
Há algumas décadas, o ex-jogador de futebol Gerson, ficou conhecido não apenas pela excelência de suas jogadas no campo. Protagonizou publicidade que continha uma ideia de como sobreviver no meio da selva de pedra.
Ficou conhecido por dizer que o importante “era levar vantagem em tudo” em propaganda da marca de cigarro Vila Rica, na década de 1970.
A expressão popular “Lei de Gerson” tornou-se sinônimo de corrupção, e passou a simbolizar aquilo que se denomina “jeitinho brasileiro”: agir fora das regras ou das leis e sabidamente antiético.
A “Lei de Gerson” ressurgiu publicamente neste mês de junho de 2025, quando o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina identificou fraudes cometidas por alunos no programa Universidade Gratuita, instituída pelo governo do Estado de Santa Catarina para ampliar o número de estudantes no ensino superior.
De acordo com conselheiros do TCE-SC, do total de 32 mil cadastros de alunos registrados em diferentes cursos de universidades comunitárias e/ou particulares, 18.383 são de pessoas que estavam “levando vantagem em tudo” porque não se enquadram nos critérios objetivos definidos para o ingresso no programa Universidade Gratuita.
Assim, a maioria dos que conseguiram entrar em cursos universitários sem nada pagar – em Medicina, Direito, Odontologia, Administração de Empresas, etc) – supostamente cometeram crimes, segundo dados do TCE-SC.
E é o governo do Estado – portanto, com dinheiro meu, seu, nosso – que banca os custos desses alunos.
E, reparem: centenas e centenas deles estão matriculados em cursos de Direito!
Exatamente o curso que deveria preparar pessoas íntegras e com o dever de zelar pelo cumprimento das legislações.
O TCE identificou todo tipo de fraudes: declaração de renda mensal dos moradores do mesmo domicílio bem abaixo da realidade; patrimônio elevado não informado; falsidade de endereço, sugerindo residir em município do Estado de Santa Catarina, quando o aluno mora em outro Estado.
Educação sempre foi – e continua sendo – o fator essencial para o desenvolvimento de uma sociedade. Dentro do Brasil, SC é percebida muito positivamente por várias razões. Até mesmo pelo nível de instrução de seus cidadãos, tendo os demais Estados como parâmetro.
Ok. Mas a própria Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (a poderosa FIESC) já alerta, há bastante tempo, para gargalos sérios na formação de estudantes do segundo grau em relação ao que exigem as empresas nestes tempos de predominância tecnológica.
Então, fica fácil compreender que temos múltiplos problemas a equacionar. E vários desafios a enfrentar.
Dentre os primeiros, o governo do Estado deveria focar em programa educacional voltado a melhorar a infraestrutura das escolas estaduais. Também deveria ter foco e recursos para melhorar a qualidade do ensino no ensino básico e médio, já que o Ideb revela deficiências de aprendizagem.
Também deveria se preocupar com a formação continuada de todos os professores da rede de ensino. Também deveria colocar recursos em cursos técnicos, uma antiga demanda das indústrias.
Universidade gratuita dá visibilidade e produz marketing. Será que é prioridade?
A constatação de fraudes milionárias no Universidade Gratuita terá impactos significativos para além dos campos educacional e criminal. É lógico que este numeroso grupo de pessoas que mentiram e se utilizaram de dinheiro público precisa ser exemplarmente punido.
Mas, evidentemente, o olhar dos agentes políticos já está em 2026. Não há a menor dúvida de que este tema será o mais debatido durante a campanha eleitoral para governador de Santa Catarina.
O governo Jorginho terá de ser muito rápido para estancar a sangria que as denúncias já provocam. Terá de agir para tentar minimizar o estrago.
Porque é óbvio que não houve controle prévio adequado de dados dos candidatos. A pergunta é: de quem era essa responsabilidade?
Agora, o governo do Estado (e as instituições de ensino superior que acolheram estes mais de 18 mil alunos) estão com a missão de combater a fogueira.
Resgatar a imagem de seriedade e credibilidade será tarefa para especialistas. A primeira coisa a fazer em tempos de crise: dizer a verdade. A segunda e imediata: dado o direito de defesa, punir a todos que comprovadamente agiram criminosamente e preferiram utilizar a “Lei de Gerson”.
Santa Catarina se orgulha de ser um local de excelência. A propaganda oficial mostra isso há muitos e muitos anos.
Um grupo de “espertos” está manchando essa marca.