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27 de julho de 2024

Político habilidoso não faz inimigos

Quando se perde uma eleição (ou se ganha) por um número pequeno de votos, muitos podem ser os motivos que levaram a esse resultado. A eleição de 2002, em Santa Catarina, quando Luiz Henrique venceu Amin por pouco mais de 20 mil votos, tem vários desses fatos pitorescos.

Um deles ocorreu com o hoje deputado federal Ismael dos Santos, do PSD.

Ismael foi candidato a deputado estadual pelo PSB e foi o mais votado do estado, com 59.566 votos, mas não se elegeu porque o partido não alcançou o coeficiente eleitoral. Só para se ter uma ideia, o deputado eleito mais votado foi Nelson Goeten, do PP, com 56.327 votos.

Naquele ano o ex-governador do Rio de Janeiro, Antony Garotinho, disputou a presidência pelo PSB, com apoio dos evangélicos. Foi o terceiro mais votado em Santa Catarina, com mais de 370 mil votos.

Ismael, como é evangélico e filho de uma das mais tradicionais famílias assembleianas do Estado (seu pai, Nirton do Santos, já falecido, foi presidente das Assembleia de Deus em Santa Catarina e sudoeste do Paraná. Hoje o presidente é seu irmão, Nirtinho), se aproveitou da onda e fez uma grande votação.

Entre o primeiro e o segundo turno, ele falou com o então governador Esperidião Amin, que concorria à reeleição, e foi claro. Ofereceu seu apoio e consequentemente dos assembleianos em troca da Secretaria de Bem-estar Social.

Amin, liderando todas as pesquisas e favorito para vencer a eleição, teria lhe respondido que não lotearia seu Governo em troca de apoios. Ismael então foi no candidato do MDB, Luiz Henrique, que, obviamente, aceitou a proposta e selaram o acordo.

Ele era vereador de Blumenau. Foi eleito o mais votado em 2000, com 3.324 votos. E aí temos outra curiosidade. O hoje conservador Ismael foi eleito pelo PT. Luiz Henrique venceu a eleição e Ismael já estava preparando o terno para a posse como secretário de Estado do Bem-estar Social, quando um fato inusitado aconteceu

Embate

No final de 2002 teve uma disputa para a presidência da Câmara de Blumenau. Luiz Henrique pediu para Ismael votar em determinado vereador e ele não fez, por já ter empenhado sua palavra com outro candidato. Brigaram feio e Ismael acabou não sendo nomeado secretário de Bem-estar Social. O escolhido foi outro assembleiano: Evaldino Leite, que concorrera ao Senado, na coligação de Garotinho, fazendo pouco mais de 90 mil votos.

Em 2004, já no PL, Ismael disputou a Prefeitura de Blumenau e ficou em terceiro lugar com apenas 12% dos votos. Sem mandato, aproximou-se de Raimundo Colombo, que se preparava para disputar o Senado em 2006, e passou a percorrer o estado, como seu motorista e assistente.

Como políticos vitoriosos não fazem inimigos, em 2006 Luiz Henrique teve a oportunidade de se redimir com Ismael dos Santos. Ele disputou uma vaga na Alesc, na coligação MDB/PFL, ficando na sétima suplência. Essa coligação elegeu 17 deputados e ele foi o 24º, com 25.938 votos.

Luiz Henrique foi reeleito e tratou de arrumar espaços para os suplentes. Chamou alguns deputados e outros suplentes para ocupar secretarias e colocou Ismael na Assembleia Legislativa. O desentendimento de 2002 estava suplantado e dali em diante a carreira do deputado decolou. Foi reeleito em 2010, 2014 e 2018, sempre com boas votações, e em 2022 elegeu-se deputado federal.

O desentendimento com Esperidião Amin, lá em 2002, também ficou no passado. Estiveram na mesma coligação em 2018 e mais: a segunda suplente do senador é a esposa de Ismael, Denise dos Santos, nome cotado para ser candidata a vice-prefeita de Blumenau.

Essa história é a prova que político habilidoso não faz inimigos.


Ilustração: Galvão Bertazzi desenha o bom clima entre Ismael, LHS e Amin.

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