Um grupo de médicos liderado pela pesquisadora S. Raposeiras-Roubin publicou um estudo importante no New England Journal of Medicine, uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo. O estudo mostra que a dapagliflozina, um remédio usado normalmente para tratar diabetes tipo 2, pode trazer benefícios significativos para pessoas que passaram por uma cirurgia no coração chamada TAVI.

O que é TAVI?
TAVI é a sigla em inglês para Transcatheter Aortic-Valve Implantation, que em português significa “Implante Transcateter de Válvula Aórtica”. Essa é uma cirurgia que substitui uma válvula do coração que não está funcionando bem, chamada válvula aórtica. O procedimento é menos invasivo que uma cirurgia tradicional, o que significa que ele é feito sem abrir o peito, com uma pequena incisão, geralmente na virilha, por onde os médicos colocam a nova válvula.
Esse tipo de cirurgia é geralmente feito em pessoas mais idosas ou que têm outros problemas de saúde e, por isso, não podem passar por uma cirurgia mais agressiva. No entanto, mesmo depois da TAVI, muitos pacientes continuam sofrendo com sintomas de insuficiência cardíaca, como falta de ar, cansaço e inchaço.
E onde entra a dapagliflozina?
A dapagliflozina é um remédio que pertence a uma classe de medicamentos conhecida como inibidores de SGLT2. Ela foi criada para ajudar pessoas com diabetes tipo 2 a controlar o açúcar no sangue. Mas, nos últimos anos, vários estudos mostraram que essa classe de remédios também pode ajudar o coração, especialmente em pessoas com insuficiência cardíaca — um problema em que o coração não consegue bombear sangue do jeito que deveria.
Foi aí que os pesquisadores pensaram: e se a dapagliflozina também ajudasse as pessoas que passaram pela TAVI?
O que o estudo descobriu?
O estudo reuniu pacientes que fizeram a cirurgia TAVI e dividiram em dois grupos. Um grupo tomou a dapagliflozina e o outro recebeu um placebo, que é uma substância sem efeito, usada apenas para comparar os resultados. Os pesquisadores acompanharam esses pacientes por um tempo e observaram o que acontecia com eles.
Os resultados foram animadores. As pessoas que tomaram dapagliflozina tiveram menos internações por insuficiência cardíaca e disseram que se sentiam melhor no dia a dia — com mais disposição e menos sintomas. Em outras palavras, a dapagliflozina ajudou não só a reduzir complicações, mas também a melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O que isso significa?
Para os médicos, é uma boa notícia. Isso significa que um remédio já conhecido e seguro pode ser uma ferramenta a mais para ajudar quem passou por esse tipo de cirurgia cardíaca. Como a dapagliflozina já é usada por muitas pessoas com diabetes ou insuficiência cardíaca, seu uso pode ser ampliado com mais segurança.
Mas os pesquisadores também fazem um alerta: é preciso continuar estudando. Embora os resultados sejam positivos, ainda é cedo para dizer que todos os pacientes que passam pela TAVI devem tomar dapagliflozina. Cada caso é diferente e deve ser avaliado pelo médico.
Em resumo:
- A dapagliflozina, usada para diabetes, pode ajudar pessoas que fizeram a cirurgia TAVI no coração;
- O remédio reduziu internações por problemas cardíacos e melhorou a qualidade de vida dos pacientes;
- O estudo é promissor, mas os médicos ainda precisam fazer mais pesquisas antes de recomendar o remédio para todos os casos.
Esse é mais um exemplo de como a ciência está sempre buscando novas formas de melhorar a vida das pessoas — muitas vezes, até com medicamentos que já existem.