20 anos das Revoltas da Catraca. Por Lucas de Oliveira e Marcelo Pomar

Artigo de Lucas de Oliveira e Marcelo Pomar, Economista e Historiador, Criadores da Campanha pelo Passe Livre

Em julho de 2025, Florianópolis celebrou — com um quê de Mercúrio retrógrado — os 20 anos das Revoltas da Catraca. Em 2004 e 2005, foram 17 dias de protestos no primeiro ano e 23 no segundo, quando milhares de estudantes lideraram a população da cidade e derrubaram os aumentos das tarifas de ônibus nos dois anos consecutivos.

Vinte anos depois, Lula e Bolsonaro vivem o auge de seus conflitos, em meio a uma política brasileira cada vez mais internacionalizada. Trump sancionou Moraes, milhares foram às ruas no domingo (03/08) e, no dia seguinte, Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar. O que o Passe Livre tem a ver com isso? Mais do que se poderia imaginar…

O Passe Livre foi fundamental para o desenho deste cenário. Ao romper com uma esquerda já desgastada (lá em 2002), criou uma tecnologia social nova que, dez anos depois, se espalharia pelo Brasil, gerando as maiores manifestações da história do país — não só conquistando suas pautas, mas também provocando a queda dos governos de esquerda. As Jornadas de Julho de 2013 (em São Paulo, principalmente, e no Brasil todo) transcenderam a esquerda e acabaram por mobilizar o povão, abriram caminho para o Fora Dilma e a eleição de Bolsonaro.

Fomos protagonistas do movimento entre 2000 e 2005. Lucas seguiu pela Economia e pela Escola Austríaca; Marcelo, pela História e pela esquerda. Duas décadas depois, nos reencontramos para um debate na CBN e um colóquio, e destacamos quatro pontos essenciais que colhemos das nossas falas:

1 – O movimento nasceu em Florianópolis e se espalhou pelo país, formando a consciência política de uma geração.

2 – Há consenso, da esquerda à direita (e muita pesquisa sobre), de que o Passe Livre foi central para redefinir o próprio sentido desses campos no Brasil.

3 – O legado do Passe Livre inclui cerca de 150 cidades com algum tipo de gratuidade no transporte — 120 com tarifa zero — e, em Florianópolis, políticas como o “Domingo Livre” e o “Formiguinha”, que já fez mais de um milhão de viagens gratuitas.

4 – Para a direita olavista, o movimento abriu caminho para a revolução conservadora e liberal, com manifestações recorrentes desde 2013 até hoje, inclusive com o longa. “Nem tudo se Desfaz” dedicado ao tema.

Florianópolis parece ter essa vocação para estar e inspirar acontecimentos decisivos: foi assim na descoberta do Brasil, na aventura do caminho do Peabiru, na Proclamação da República, na Revolução de 30, na Novembrada, com Elon Musk e, agora, com o Passe Livre.

A Tarifa Zero deixou de ser bandeira exclusiva da esquerda e pode hoje ser a única saída para salvar o transporte coletivo da concorrência com os aplicativos, os financiamentos de carros e motos, ou ainda outras opções mais eficientes e confortáveis. Há propostas que vão de um Sistema Único de Transporte com participação federal a modelos híbridos de financiamento, com recursos municipais, taxação de externalidades e um fundo nacional de mobilidade.

Do ponto de vista político, o Passe Livre ensinou o Brasil a fazer manifestações de massa, inovando em estética, filosofia e abordagem. Se a revolução é uma caixinha de Pandora, ela foi aberta aqui, na Floripa de 2004 e 2005. Concluímos que seus lemas seguem válidos e atuais: Por uma vida sem catracas, amanhã vai ser maior!

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