Ainda na terça-feira, resumi a situação das negociações entre o MDB e o governador Jorginho Mello (PL) para o ingresso do partido no secretariado: Jorginho fez uma proposta para os emedebistas dizerem “não”, mas eles estavam tentando uma forma de dizer “sim”.
Conseguiram.
Há semanas, o MDB tentava convencer o governador a oferecer mais uma secretaria para confirmar a adesão oficial da legenda à base aliada. Irredutível, Jorginho mantinha a proposta original de ofertar apenas o comando da Secretaria de Infraestrutura. Apenas o comando mesmo, porque o governador já nomeou três nomes de sua plena confiança para postos estratégicos da pasta: Ricardo Grando, hoje secretário interino, será o adjunto; Vissilar Pretto, ex-DNIT-SC, é o superintendente de Infraestrura; Ronaldo Carioni, também ex-DNIT-SC, é o superintendente de Obras Civis e Hidráulicas.
Em outros tempos, o MDB consideraria tratar-se de uma proposta indecente. Com a bancada reduzida para seis integrantes na Assembleia Legislativa, sem projeto claro para 2026 e ainda assustado com a segunda Onda Bolsonaro nas eleições do ano passado em Santa Catarina, o maior partido do Estado acabou dizendo “sim”. Restam detalhes – o partido quer saber o que mais será perdido com a criação de uma pasta específica para cuidar de portos, aeroportos e ferrovias -, mas o destino está selado. O deputado estadual Jerry Comper (MDB) será o secretário.
Um dos principais apoiadores do ex-governador Carlos Moisés (Republicanos) dentro do MDB na legislatura passada, Jerry mostra a vocação governista. Fez uma forte movimentação para assumir o cargo, articulando na bancada estadual e também com seus apoiadores no Alto Vale. O novo secretário e o partido avaliaram que a falta de autonomia plena no comando da Infraestrutura pode ser compensada pela visibilidade que uma pasta obreira pode garantir. Jorginho garantiu ao MDB que não vai fazer dinheiro. Além da conclusão de obras iniciadas ou prometidas na gestão Moisés, também foi colocada na mesa a intenção do governador – confirmada em evento da Facisc na última quinta-feira – de buscar junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) um grande financiamento para recuperação das rodovias estaduais.
Uma Secretaria de Infraestrutura capitaliza é garantia de voto e influência em nível estadual. Pilotando a promessa de pavimentar todos os acessos de municípios, uma década atrás, Mauro Mariani (MDB) pulou de deputado estadual para deputado federal mais votado do Estado e potencial candidato a governador. Depois dele, nunca mais um secretário da pasta conseguiu um salto tão evidente. Não tiveram a mesma autonomia e nem a visibilidade. Para Jerry e o MDB, Jorginho garantiu a visibilidade.
Pelo menos por enquanto, bastou.
A indicação de Jerry para a pasta também ajuda na geografia interna do MDB. Assume a vaga de deputado estadual o primeiro suplente, Emerson Stein, que renunciou à prefeitura de Porto Belo para concorrer. É um nome alinhado ao deputado federal Carlos Chiodini, presidente do MDB-SC, e ao deputado estadual Antídio Lunelli, fortalecendo o grupo de Jaraguá do Sul na bancada estadual.
Sobre a foto em destaque:
Jerry Comper pediu e será secretário de Infraestrutura do governo Jorginho Mello. Foto: Rodolfo Espínola, Agência Alesc.