O peso eleitoral da popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Santa Catarina muitas vezes faz com que qualquer palavra que ele diga em um evento, um cercadinho ou uma conversa fortuita gravada inadvertidamente ganhe por aqui status de tábuas da lei. A última foi esse áudio publicado pelo Estadão em que Bolsonaro diz: “Deixo claro: PSD do Kassab eu não apoio ninguém, tá ok?”
A reportagem, que além do áudio buscou fontes bolsonaristas em off, ganhou impressionante repercussão em Santa Catarina – onde PL e PSD são os dois partidos que melhor tem se posicionado no tabuleiro pré-eleitoral de 2024, gerando a sensação de um possível confronto na disputa estadual de 2026. Hoje, os dois partidos já se movem como antagonistas em boa parte dos principais centros eleitorais do Estado – Joinville, Blumenau, Itajaí, São José, Palhoça, Lages, Rio do Sul, entre outras.
Mesmo assim, a mensagem se alastrou como um “delenda PSD”, ao modo do romano Júlio Cesar quando determinou que Cartago precisava ser destruída. É um claro exagero, com pitadas de estratégia.
Primeiro porque quem costuma levar a ferro e fogo o que diz Bolsonaro costuma dar com os burros n’água. A lembrança do que foi dito no cercadinho do Planalto e comícios da Avenida Paulista ecoa bravatas que ficaram no ar, mesmo que gravadas.
Segundo que a animosidade parece ter alvo claro: a posição dúbia do presidente nacional da legenda, Gilberto Kassab, em São Paulo. Secretário de governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) e fiador da composição que deu ao PSD três ministérios no governo Lula (PT), ele comandou um impressionante maratona de filiações de que fez da legenda a que mais têm prefeituras no Estado de São Paulo (trabalhando especialmente nos escombros do PSDB).
Daí a achar que Bolsonaro está preocupado se o PL vai ser vice do prefeito Topázio Neto (PSD) em Florianópolis, é puro exagero ou/e malangragem política. Aliás, Jair Renan Bolsonaro, o filho 04, estava no camarote da prefeitura no desfile das escolas de samba na Passarela Nego Quirido circulando entre pessedistas.
O exagero na propagação da fala de Bolsonaro atende àqueles que não querem a aproximação dos dois partidos na Capital, basicamente hoje o único centro político do Estado em que essa coligação apresenta viabilidade. Há nomes de um lado e outro operando contra essa aliança e eles ganharam um argumento com o áudio vazado em Presidente Prudente.
No programa Cabeça de Político, perguntei a Jorginho se o PL estaria com Topázio em Florianópolis e ele se derretou em elogios ao prefeito, embora tenha dito que não está descartada uma candidatura própria do partido.
- Ele tem se mostrado um prefeito dedicado. Assumiu a titularidade e está dando conta do recado. Essa é a visão que eu tenho. A coisa está muito boa na conversa para que o PL seja vice dele. Agora, daqui a pouquinho o PL pode ter candidato a prefeito e isso é natural.
A entrevista foi gravada antes da divulgação da fala de Bolsonaro e das especulações de que o ex-deputado estadual Bruno Souza, que deixou o nome, pode ser o tal pré-candidato do PL que será anunciado nesta sexta-feira.
É um jogo bom para o PL catarinense e para Bruno Souza. Um ganha um pré-candidato com alguma notoriedade eleitoral e mostra a Topázio que não é refém da aliança. O outro sobe de patamar no jogo.
Mas, que fique claro, esse jogo não tem nada a ver com Bolsonaro e suas falas. É o mesmo pano de fundo que tem oposto PSD e PL em todas aquelas cidades catarinenses que citei.
Veja o trecho completo da fala de Jorginho no Cabeça de Político:
Foto – Na motociata de Chapecó em junho de 2021, Bolsonaro colocou o PSD (João Rodrigues) e o PL (Jorginho) no mesmo palanque. Crédito: Alan Santos, Presidência da República.