Cinco livros para conhecer, entender e refletir sobre a 2ª Guerra – o maior acontecimento da nossa história

A Coluna Literária de Carlos Stegemann aborda livros que ajudam a entender a 2ª Guerra, incluindo o best seller O Diário de Anne Frank

A 2ª Guerra Mundial foi o maior e mais impactante acontecimento da humanidade – é o que dizem os milhares de especialistas que se debruçam sobre os seus seis anos de história. Deixou entre 70 milhões e 85 milhões de mortos (dos quais 50 milhões eram civis) em quatro continentes; transformou radicalmente as relações geopolíticas do planeta; introduziu ou disseminou inovações que vão da energia nuclear à penicilina e mostrou os horrores do extermínio em massa de seres humanos – o Holocausto – de iniciativa de um governo de extrema-direita.

Também por isso, é o período mais estudado por cientistas sociais e políticos, historiadores e jornalistas.

Em 2025, serão celebrados os 80 anos do fim da 2ª Guerra, vencida pelos Aliados, que, apesar das muitas atrocidades cometidas no decorrer dos acontecimentos, representavam as forças civilizatórias. Certamente serão lançados muitos livros, contudo já existe uma vasta e preciosa lista de títulos, de diversos gêneros, para conhecer e sobretudo entender aquele que, assim se espera, tenha sido o último conflito bélico global.

Conhecer a história

Se a ideia é saber de história sem cair na sucessão cronológica dos grandes fatos, a referência é o britânico Max Hastings, um ex-jornalista, que produziu a melhor obra sobre a 2ª Guerra em um só volume. Inferno, o mundo em guerra (2011 – Intrínseca) é um relato construído a partir de cartas, diários e memórias de soldados e oficiais do front de batalhas, notícias de jornais e depoimentos de pessoas comuns. Elegante, envolvente e dramático, fruto de 35 anos de pesquisas. Com o bônus de 48 páginas de mapas e imagens, muitas delas inéditas quando do lançamento da obra.

Nesse perfil, Fumaça Humana, de Nicholson Baker (Cia das Letras – 2008), é ainda mais interessante, por ser exclusivamente produzido com clippings de jornais, notícias de rádios, telegramas, fragmentos de discursos e outras fontes públicas dos anos que precederam a 2ª Guerra. Seu maior mérito é desconstruir verdades sedimentadas.

Cinco livros para entender e refletir sobre a 2ª Guerra.

A 2ª Guerra em romances

No entanto, os romances históricos também trazem grandes verdades, embaladas pela literatura. A morte é meu ofício, do argelino Robert Merle (Vestígio, 1972), resgata a vida de Rudolf Lang, codinome de Rudolf Hoess, o alemão que comandou o campo de concentração Auschwitz, na Polônia. Mais do que isso, foi quem elaborou a engenharia da máquina de matar judeus e outros desafetos do regime de Hitler. Houve quem concebesse, quem projetasse, mas Lang foi um dos que fez e mais fez…

À época ainda jovem, o francês Laurent Binet escreveu HHhH (Cia das Letras – 2009), sigla que significa “Himmlers Hirn heisst Heydrich” (O cérebro de Himmler se chama Heydrich). Conhecido pelo nada lisonjeiro epíteto de “O carrasco de Hitler”, Heydrich era o comandante das forças de ocupação nazistas na Boêmia-Morávia, a atual República Tcheca, quando foi assassinado por rebeldes. Binet faz de sua experiência de investigação dos fatos e da produção do livro uma narrativa tão incandescente quanto afetiva. Recebeu o ‘Prêmio Goncourt’ de romances de estreias, na França.

Para concluir, a formidável obra Zona de interesse, de Martin Amis (Cia das Letras – 2014), que deu origem ao filme, disponível na Prime Video (Amazon). Com a pouco comum tripla narrativa, o romance é uma visão realista do cotidiano dos oficiais nazistas em Auschwitz, capaz de misturar o humor e o amor à tragédia. É a banalização do mal, conforme sentenciou a filósofa Hannah Arendt. E que mostra, sem deixar quaisquer dúvidas, que foram pessoas comuns as responsáveis por tamanha dor.

Não podemos esquecer Anne Frank

A sugestiva arte de Luciano Martins nos remete ao best-seller Diário de Anne Frank (1947), com os relatos da adolescente que se refugiou com os familiares judeus no ‘Anexo Secreto’, por cerca de dois anos, escondendo-se da perseguição de nazistas nos Países Baixos, até serem descobertos e enviados a campos de concentração.

A narrativa, tão dolorosa quanto repleta de esperança, comoveu o mundo pós-guerra e se tornou um dos 100 livros mais impactantes do século 20 e patrimônio da humanidade. Annelies Marie Frank foi reconhecida como uma das personalidades mais importantes do planeta, pelo teor das denúncias da obra, traduzida em 70 idiomas e cerca de 40 milhões de exemplares vendidos.


Arte em destaque: Luciano Martins.

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