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27 de julho de 2024

A fúria da natureza, a alma do povo e o fantasma da antipolítica

Sem rodeios, vamos ao cerne da questão: a coluna de hoje, como todas as que escrevo neste espaço, é uma análise fria e imparcial da comunicação e da política. Deixemos as paixões de lado e mergulhemos na dura realidade do Rio Grande do Sul.

O povo em ação: Histórias inspiradoras brotam do solo gaúcho e ganham as redes sociais. Cidadãos comuns, movidos por um heroísmo nato, se unem para auxiliar seus semelhantes diante da devastação. Essa tragédia, sem dúvida, será objeto de diversos estudos, e já presenciei análises minuciosas sobre o posicionamento – ou a omissão – de nossos líderes. Mas um aspecto me intriga sobremaneira: a ascensão da narrativa antipolítica.

Em ano eleitoral, esse discurso encontra terreno fértil. A lentidão, a ineficiência e a burocracia do Estado sucumbem diante da força avassaladora da ação individual. Ecoando o célebre discurso de Gettysburg de Lincoln, podemos dizer: do povo, para o povo e pelo povo.

Mas cuidado com as entrelinhas: essa narrativa esconde uma mensagem perigosa: a de que a classe política é inerte e incapaz de solucionar problemas. Essa crença alimenta a falsa dicotomia entre povo e governo, sugerindo que a salvação do Rio Grande do Sul depende unicamente da iniciativa popular.

É verdade que a reconstrução do Estado exigirá um esforço conjunto. No entanto, negar o papel crucial das autoridades seria um erro colossal.

Será que esse antipoliticismo desenfreado contaminará as próximas eleições, especialmente no Sul do Brasil? Proponho uma reflexão: após eleitos, qual a diferença entre um político e um “antipolítico”? Sob o microscópio da realidade, as distinções se diluem. Os fatos, mais do que especulações, comprovam essa dinâmica.

Separar o povo dos governos é uma ilusão perigosa. Essa dicotomia cega-nos para o oportunismo que se avizinha, pronto para ser explorado por aqueles que se beneficiam da divisão. Não existe solução mágica: a salvação da política reside na própria política.

As narrativas exageradas, as generalizações e as polêmicas vazias que inundam a internet só servem para alimentar a discórdia e gerar memes. Elas desviam o foco do que realmente importa: como superar a crise que assola o Rio Grande do Sul, mobilizar esforços, salvar vidas e minimizar o sofrimento da população.

Eis o problema sem resposta definitiva: não há solução mágica que não leve em consideração as capacidades de cada um para contribuir. Paliativos existem, mas os governos precisam de mais do que adiar dívidas: precisam reconstruir um Estado devastado pela fúria da natureza. A antipolítica não tem respostas para essa crise, nem terá.

A solução virá de políticos, sejam eles novos ou experientes, profissionais ou amadores. As certezas são escassas, mas uma é inabalável: a antipolítica será um ingrediente ainda mais presente no cenário político.

Em meio ao caos, resta uma esperança: a alma indomável do povo gaúcho, capaz de se erguer da lama e reconstruir seu lar. Essa força, combinada com a responsabilidade e o compromisso dos líderes eleitos, será a chave para superarmos essa tragédia e construir um futuro melhor para o Rio Grande do Sul.

Lembre-se: a análise fria e imparcial é fundamental para navegarmos em tempos turbulentos. Somente através do diálogo franco e construtivo poderemos encontrar soluções duradouras para os desafios que nos afligem.

Os colunistas são responsáveis pelo conteúdo de suas publicações e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Upiara.

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