Estrear uma série é sempre um momento especial. Conversa de Marqueteiro nasce com a proposta de abrir um espaço permanente para entrevistas com alguns dos nomes mais relevantes do marketing político no Brasil. É um mergulho nos bastidores das campanhas, nas estratégias que não aparecem nos santinhos e nas lições que moldam quem vive para eleger.
Para começar, ninguém melhor que Wilson Pedroso, ou, para os mais próximos, Wilsinho. Profissional de currículo extenso e resultados expressivos, ele é daqueles estrategistas que unem técnica, leitura de cenário e uma capacidade rara de adaptar narrativas sem perder a essência. Das grandes disputas majoritárias ao momento atual, em que se tornou uma das vozes mais comentadas do marketing político no digital, Wilsinho fala com a autoridade de quem já viu e já fez muita eleição acontecer.
Campanha se vence no detalhe, ele abre, quando pergunto sobre a lição mais valiosa de sua trajetória. Não é a grande jogada isolada que garante a vitória, mas a soma de pequenos acertos: a mensagem certa para um bairro, o timing perfeito para entrar em um debate, a narrativa bem calibrada para virar um voto indeciso. Num país tão diverso, tratar todos como iguais é um erro fatal. O segredo está na escuta, na adaptação e na disciplina até o último minuto.
Quando o assunto é 2018, ele não hesita: aquela eleição quebrou o manual. O digital deixou de ser acessório e virou centro de estratégia. Se naquela época o improviso rendia vantagem, hoje quem não tiver planejamento de conteúdo, agilidade de resposta e domínio de dados vai ser atropelado.
E sobre a polarização? É possível vencer fora dela, mas não sendo neutro demais. Wilsinho diferencia neutralidade de independência estratégica. A primeira, ele diz, parece fraqueza. A segunda, liderança. Falar apenas com a própria bolha é confortável, mas é no voto flutuante que está a chave da vitória.
O tema digital, onde ele se tornou figura influente, revela seu pragmatismo. “A janela é de minutos”, afirma. Ele adaptou sua comunicação para ser mais direta, visual e interativa, transformando análises complexas em conteúdo que engaja sem perder profundidade. É um exercício constante de equilíbrio entre autoridade técnica e linguagem acessível.
No planejamento, Wilsinho compara campanha a pilotar um navio em mar agitado: é preciso ter o destino e a rota definidos, mas ajustar as velas quando a maré muda. Por isso, mantém um núcleo estratégico monitorando o cenário 24 horas, pronto para agir sem perder o norte.
E olhando para frente, ele é categórico: a personalização da mensagem baseada em dados será o divisor de águas das próximas eleições. Microtargeting, segmentação e narrativa adaptada à realidade de cada público vão separar campanhas que apenas geram alcance daquelas que realmente convertem votos.
Na estreia da Conversa de Marqueteiro, Wilsinho entrega um mapa claro: detalhe, velocidade, inteligência de dados e narrativa própria. No fundo, é sobre fazer o que ele mesmo disse no início, vencer no detalhe.
Qual foi a lição mais valiosa que aprendeu nessas campanhas?
Wilson Pedroso: A lição mais valiosa é que campanha se vence no detalhe. Muitas vezes, o que decide uma eleição não é a grande estratégia visível ao público, mas a soma de pequenos acertos: o ajuste na mensagem para um bairro específico, o tempo certo de entrar em um debate, a narrativa bem construída para virar um voto indeciso. O Brasil é um país de dimensões continentais e múltiplas realidades, e o maior erro é tratar todos como iguais. Vencer exige escuta, adaptação e disciplina todos os dias, até o último minuto.
O que de 2018 ainda influencia as estratégias de 2025 e 2026?
Wilson Pedroso: A eleição de 2018 quebrou o manual tradicional. O digital deixou de ser acessório e passou a ser o centro da estratégia. Hoje, mesmo com mais regulação e um ambiente mais competitivo, a lógica permanece: velocidade, autenticidade e conexão direta com o eleitor são determinantes. A diferença é que agora a disputa é mais profissionalizada. Em 2018, improviso podia gerar vantagem. Em 2025 e 2026, quem não tiver planejamento de conteúdo, capacidade de resposta rápida e domínio de dados vai ser atropelado.
É possível vencer sem se posicionar claramente na polarização?
Wilson Pedroso: É possível, mas exige inteligência cirúrgica. A polarização cria uma zona de conforto para campanhas que querem falar apenas com a própria bolha. O problema é que a vitória está no voto flutuante, que não se identifica plenamente com nenhum dos polos. Para conquistar esse eleitor, é preciso ter uma narrativa própria, que não seja apenas “nem um, nem outro”, mas sim uma proposta clara, capaz de gerar esperança e confiança. Neutralidade absoluta, hoje, é interpretada como fraqueza. Já independência estratégica pode ser vista como liderança.
Como tem sido atuar no digital e o que mudou na sua forma de se posicionar publicamente?
Wilson Pedroso: O digital é um campo onde a agilidade vale tanto quanto a qualidade. Antes, a gente tinha dias para ajustar um discurso ou preparar uma resposta. Hoje, a janela é de minutos. Eu adaptei minha comunicação para ser mais direta, mais visual e mais interativa. Também aprendi a transformar análises complexas em conteúdo que engaja, sem perder profundidade. É um equilíbrio delicado: manter a autoridade técnica e, ao mesmo tempo, falar a língua do público que consome política no feed.
Como equilibrar planejamento de longo prazo com a reação rápida às mudanças?
Wilson Pedroso: Campanha é como pilotar um navio em mar agitado. O destino e a rota precisam estar definidos esse é o planejamento. Mas o capitão precisa ajustar as velas quando a maré muda essa é a reação rápida. Eu sempre construo um núcleo estratégico que monitora o cenário 24 horas por dia, pronto para agir sem perder o norte. O segredo é ter margens de manobra previstas no próprio planejamento, para não ser refém do improviso nem engessado pelo plano.
Qual tendência ainda está sendo subestimada, mas será determinante nas próximas eleições?
Wilson Pedroso: A personalização da mensagem baseada em dados será o divisor de águas. Ainda vejo campanhas investindo pesado em comunicação genérica, enquanto o eleitor já espera que a mensagem fale diretamente com a sua realidade. Isso envolve desde segmentar conteúdos e anúncios até ajustar a linguagem para diferentes públicos. Quem dominar o microtargeting e unir isso a narrativas fortes vai conseguir multiplicar a conversão de votos e não apenas gerar alcance.