Por Elson Manoel Pereira
A nossa perspectiva sobre a questão ambiental enfatiza a necessidade de uma abordagem holística que considere não apenas a preservação do meio ambiente, mas também a justiça social e a equidade.
Nas últimas décadas, o debate ambiental ganhou destaque devido aos impactos devastadores das atividades humanas sobre o planeta, especialmente em áreas costeiras, que são particularmente vulneráveis à degradação ambiental.
Florianópolis, estando localizada predominantemente numa ilha com um ecossistema natural frágil, deveria ter esse debate no centro de suas preocupações.
No entanto, parece que as últimas administrações municipais têm falhado em abordar adequadamente os desafios ambientais que a cidade enfrenta. Isso reflete uma abordagem negligente e orientada para o lucro rápido, no lugar de uma preocupação genuína com a proteção do meio ambiente e o bem-estar das comunidades locais.
Por outro lado, as desigualdades sociais estão intrinsecamente ligadas às questões ambientais. Populações de baixa renda e minorias étnicas geralmente sofrem de forma desproporcional os impactos negativos da degradação ambiental, incluindo desastres socioambientais em áreas costeiras. Portanto, negligenciar a proteção ambiental em Florianópolis pode agravar ainda mais as disparidades sociais já existentes na cidade.
Julgamos que seja necessária uma transformação estrutural que aborde as causas profundas da degradação ambiental e promova uma economia mais justa e sustentável, baseada na equidade, na solidariedade e no respeito aos limites do território.
O conceito de “não retorno” em ecologia se refere a um ponto crítico além do qual as mudanças no meio ambiente se tornam irreversíveis ou extremamente difíceis de reverter. É o ponto em que os danos causados a um ecossistema são tão profundos que mesmo se as causas subjacentes forem corrigidas, o ecossistema não pode se recuperar completamente para seu estado original.
Esse conceito está intimamente ligado a fenômenos como a perda de biodiversidade, a degradação dos solos, o colapso de ecossistemas e as mudanças climáticas.
Quando um ecossistema atinge um ponto de não retorno, pode ocorrer uma série de consequências negativas, incluindo a extinção de espécies, a diminuição da qualidade da água e do ar, a perda de serviços ecossistêmicos vitais para os seres humanos, como polinização de culturas e regulação do clima, entre outros.
O que temos visto no território municipal de Florianópolis é uma agressão tão severa ao seu sítio natural e construído, que julgamos, sem sermos alarmistas, que estamos muito próximos do ponto do não retorno: a cidade está autorizada por seu plano diretor, recentemente “atualizado”, a construir cada vez mais e não apenas em áreas próprias para a urbanização como também em áreas muito frágeis do ponto de vista ambiental.
Portanto, diante de uma eleição que se aproxima, cabe à sociedade se posicionar sobre como quer ser governada em termos de ocupação de seu território. É fundamental que a próxima administração municipal de Florianópolis adote políticas ambientais progressistas, que priorizem a proteção do meio ambiente e o bem-estar das comunidades locais, em vez de favorecer interesses corporativos e econômicos de curto prazo.
Isso inclui medidas como a ocupação limitada do solo urbano, a promoção de energias renováveis, a preservação de áreas naturais, incluindo suas praias e lagoas, o desenvolvimento de um sistema de mobilidade que priorize o transporte coletivo e não poluente e a implementação de políticas de justiça ambiental que garantam que todos os cidadãos tenham acesso a um ambiente saudável e seguro, para nossa e futuras gerações.
Elson Manoel Pereira (PSOL) é doutor em Urbanismo, professor da UFSC e foi candidato a prefeito de Florianópolis por três vezes.