Pedestres e ciclistas são prioridades em Joinville. Está no papel.

A 6ª Conferência da Cidade de Joinville foi realizada no sábado, dia 12 de abril. Na ocasião, os participantes aprovaram 12 propostas. Aqui, neste espaço, vou me ater a algumas delas. “Fomento e priorização para os modais ativos: passeios, ciclovias e parques”.

A intenção é correta; mas sua implementação é pouco provável. Numa cidade plana, como Joinville, o que foi aprovado agora, em 2025, nunca foi implementado. A história de Joinville prova: a prioridade, desde os anos 1970, em diante, foi organizar a cidade para o tráfego dos veículos, em especial dos carros. E isso só tem se acentuado ao longo das décadas.

Atualmente, com mais de 450 mil veículos em circulação (a população de Joinville é de 650 mil habitantes), como inverter a lógica já em operação há tanto tempo? Ainda hoje, as ciclovias não se conectam no espaço urbano. E inexistem parques de lazer adequados na cidade.

Tomara que o Poder Público saia da letargia de décadas e construa, de fato, parques públicos amplos em variadas regiões do município. Do jeito que arquitetos e urbanistas aprendem nas universidades. Para tornar efetiva a priorização de ciclovias, passeios (calçadas) e parques, os administradores públicos precisam subverter a ordem das coisas de forma radical – e isso será improvável considerando os eixos de poder historicamente delineados no município.

Outra pergunta necessária: como viabilizar a integração de transporte público regional e intermunicipal – proposta aprovada pelo Conselho – e por quais modais isso poderia ocorrer? Estão previstos VLT e outros modais mais contemporâneos do que simples ônibus?

O assunto não é novo. Consta de conversas extraoficiais faz muitos anos. Sim. A cidade é dos motoristas de carros; não dos pedestres, e nem dos ciclistas.

No mais, as áreas de expansão urbana instituídas – e outras já pensadas; inclusive criação de novos bairros – terão de ter estruturas de serviços públicos para atender demandas de uma população crescente. Evidentemente, o surgimento de novos espaços urbanos, nos moldes de bairros, sugerem valorização imobiliária e aumento do preço da terra. A terra é instrumento decisivo no ordenamento territorial e está presente no processo de crescimento populacional versus especulação.


Na conferência, também foi aprovada proposta para “regulamentar parcerias público privadas (PPPs) para produção de habitações de interesse social em imóveis públicos, com produção por parte da iniciativa privada”. Isso é absolutamente fundamental porque o déficit habitacional está crescendo por conta da forte migração para Joinville, na esteira do crescimento dos negócios, a impulsionar o

interesse de forasteiros virem trabalhar e morar na cidade. Então, pela proposta, os empresários vão construir habitações populares em imóveis da prefeitura – e eles vão ganhar dinheiro, como é natural no capitalismo. A pergunta é: qual será a contrapartida a ser dada pelos construtores para o poder público a favor da
sociedade em geral?

Um outro ponto: os conselheiros aprovaram a “obrigatoriedade de execução de calçadas somente após a implantação de galerias de drenagem pelo poder público municipal”. Ótimo. Haverá menos buracos. E, portanto, os gestores públicos deverão ser ágeis na construção de galerias, sob pena de construção de calçadas com correto pavimento serem ignoradas pelos moradores.

Aí, pior para todos. Afinal, só para lembrar, a Conferência aprovou que ciclovias, passeios e parques são prioridades. Está na direção certa a concepção de se formatar “plano de educação e pesquisa voltado
para enfrentamento de emergência climática”, algo absolutamente relevante e que necessita de atenção plena.
Sim. Há um livro chamado “Cidades para as pessoas”. O autor é Jan Gehl. Custa só cem reais.

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