Os cabides do Raimundo Colombo

Em 2004, Raimundo Colombo foi reeleito prefeito de Lages, com uma grande votação: pouco mais de 70% dos votos válidos. Essa vitória lhe deu a condição, com a benção de Jorge Bornhausen, de ser o presidente do PFL no Estado.

Dois anos antes, em 2002, Luiz Henrique fora eleito governador pelo MDB, em coligação com o PSDB, derrotando Amin, do PP, com o PFL de Colombo na chapa.

Em 2003, o governador iniciou a implantação do seu plano de Governo, que previa a descentralização administrativa, com a criação de 30 secretárias regionais (depois foram 36).

Como presidente do PFL, em 2005, Raimundo Colombo teve direito a aparecer na TV, em rede estadual, naquela propaganda partidária que temos em anos que antecedem as eleições.

O prefeito de Lages então, surgiu em um vídeo bem produzido onde retirava cabides de um armário e mostrava que o governo de Luiz Henrique com suas secretarias regionais não passava de um cabide de empregos.

Emedebistas bufavam de raiva do lageano. Mas Luiz Henrique tinha certeza do sucesso do seu programa de Governo, porque, apesar dos cargos criados pelo interior, por onde passava, a população respondia com apoios.

Uma vez entrevistando-o perguntei a sua opinião sobre os vídeos do Colombo. Me disse que “faziam parte do jogo da oposição e que sua resposta era com obras”, citando em seguida um grande relatório de ações que estava desenvolvendo no Estado.

Quando 2006 chegou, Luiz Henrique começou a grande costura que culminou na criação da Tríplice Aliança, com MDB, PSDB e PFL. Colombo renunciou a Prefeitura de Lages e se colocou, primeiramente, como candidato a governador.

A pré-candidatura durou poucos dias. Os caciques do PFL, liderados por Bornhausen e Julio Garcia, já haviam selado seu destino. Ele esqueceu os cabides e foi candidato a senador na chapa de Luiz Henrique.

A Tríplice Aliança foi vitoriosa, com Luiz Henrique, governador, Leonel Pavan, na época do PSDB, como vice e Colombo, no então PFL (que depois virou DEM), como senador.

O Governo continuou com as regionais. Inclusive, em 2007, Luiz Henrique aumentou de 30 para 36 o número de secretarias. Colombo nunca mais lembrou dos cabides.

Em 2010, sucedeu a Luiz Henrique no Governo e as secretarias foram mantidas. Em 2014 ele foi reeleito governador e só em 2016, transformou as Secretarias em Agências de Desenvolvimento, mas os cargos, em sua maioria foram mantidos.

Os cabides, que fizeram sucesso na TV lá em 2005 e tanto desagradaram os emedebistas, caíram no esquecimento. O projeto político criado por Luiz Henrique, com a descentralização, durou 16 anos e só terminou com a chegada da “onda de 2018” que elegeu o desconhecido Carlos Moisés.

Superado o episódio dos cabides, a afinidade de Colombo e LHS era tanta, que em 2011, logo no começo do seu Governo, fomos a Joinville fazer o lançamento de um pacote de obras.

Na hora dos discursos, com o plenário da Acij lotado, ao cumprimentar Luiz Henrique, Colombo saiu com a seguinte frase: “o que dizer de um amigo, cujo coração bate junto com o seu”. Anos depois, em 2015, Luiz Henrique morreu e no velório do líder emedebista, Colombo também discursou e citou a música que Sergio Bitencourt fez para seu pai, Nelson do Cavaquinho: “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”.


Imagem em destaque: Galvão Bertazzi.

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