Quando duas comunidades digitais colidem

Essa coluna não é sobre política social. Nem sobre segurança. Não é sobre quem está certo ou errado. A exoneração de Bruno Souza do cargo de secretário de Assistência Social da Prefeitura de Florianópolis tem sido discutida por todos os ângulos possíveis, mas talvez o menos comentado seja o mais importante para entender o momento que vivemos: o da comunicação.

Bruno Souza sempre foi um fenômeno nas redes. Antes mesmo que isso virasse um rótulo. Seus mandatos como vereador e deputado estadual foram marcados por uma presença intensa e intencional nas redes sociais. Ele nunca escondeu suas posições. Ao contrário: fez delas a base de uma promessa nítida. E promessa clara, no ambiente digital, é convite para pertencimento. Mesmo sem mandato, nunca esteve fora da lista dos principais atores da conversação pública em Santa Catarina.

É assim que se formam as comunidades. Pessoas que não apenas concordam, mas compartilham. Que não apenas acompanham, mas defendem. E que, quando necessário, pressionam.

Foi exatamente isso o que aconteceu nos últimos dias. A demissão de Bruno gerou uma onda de manifestações nas redes. Gente marcando o prefeito, cobrando explicações, declarando apoio. Quem comunica com consistência constrói repertório. E quem constrói repertório, cria comunidade. É o caso de bruno.

Mas o mais interessante é perceber o outro lado dessa equação. O prefeito Topázio Neto não é um outsider digital. Ao contrário: tem uma das estruturas mais bem organizadas do país quando o assunto é comunicação institucional. Clara, limpa, segmentada, moderna. Com uma estética própria e uma régua altíssima de execução. Se Bruno representa o político que fala direto à sua base, Topázio representa a geração de gestores que entendeu que comunicar bem não é luxo, é parte da gestão.

Talvez por isso esse episódio seja tão emblemático. Porque não estamos vendo uma simples exoneração. Estamos assistindo ao encontro de duas comunidades digitais muito bem formadas. Dois núcleos de poder simbólico que operam na lógica das redes. E quando isso acontece, não importa a hierarquia formal. O campo de disputa passa a ser outro. O da narrativa.

Não é todo dia que se vê esse tipo de colisão. E é por isso que vale tanto observar. Porque o futuro da política, da gestão e da comunicação vai ser decidido não só por quem governa melhor, mas por quem entende que, nas redes é preciso ser simbólico. E para ser simbólico, é preciso ter promessa clara, presença constante e comunidade ativa.

A comunicação política vive disso. De gente que sabe o que representa e que tem coragem de sustentar isso no tempo. E de gestores que entendem que governar bem inclui conversar com o mundo digital como quem conversa com um corpo vivo. Porque é disso que se trata: não de audiência, mas de comunidade.

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