Estamos nos apaixonando pelos vinhos portugueses?

Se você costuma frequentar adegas de supermercados, certamente notou um grande crescimento, nos últimos anos, do espaço destinado aos vinhos lusitanos. Ao que parece, o paladar (e o coração) dos brasileiros está cada vez mais aberto para os rótulos de Portugal.

Mas ao contrário do que se possa pensar, o crescimento na oferta não é, nem de longe, reflexo do volume de produção. Para se ter uma ideia, tanto França quanto Itália, líderes mundiais quando o assunto é vinho, têm produção pelo menos seis vezes maior do que Portugal. Chile, Argentina e até a África do Sul também produzem mais, deixando o país no décimo lugar do ranking de produtores mundiais.

Mas então, por que vemos cada vez mais opções de rótulos portugueses por aqui?

Para Maria José Andrade, gerente de marketing do Grupo Casa Relvas – que reúne marcas do Alentejo com uma produção de 6 milhões de garrafas por ano – o mercado brasileiro ganhou destaque há cerca de quatro anos (após a pandemia) e ainda tem muito potencial de crescimento. “Temos a facilidade da língua, além de um intercâmbio cultural forte diante da quantidade de brasileiros que vivem em Portugal ou visitam o país todos os anos”, explica. Hoje o Brasil é o terceiro maior consumidor da Casa Relvas, num portfólio de clientes que inclui mais de 30 países.

Conversei com Maria José durante a Prowine 2024, o maior evento de vinhos da América Latina, realizado todos os anos em São Paulo. Ali também ficou evidente o desejo dos produtores lusitanos de dominar o mercado brasileiro. Era impossível não notar centenas de vinicultores locais expondo seus rótulos em áreas enormes da feira destinadas exclusivamente para cada região produtora de Portugal.

Independente dos esforços empreendidos por eles no nosso mercado, o fato é que não nos faltam motivos para apreciar e ficar de olho nos vinhos portugueses

O país tem 14 regiões produtoras, que cobrem praticamente todo o território nacional com os mais diferentes estilos de produção. Têm destaque as regiões do Vinho Verde, Douro (de onde vem também o vinho do Porto) e Dão, além de Lisboa e Alentejo, duas regiões já bem conhecidas pelos consumidores brasileiros.

Cada região produz estilos absolutamente diferentes entre si, mas sem deixar de lado a fidelidade às chamadas “castas autóctones”. Salvo exceções, os portugueses não cultivam Chardonnay ou Cabernet Sauvignon. O que você vai encontrar na maioria dos rótulos são blends (misturas de diferentes uvas) de espécies nativas como as tintas Touriga Nacional – a estrela do país – Trincadeira, Baga e Castelão, ou brancas como Alvarinho, Fernão Pires, Arinto, Azal, Loureiro e Encruzado.

Os blends, aliás, são outro grande trunfo de Portugal. Se uma uva não atinge determinado grau de acidez, por exemplo, eles compensam facilmente adicionando outra uva mais ácida ao blend e, com isso, chegam a resultados muito satisfatórios no que diz respeito ao equilíbrio esperado de um bom vinho. É muito comum que as garrafas do país tragam três, quatro ou até cinco tipos diferentes de uvas. Para os vinicultores locais, os varietais (vinho de uma única uva) são as exceções.

Os nomes de uvas pouco conhecidas, nem sempre em destaque nos rótulos, podem ser um desafio para o consumidor iniciante. Mas até nisso os portugueses já estão trabalhando. Em degustações recentes temos visto muitos exemplos de produtores que já atualizaram seus rótulos e contra-rótulos (como nas imagens abaixo) para torná-los mais didáticos e acessíveis aos novos consumidores.

Por tudo isso, especialistas costumam concordar que um vinho de Portugal é uma das melhores opções para quem ainda não tem muitos parâmetros para escolher – como acontece com frequência com o consumidor médio no supermercado. Trocando em miúdos – e considerando que para toda regra há exceções – é difícil não ficar satisfeito com a relação custo/benefício quando se trata dos lusitanos.

E falando em custo, um dos grandes desafios para os produtores atualmente é aumentar a percepção de valor dos rótulos no mercado brasileiro. “Uma garrafa que vendemos em nosso país por 5 euros, aqui no Brasil passa a custar 15 euros. Por isso é difícil trazer nossos vinhos de maior valor. Mas queremos apresentar rótulos de preço médio mais alto, apresentar nossa diversidade e marcas locais além daquelas tradicionalmente consumidas aqui”, disse Maria José Andrade.

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