Novas perspectivas no diálogo entre o ambiente acadêmico e a Arte DEF. Por Nathielle Wougles

Nathielle Wougles escreve sobre a valorização da Cultura DEF no meio acadêmico – Em seu artigo, ela destaca a importância da produção intelectual e artística de pessoas com deficiência.

Nathielle Wougles destaca a importância da Cultura DEF e da acessibilidade no meio acadêmico, promovendo a valorização da produção intelectual e artística de pessoas com deficiência. Foto: Arquivo Pessoal

Programa do Instituto IMPAR, de Joinville, vai a faculdades e universidades e multiplica os saberes acerca da acessibilidade cultural e das novas linguagens nas artes da cena

Historicamente, o ambiente acadêmico é composto de pessoas sem deficiência, isso porque nunca houve barreiras que limitem sua participação plena na sociedade, desde obstáculos físicos até preconceitos sociais enraizados. Sou uma pessoa DEF, e posso dizer que tive a primeira experiência de encontrar um par que dividia as mesmas experiências enquanto pessoa com deficiência ao ingressar no Mestrado, após os 30 anos. Uso esse termo contemporâneo, “DEF”, criado pela artista e pesquisadora Carolina Teixeira, que vai muito além da abreviação da palavra deficiência: é uma denominação que nos fortalece identitária, cultural e politicamente.

Nos últimos anos, diante do avanço de políticas públicas de acessibilidade e da conscientização dos direitos das pessoas com deficiência, a produção intelectual e acadêmica feita por pessoas DEFs enriqueceu as referências bibliográficas de muitas instituições de ensino superior pelo país.

Entende-se a importância de ler e estudar esses autores e autoras para descolonizar nossos saberes, reconhecendo a Cultura DEF como agregadora de conhecimento. A Cultura DEF é a cultura que nós, pessoas com deficiência, artistas e agentes culturais, reconhecemos que estamos produzindo ao atuar juntos.

Entendemos que nossos corpos produzem intensidades, saberes, metodologias, estéticas, formas de comunicação. Tudo isso se constrói numa cultura que só pode existir justamente pelos corpos que nós somos, corpos DEFs.

Levar os princípios do Programa de Formação Cultural Arte para Todos por meio do Diálogos Arte para Todos, que está sendo lançado pelo Instituto IMPAR, de Joinville, em faculdades e universidades catarinenses, é valorizar a Cultura DEF e multiplicar os saberes acerca da acessibilidade cultural e das novas linguagens nas artes da cena. Tão importante quanto isso, é promover uma reflexão mais aprofundada sobre modelo biopsicossocial, que tenta integrar os aspectos médicos e sociais, reconhecendo a complexidade das experiências individuais de deficiência, buscando subverter as narrativas já ultrapassadas sobre as pessoas DEF e suas vivências.

Também por isso, a criação de um banco de dados de pesquisa dentro do site do Instituto IMPAR, outra boa notícia anunciada neste final de março, vai facilitar a busca por material bibliográfico e documental para acadêmicos, professores e demais pesquisadores nas áreas da arte, saúde e educação. Essas áreas se entrelaçam nas discussões que o Arte para Todos propõe, pois entendemos que a prática artística emancipadora produz impactos nos demais aspectos do viver.

Meu convite é que você leia, assista, estude, se interesse pela produção artística e intelectual de artistas DEF. Deixo aqui algumas sugestões, além do Arte para Todos: Estela Lapponi, Edu O., Isadora Ifanger, Giovanni Venturinni, João Paulo Lima, Emeli Barossi, Ana do Vale e Céu Vasconcelos.

A ampliação do olhar e o contato com outras estéticas nos colocam de frente com o outro e com o tesouro de sermos tão diversos. Dessa forma, contribuímos para a construção de uma sociedade mais equitativa, disposta e interessada na potência dos seres humanos.


Nathielle Wougles é artista DEF, terapeuta ocupacional, pesquisadora e professora de teatro do Programa de Formação Cultural Arte para Todos. Integrante do Instituto IMPAR desde 2013

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