A invisibilidade da mãe solo em São José. Por Ângela Oliveira

Ângela Oliveira escreve artigo em que discute a falta de apoio público às mães solo em São José, destacando a necessidade de políticas efetivas de acolhimento, combate à violência e suporte emocional, além de infraestrutura como escolas em tempo integral. O autor apela ao eleitorado para votar por mudanças que atendam essas demandas.

Quando se fala de políticas voltadas aos direitos mulher, é imprescindível um olhar especial e afetivo às mães solo. Com pouco mais de um mês até as eleições que definirão o rumo que São José tomará nos próximos anos, quase nada foi debatido a respeito das mulheres que se desdobram para cuidar da família, fazendo o papel de mãe e pai ao mesmo tempo, enquanto enfrentam o dia a dia do trabalho, a violência, e a ausência de amparo do poder público.

Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, desde 2016, 50 mil bebês nasceram para ser criados exclusivamente pelas mães. Em uma das caminhadas desta campanha, tive contato com um caso emblemático da realidade de uma delas.

Essa mãe, que terá a identidade preservada, foi expulsa de casa junto aos filhos pelo ex-marido e pai das crianças – tendo, inclusive, medida protetiva contra ele. Foi parar na rua com os filhos e, hoje, depende do bom coração da população josefense para ter um teto para viver.

Isso porque a FGA, ONG contratada pela Prefeitura, que funciona como casa de acolhimento a mulheres vítimas de violência, não tem mais vagas disponíveis. Como se não fosse o bastante, também foi separada dos filhos pela Assistência Social do município, uma vez que, em decorrência da depressão causada pela violência doméstica, essa mãe precisa de atendimento psicológico não ofertado pelo poder público.

É apenas um caso entre tantas outras mulheres invisíveis que habitam nossa cidade – e que precisam do nosso abraço. Dados do Observatório da Violência Contra a Mulher mostram que apenas entre janeiro e julho deste ano, 17.917 medidas protetivas foram requeridas e 32 mulheres foram mortas por feminicídio em Santa Catarina.

E quando não há amparo, essa violência continua: um abrigo, uma casa de acolhimento, um serviço de polícia preparado e especializado. Um serviço de atendimento emergencial voltado à saúde mental, tudo isso serve como pilar da cidadania para quem precisa.

Mais do que isso: é uma batalha interseccional, uma vez que uma escola em tempo integral também resolveria o problema de mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Assim, acabam dependendo de uma grande rede de apoio para dar conta da rotina.

Quem não tem essa rede de apoio, como fica? O poder público não pensou nisso durante, pelo menos, 12 anos.

É dever do município aplicar soluções que já se provaram corretas em diversos outros Estados, cidades, países. E que depende agora do voto do josefense para funcionar, também, em São José.


Ângela Oliveira é bacharel em Direito, mãe solo e candidata a vereadora de São José pelo Podemos.

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