Passo-a-passo para identificar os aromas do vinho


Um dos maiores desafios para apreciadores de vinhos é conseguir perceber as tão famosas notas aromáticas. Frutas, flores, especiarias, defumados, minerais, vegetais e tantos outros aromas presentes nos vinhos nos proporcionam experiências incríveis e fazem com que cada taça degustada seja única e especial.

De fato, a análise olfativa é, para mim, a parte mais apaixonante da degustação de vinhos. Costumo gastar um bom tempo com o nariz na taça, tentando identificar os aromas antes de levar o vinho à boca. 

Apesar de parecer fácil colocar o nariz na taça e sentir todos os incríveis aromas oferecidos pelos grandes vinhos, é comum ver degustadores frustrados com a sensação de sentir apenas “cheiro de vinho”. 

Identificar notas aromáticas exige treino e atenção. Para te ajudar, organizei quatro passos que fizeram parte do meu aprendizado como sommelière e que pratico até hoje buscando as melhores experiências com vinhos.

Prontos para começar?

  1. Avalie seu repertório olfativo

Antes de buscar os aromas no vinho, faça uma autoavaliação: será que você é capaz de reconhecer uma fruta ou uma especiaria apenas pelo cheiro? Com os olhos vendados, você identificaria uma amora, uma pimenta preta ou uma ameixa? Se sua resposta for diferente de um SIM absolutamente convicto, você precisa treinar seu olfato. 

De forma muito resumida, os aromas são moléculas que se soltam do vinho e, quando percebidas pelos receptores olfativos, estimulam seu cérebro a buscar um sentido, uma memória, ou um nome para tal estímulo. É quase como se o seu cérebro dissesse: “hum, eu conheço isso. É cheiro da cozinha da casa da vovó quando estava cozinhando morangos”. Bingo! Esse vinho tem aroma de geleia de morango.

Como incrementar seu repertório? Cheire as frutas no supermercado e as flores que encontrar pelo caminho, sinta o cheiro dos alimentos antes de comer. Em resumo, aprecie os aromas ao seu redor e busque identificá-los. 

Somente quando conseguir reconhecer uma ameixa apenas pelo cheiro é que você conseguirá identificar notas de ameixa no vinho. 

  1. Procure um ambiente controlado

Lembre-se de que as notas aromáticas são muito sutis. Por isso, é necessário ter concentração e um ambiente minimamente controlado para que outros cheiros não interfiram na sua avaliação. 

Evite degustar, por exemplo, quando estiver cozinhando ou próximo de pessoas muito perfumadas. Vale cuidar até mesmo com o cheiro do sabonete que possa eventualmente estar na sua mão que segura a taça. 

Pessoalmente, me atrapalham também os ambientes muito barulhentos. Pode parecer estranho, mas o silêncio me ajuda a ter a concentração necessária para identificar (lembra do cérebro trabalhando a partir dos estímulos?) os aromas do vinho.

  1. Siga a lógica: do genérico para o específico

Os aromas presentes nos vinhos são organizados em algumas categorias. Para quem está começando, sugiro considerar três que incluem aromas muito comuns na rotina: frutas, flores e especiarias.

Quando cheirar o vinho, pense na seguinte sequência:

– “Estou sentindo aqui o aroma de alguma fruta?”
– “Qual a cor dessa fruta?”

Muitas vezes paramos por aqui mesmo e anotamos: “notas de frutas pretas”, por exemplo. Já é um bom começo. 

Se conseguir, vá adiante:
– “Sei que fruta preta é essa?”
– “Essa fruta parece estar jovem ou madura?”. 
– “Parece ser fresca ou cozida?”

E talvez você chegue em algo como “notas de ameixa em compota”. Nota 10 na análise olfativa. 

  1. Escolha um bom vinho

Duas das principais qualidades de um vinho são intensidade e complexidade aromáticas. E muitos vinhos considerados médios ou ruins não apresentam nenhuma das duas qualidades. Por isso, busque bons vinhos para degustar, ou será como procurar agulha no palheiro. 


Beatriz Cavenaghi é jornalista, doutora em Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e sommelière pela Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SC). @beacavenaghi no Instagram.

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