A dança dos neurônios: o impacto do transtorno bipolar na epidemia de suicídios 

Transtorno bipolar aumenta nas américas

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio, o que representa uma a cada 100 mortes registradas.

Enquanto as taxas globais vêm diminuindo, os números das Américas só aumentam. Só para se ter uma ideia, mundialmente a taxa de suicídio diminuiu 36% entre 2000 e 2019, segundo dados da OMS. Já nas Américas, houve um aumento de 17% no mesmo período.

Entre os jovens, dos quais me incluo, a taxa é ainda maior entre os 15 e 29 anos. Nesta faixa, o suicídio é a quarta maior causa de morte, ficando atrás apenas dos acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.

De acordo com dados da ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar) entre 30 e 50% dos brasileiros com transtorno bipolar que já tentaram suicídio, 20% conseguiram.

De acordo com o DSM.IV e o CID-10, que são manuais internacionais de classificação diagnóstica, o transtorno bipolar pode ser classificado da seguinte forma: 

Transtorno bipolar: Tipo I

O indivíduo apresenta períodos de mania, que duram, pelo menos, sete dias, acompanhado de sintomas depressivos, que se estendem por duas semanas ou mais. Tanto na mania quanto na depressão, os sintomas são intensos e provocam grandes mudanças comportamentais e de conduta, podendo interferir em diversas áreas da vida.

Transtorno bipolar: Tipo II

Há alternância entre os episódios de depressão e de hipomania. 

Transtorno ciclotímico 

É o quadro mais leve do transtorno bipolar, marcado por oscilações crônicas do humor, que podem ocorrer até no mesmo dia. O paciente alterna sintomas de hipomania e de depressão leve o que, muitas vezes, pode ser interpretado como o próprio temperamento do indivíduo. 

Transtorno bipolar não especificado 

Pode surgir como consequência de outras doenças ou induzido pelo uso de substâncias. 

Por dentro da mente de uma bipolar

Passadas as apresentações, regras e tipificações, é preciso entender que o transtorno bipolar, a depressão e quaisquer outras doenças de sofrimento psíquico são consistidas no todo. 

O que isso significa? Que não há apenas uma “caixa” para enquadrá-los.

As doenças passam também pela falta de acesso à educação, má alimentação, desestrutura familiar, uso de álcool e drogas, por exemplo.

Quando descobri o transtorno bipolar era uma tarde comum, mas não tão comum assim.

Acostumada a treinar crossfit, aquele dia foram dois treinos em um dia e uma energia surreal, daquelas que não conseguiria descrever nem para um amigo muito próximo. E era ela, a mania.

As mãos trêmulas e suando frio. A boca dormente e seca. Uma ligação e um pedido: venha ao meu consultório. Agora. 

Ao chegar no consultório do médico tudo parece 10 vezes mais intenso, mais turvo, mais difícil. E veio ele: o diagnóstico.

Passei pelas três fases concretas do luto. Luto por quem eu era e tinha medo de nunca mais ser. Enquanto o médico falava tudo ficava silencioso ao redor, para gritar por dentro.

“Por enquanto, vamos te afastar do trabalho. Você entende o que estou te explicando”?

Eu não entendia, mas fingia que sim. No lado de fora, uma amiga psicóloga. Eu não sabia como descrever nada. Afastada, por 30 dias.

O que eu faria com tamanho afastamento? O que faria em casa?

Cheguei em casa e o choro era muito forte. Não sabia descrever. Sem apoio, com medo do futuro e só. 

Em meio ao diagnóstico, uma separação. O piso gelado da cozinha parecia quente.

A gente vai se levantar, eu dizia a mim mesma. Em uma semana, 2 quilos foram adquiridos.

Eu segui deitada no chão da cozinha, por dias. Arrastada até o banheiro tomava os remédios e não entendia o que acontecia, mas -claro- como toda bipolar em mania, os olhos escondem a nossa euforia por dentro.

Conforme o dia avança, sinto uma mudança sutil. O desespero começa a dar lugar a uma irritabilidade crescente. Pequenas coisas que normalmente passariam despercebidas agora me incomodam profundamente. Minha mente está em um turbilhão, uma tempestade de pensamentos contraditórios e confusos.

Tento me concentrar, mas é difícil manter qualquer linha de raciocínio por muito tempo. A ansiedade cresce, tornando-me inquieta e impaciente.

De repente, sem aviso, uma onda de euforia toma conta de mim. É como se o mundo tivesse ficado mais brilhante e cheio de possibilidades. Sinto-me invencível, capaz de conquistar qualquer coisa. As ideias fluem rapidamente, uma enxurrada de inspirações e planos grandiosos. Minha fala acelera, mal consigo acompanhar o ritmo dos meus próprios pensamentos.

A necessidade de dormir desaparece; quem precisa de descanso quando há tanto a fazer? A energia é infinita, e a autoconfiança, inabalável.

Ligo para ele, o agora meu melhor amigo e a pessoa com quem mais converso: meu médico.

O primeiro dia de um remédio para dormir é tiro e queda. Tomou, dormiu. Eu me levanto no outro dia: a tristeza.

A dor oscila em minha mente com momentos de euforia, e vou, há 10 meses, aprendendo a dançar a música da minha superprodução de neurônios. 

Desta forma, entendo que a reflexão sobre transtornos mentais como o bipolar revela não apenas a complexidade dessas condições, mas também a urgência de uma abordagem mais empática e informada.

Enquanto enfrentamos desafios significativos na compreensão e tratamento dessas doenças, é crucial promover um diálogo aberto e acessível, oferecendo suporte adequado e recursos necessários para aqueles que vivenciam essas experiências. 

E digo mais, é preciso acolher quem convive com quem convive com qualquer transtorno mental. A falta de informação aumenta a epidemia de suicídio. 

A educação contínua e a conscientização são passos essenciais na construção de uma sociedade mais solidária e preparada para lidar com questões de saúde mental.

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