Vamos fazer de um pequeno monte uma montanha: Influência, Coringa e as redes.

Neste final de semana, fui ao cinema assistir a “Joker: Folie à Deux”. Durante o filme, a personagem Lee, interpretada por Lady Gaga, fala em um momento que, de um pequeno monte, ela faria uma montanha. A coluna de hoje não é sobre cinema, mas essa frase resume bem o que quero discutir.

No ano passado, escrevi sobre o fenômeno “Barbieheimer”, onde argumentei que o simples fato de pessoas irem ao cinema influenciava outras a fazer o mesmo — pipoca na mão e tela grande como o plano de sábado à noite. Antes que perguntem, Coringa é um espetáculo técnico. A direção de arte, a fotografia e as atuações são incríveis. Seria perfeito, se não fosse pela quebra de expectativa em relação ao primeiro filme. Mas vamos deixar isso de lado por um instante.

O icônico vilão de Batman, interpretado novamente por Joaquin Phoenix, agora ao lado de Lady Gaga, deveria gerar uma expectativa enorme, especialmente após o sucesso estrondoso do primeiro filme. No entanto, Coringa 2 está se revelando um grande fracasso. E esse fracasso tem pouco a ver com a qualidade técnica do filme. Ele tem mais a ver com os mesmos ingredientes que fizeram de Barbie e Oppenheimer sucessos: a gestão do buzz e da repercussão nas redes.

Pense bem: quantos de nós soubemos do lançamento do filme através de um anúncio oficial e quantos souberam pelas conversas ou publicações de amigos? Nos filmes mencionados, é provável que muitos tenham sido impactados pela reação dos outros, e essa informação veio acompanhada de uma “prova social”, positiva ou negativa. No caso de Joker 2, eu fiquei sabendo de sua estreia por meio de um story de um amigo detonando o filme. E quando mencionei no grupo da família que iria assistir, meu irmão logo me desencorajou, dizendo que “destruíram o filme”. Detalhe: ele sequer o assistiu.

A influência das redes sociais, direta ou indireta, tem esse poder de transformar um pequeno monte em uma montanha — para o bem ou para o mal. Isso vale para notícias, filmes e, claro, para política. O sucesso, hoje em dia, não está mais baseado apenas na qualidade do produto, mas na capacidade de gerir essa percepção inicial, de transformar pequenos montes em grandes montanhas ou, no caso de Coringa 2, de impedir que a montanha desmorone.

As redes sociais influenciam o comportamento, e o comportamento, por sua vez, retroalimenta as redes. Falando em números, Coringa 2 gerou apenas 1/12 do buzz comparado ao primeiro Coringa. E dentro desse volume, quase 90% das notícias sobre o filme são negativas. Se compararmos com Barbie, a situação é ainda mais gritante: Joker 2 gerou apenas 1/20 do buzz nas redes sociais.

Off topic: Se você é um amante de cinema, fotografia e aprecia os aspectos técnicos, ainda vale a pena conferir Joker: Folie à Deux nos cinemas. Mesmo com as críticas, visualmente o filme é espetacular.

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