Tuliana Rosa e Dani Braga abordam, em artigo, os cuidados necessários na comunicação política durante a Semana Santa. Elas alertam que, em um período marcado por fé e introspecção, declarações públicas de figuras políticas devem ser feitas com empatia e responsabilidade, evitando o uso da religião para autopromoção ou polarização.

A Semana Santa é, para muitos brasileiros, um período marcado por fé, introspecção e respeito. Mas, para quem trabalha com comunicação política, especialmente assessorando figuras públicas, essa época do ano também pode se transformar em um verdadeiro campo minado. Isso porque, em momentos simbólicos como este, cada palavra dita e cada postagem publicada ganham peso — e qualquer deslize pode se transformar em uma crise de imagem.
É comum que lideranças políticas queiram se manifestar, seja para expressar sua fé pessoal, seja para se conectar com seus eleitores. Mas há uma linha tênue entre um posicionamento legítimo e uma mensagem que exclui, fere ou causa ruído. E é exatamente nesse ponto que muitos escorregam: quando tentam usar o momento religioso para autopromoção ou, ainda pior, quando se utilizam da fé para polarizar, dividir ou reafirmar uma suposta superioridade moral.
Muitas das crises que surgem nesse contexto envolvem declarações públicas que parecem desrespeitar outras crenças, discursos em eventos religiosos com forte viés político ou até postagens que usam símbolos sagrados de forma inadequada. Isso gera desconforto, críticas e, por vezes, rejeição — principalmente quando parte do eleitorado não compartilha da mesma visão religiosa. Em uma sociedade diversa como a nossa, não é estratégico transformar fé em palanque. Pelo contrário, é preciso comunicar com empatia, sobriedade e consciência.
Nesse sentido, é fundamental que a equipe de comunicação esteja atenta. Antes de publicar qualquer conteúdo, é necessário discutir o tom, o momento e o impacto da mensagem. Claro, é importante que o político use com inteligência as datas para se conectar com seu nicho e reafirmar valores que são caros a eles, no entanto, é preciso saber equilibrar. Afinal, a diferença entre o remédio e o veneno, é exatamente a dose.
Em vez de falas exclusivas ou messiânicas, o mais sábio é apostar em mensagens que celebrem valores universais como compaixão, solidariedade e amor ao próximo — princípios que transcendem religiões e alcançam a todos. Também é importante evitar provocações políticas ou comparações que possam soar como desrespeito ou oportunismo.
Se, ainda assim, a crise acontecer — e isso pode acontecer — o melhor caminho é agir com humildade e responsabilidade. Não se responde crítica com arrogância, muito menos se tenta silenciar a opinião pública. Em alguns casos, um pedido de desculpas sincero e um ajuste de rota podem ser mais valiosos do que insistir em manter uma postura intransigente. Assumir o erro, aprender com ele e demonstrar respeito ao sentimento coletivo é o que diferencia um líder sensato de um personagem político em busca de curtidas.
Mais do que nunca, é preciso lembrar que toda fala pública é um posicionamento. Cada gesto, cada frase, cada post conta uma história sobre quem aquela liderança é e no que ela acredita. E, em tempos de tanta divisão e sensibilidade, comunicar com equilíbrio é um diferencial — e uma responsabilidade.
A Semana Santa é, antes de tudo, um convite à reflexão. Que também sirva, portanto, como um alerta para todos nós que trabalhamos nos bastidores da política: não se trata apenas de dizer algo bonito ou publicar uma imagem simbólica. Trata-se de entender o momento, respeitar quem pensa diferente e construir uma imagem pública que inspire união — não conflito.
Tuliana Rosa é estrategista em Comunicação, Opinião Pública e Reputação; Dani Braga é especialista em marketing político.