de sucesso em negociar acordos de medicamentos genéricos.
Winnie Byanyima, a Diretora Executiva da Unaids, destacou a importância do sucesso dos testes recentes do Lenacapavir, afirmando que, embora ainda sejam necessários mais resultados, a notícia oferece esperança de que todos, especialmente aqueles em maior vulnerabilidade, possam ter acesso ao tratamento. Ela enfatizou que garantir o acesso equitativo global a novas tecnologias é crucial para alcançar a meta de acabar com a aids como uma ameaça à saúde pública até 2030.
No entanto, Byanyima expressou preocupação com o fato de que a estratégia de acesso da Gilead para países de baixa e média renda não inclua explicitamente os países de renda média, onde o custo do tratamento com Lenacapavir é proibitivo para muitos. Esses países são responsáveis por 41% das novas infecções por HIV e abrigam 37% de todas as pessoas que vivem com o vírus. Além disso, a declaração da Gilead não menciona uma parceria com o MPP.
Byanyima alertou que, sem esses compromissos, não há garantia de que o Lenacapavir alcançará todas as pessoas que precisam dele. É crucial que a acessibilidade do medicamento seja estendida a todos, independentemente de sua localização ou status socioeconômico.
A preparação contínua no SUS
Em um sistema como o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, onde a saúde é um direito universal, é imperativo que o Lenacapavir seja disponibilizado de forma equitativa. Isso deve incluir não apenas o fornecimento do medicamento, mas também a implementação de treinamentos em linguagem não violenta para profissionais de saúde e comunidade, visando reduzir o estigma e o preconceito associados ao HIV, especialmente em comunidades remotas e de interior.
Esses treinamentos são essenciais para criar um ambiente seguro e acolhedor, onde as pessoas possam buscar tratamento sem medo de discriminação, garantindo assim que o benefício do Lenacapavir seja amplamente sentido por todos que dele necessitam.
