“Santa Catarina não é só para morar. Santa Catarina é para honrar”

Essa frase é do deputado estadual Matheus Cadorin (NOVO) apresentada em post nas suas redes sociais. Mais: o deputado, com base eleitoral em Joinville, diz que quem prega “ideologia de gênero e bagunça”, então, “não venha”.

Porque Santa Catarina é o Estado “mais conservador do país” e quem vem “para trabalhar de verdade” e “honrar as tradições catarinenses é bem vindo”.

Trabalhar com carteira assinada.

Um claro “não” ao ideário assistencialista.

Ainda Cadorin, em curta entrevista telefônica com este colunista: “os migrantes são bem vindos, independentemente de onde venham, mas temos uma condição: que essas pessoas respeitem a nossa cultura nossa raiz; nossa forma de nos relacionarmos”.

E complementa: “as pessoas têm de contribuir, trabalhar, gerar renda, pagar impostos”.

Sim. O tema migração chegou com força nas discussões – públicas e privadas – no nosso Estado, após a divulgação de dados do Censo do IBGE mostrando que Santa Catarina é o Estado que mais recebeu migrantes entre 2017 e 2022.

SC recebeu 503.580 pessoas de outros lugares neste período. E o saldo (diferença entre os que vieram e os que saíram) soma 354.308 pessoas. O número equivale a praticamente 80 por cento da população de Florianópolis. Ou a 60 por cento de toda a população de Joinville!

Sim. SC passou a ser o principal destino da migração interna nos últimos dez anos.

E, de onde vem este grande grupo populacional?

O IBGE responde: do Rio Grande do Sul (134.854); Paraná (96.110); São Paulo (62.414);

Pará (44.901); Bahia (20.285) para ficarmos apenas nos cinco polos de onde mais gente veio para cá.

Há, ainda, grande contingente de pessoas vindas do Rio de Janeiro, do Maranhão, de Minas Gerais, de Pernambuco e do Amazonas.

Digo eu: o crescimento econômico do Estado, as oportunidades de emprego, as belezas naturais, as praias, os indicadores socioeconômicos de variados rankings a apontar SC como destaque nacional em quesitos como qualidade de vida, nível educacional, segurançapública e pleno emprego são elementos atrativos para a crescente expansão de famílias de fora chegando ao Estado.

Este fato continuará a se repetir nos próximos muitos anos. Quer se goste. Ou não. É o que haverá. Simples assim.

Sim.

O tema é sensível. É explosivo.

Como equacionar?

Certamente, o Poder Público, em especial o Executivo, terá árdua missão de garantir infraestrutura social adequada para viabilizar que Santa Catarina continue sendo este oásis ao qual cada vez mais brasileiros almejam.

Há vários problemas para essa equação fechar:

São necessárias políticas públicas efetivas e eficientes – tanto por parte do governo do Estado, como por parte das prefeituras – para prover muito mais habitação, saúde, escolas e saneamento.

Governos – estadual e municipais – precisam planificar o futuro de curto, médio e longo prazos, considerando seriamente essa nova realidade migratória que se incorpora ao cotidiano.

Há recursos para atender ao que já está sendo demandado? E o que virá?

Santa Catarina está próxima de uma encruzilhada.

Como não é possível, e nem razoável, parar o mundo, ou se cuida de aspectos sociais sérios ou, no médio prazo, perderemos essa condição privilegiada de sermos um Estado de referência para todo o Brasil.

Essa, aliás, é uma legítima (e obvia) preocupação dos catarinenses: manter o que já se conquistou com trabalho diário, disciplina constante e harmonia social.

Porque o crescimento econômico e empresarial não significa desenvolvimento. São conceitos diferentes. O primeiro enxerga a dimensão dos negócios. O segundo capta a essência da vida em comunidade.

Fundamental olhar para o todo.

Porque, sim, muita gente ainda virá “invadir a nossa praia”.

Com respeito, por favor.

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