Pesquisa inédita revela que microplásticos entopem artérias e podem causar infarto

Plásticos dentro de você quadruplicam risco de AVC e ataque cardíaco. Foto: Freepik.

Um novo estudo científico de grande impacto acaba de ser publicado no New England Journal of Medicine, apontando para uma descoberta que pode redefinir nossa compreensão sobre a saúde cardiovascular. Liderada pelo pesquisador italiano Raffaele Marfella, uma equipe com mais de 35 cientistas revelou que a presença de microplásticos e nanoplásticos nas artérias humanas está associada a um risco significativamente maior de infarto, AVC e morte.

Aterramento plástico em artérias entupidas

A pesquisa se baseou na análise de placas de gordura, ou placas ateroscleróticas, retiradas de 257 pacientes submetidos à cirurgia para desobstrução de artérias carótidas. Os cientistas, incluindo Francesco Prattichizzo e Celestino Sardu, aplicaram técnicas avançadas para detectar a presença de plásticos nessas lesões vasculares.

O resultado é alarmante: em quase 60% das placas analisadas, a equipe encontrou vestígios de polietileno, um dos plásticos mais comuns do mundo. Em 12% dos casos, também foi identificado o cloreto de polivinila (PVC). As micrografias eletrônicas mostraram essas partículas com suas bordas irregulares, alojadas no interior de macrófagos, as células que atuam na resposta inflamatória do corpo.

Risco quadruplicado de morte

O estudo não se limitou a identificar a presença dos plásticos. Os pesquisadores acompanharam os pacientes por cerca de 34 meses, monitorando a ocorrência de eventos cardiovasculares. O que se observou foi uma correlação robusta: o grupo de pacientes com plásticos nas artérias apresentou um risco 4,5 vezes maior de sofrer um infarto, um AVC ou morrer, em comparação com o grupo sem a presença dessas partículas.

A hipótese levantada pelos pesquisadores é que os plásticos agem como corpos estranhos, desencadeando um processo inflamatório crônico que desestabiliza as placas de gordura. Essa inflamação torna as artérias mais vulneráveis a complicações, facilitando a ruptura das placas e a formação de coágulos que podem causar infartos e derrames.

Associação, não causa

É fundamental, como ressaltam os próprios autores, que o estudo aponta para uma forte associação, e não uma relação direta de causa e efeito. Isso significa que, embora os pacientes com plásticos tenham um risco maior, a pesquisa não prova que o plástico, por si só, foi a causa dos eventos. Outros fatores de risco, como exposição a poluentes atmosféricos e o estilo de vida, podem ter influenciado nos resultados.

Ainda assim, a descoberta abre uma nova e perturbadora frente de investigação na medicina. Se a ciência já demonstrava que o lixo em forma de plástico era uma ameaça ao meio ambiente, agora temos evidências de que o problema está se manifestando de maneira biológica, se instalando dentro de nós. Os resultados da pesquisa sugerem que o combate à poluição plástica é, também, uma medida de saúde pública urgente e essencial.

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