TikTok não tapa buraco, mas quem tapa pode dançar

O problema não é o vídeo viral da prefeita de Marituba, cidade paraense com pouco mais de cem mil habitantes, vizinha a Belém. É o debate raso que veio depois que Patrícia Alencar virou uma espécie de Rodrigo Manga de saias. Ou melhor: de biquíni.

Enquanto metade da internet discutia se a prefeita podia ou não dançar sensualmente num momento de lazer, a outra metade fazia o que ela queria: viralizava o vídeo. E quase ninguém se fez a pergunta que realmente importa: e a gestão?

Porque, no fim das contas, é isso que sustenta (ou derruba) qualquer polêmica. E a gestão dela está de pé. Patrícia foi reeleita em 2024 com 71,5% dos votos e ostenta 81% de aprovação popular, segundo pesquisa da Doxa.

Mesmo administrando uma cidade em um estado pobre, onde os indicadores sociais sempre foram historicamente baixos. Avaliar sua gestão apenas pelos indicadores brutos atuais é ignorar uma dívida secular com a população das regiões Norte e Nordeste.

Sua administração tem iniciativas como o projeto de robótica nas escolas e programas de capacitação de mulheres empreendedoras. Em 2024, Patrícia foi reconhecida como “Prefeita Inovadora” por um fórum regional. Recentemente, lançou o “Mãos que Transformam”, que oferece formação e gera renda para mulheres costureiras do município. Símbolos de uma gestão com foco em autonomia e oportunidade.

Em tempo: não tenho procuração para defender sua gestão. Mas entendo que seja função dessa coluna conduzir o debate para um caminho um pouco mais lúcido.

Como em todo vídeo viral, surgiram os especialistas de plantão. Uma matéria do portal Olavo Dutra acusou a prefeita de praticar um “populismo digital”, como se sua boa performance nas redes fosse uma forma de mascarar ineficiências. Discordo. E explico por quê.

É desonestidade metodológica avaliar um prefeito com lupa estrutural. Nenhuma gestão, nem de oito anos, resolve problemas históricos, enraizados e sistematicamente negligenciados. Exigir que um prefeito mude décadas de exclusão social em um ou dois mandatos é, no mínimo, má-fé.

E mais: ignorar as entregas concretas, os avanços locais e a aprovação popular para rotular tudo como “marketing” ou “populismo digital” é fechar os olhos para a nova realidade da comunicação política.

Primeiro, porque o marketing digital, por si só, não sustenta aprovação alta. Especialmente para prefeitos, que vivem na esquina com o eleitor. Se a rua está esburacada, se o posto de saúde está fechado, não adianta dancinha nem trend. O morador sente na pele.

Segundo, porque a tese do “prefeito tiktoker que engana o povo” não resiste aos números. Em 2024, 83% dos prefeitos que tentaram reeleição foram bem-sucedidos — o maior índice desde que a reeleição foi permitida no Brasil. Em 2020, o índice já era alto: 63%. Em 2016, foi de 46%. A curva é clara: quanto melhor a entrega (e a forma de comunicá-la), maior a continuidade.

Vamos a exemplos. João Campos foi reeleito no Recife com 78,1% dos votos. Fez entregas robustas e falou a linguagem das redes. Allyson Bezerra, em Mossoró (RN), também adepto do marketing digital, foi reeleito com 78%, a maior votação da história da cidade. Rodrigo Manga, em Sorocaba, viralizou com vídeos bem-humorados e teve 73,7%. Topázio Neto, em Florianópolis, entrou na onda e venceu no primeiro turno com 58,5%.

O que todos têm em comum? Boa gestão + boa comunicação. Não é um ou outro. É um mais o outro.

E sobre Patrícia Alencar, vale lembrar: ela não é a primeira prefeita a enfrentar julgamento moral por estar num corpo de mulher. Quando um prefeito homem aparece sem camisa em um canteiro de obras, ninguém fala em decoro. Quando uma mulher de biquíni, em momento de lazer, viraliza, o julgamento vem pesado. Isso não é análise. É moralismo disfarçado de opinião.

Claro que decoro importa. Mas resultado importa mais. A população quer prefeitos que entreguem. Se dançam ou não, é detalhe.

E detalhe não tira mandato. Falta de entrega, sim.

Ah, e como disse o genial Emerson Saraiva (Mersinho, para os íntimos) em post recente: “90% dos problemas das gestões se resolvem com comunicação.” Uma gestão que se comunica bem trabalha melhor, gera mais resultado e, por consequência, aprovações mais altas.

Ps: Mais uma vez, a imagem da coluna foi criada por IA.

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