Artigo de Ramiro Delcastanher, advogado criminalista

Em 19 de agosto de 2025 as equipes do GAECO deflagraram a sexta fase da Operação Mensageiro, maior operação anticorrupção já realizada em Santa Catarina, expandindo o foco das investigações para novas empresas do setor de coleta de lixo, afetando mais de 21 prefeituras. Esse desdobramento revela um trama complexo que relaciona o “lixo” ao “luxo” impróprio, simbolizando o enriquecimento indevido por meio da gestão das licitações.
Esse jogo semântico remete diretamente ao poema “luxo lixo” de Augusto de Campos, expoente da poesia concretista, que desconstrói visualmente e semanticamente as palavras, propondo um olhar crítico e multifacetado. Assim como o poema mistura forma e conteúdo, a Operação Mensageiro mistura a corrupção disfarçada em serviços públicos, mostrando que o “luxo” obtido por alguns é resultado do “lixo” da gestão pública contaminada.
No entanto, diante da repercussão midiática e da pressão popular, é fundamental que o processo investigativo de tamanha envergadura respeite os direitos dos investigados. Em investigações complexas, é necessário um trabalho meticuloso, atento para não cair na tentação da perseguição a qualquer custo. Quanto maior a investigação, maiores devem ser as garantias ao acusado, respeitando a lógica procedimental e assegurando o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Além disso, é prudente que se analise com cautela a veracidade das imputações e os valores astronômicos divulgados. Muitas vezes, há o risco de supervaloração dos dados pelo Ministério Público, numa ânsia por valorizar o trabalho realizado sem provas concretas que sustentem plenamente os números apresentados.
A Operação Mensageiro, ao revelar essa complexa relação entre “lixo” e “luxo”, promete transformar a gestão dos resíduos em Santa Catarina. Mas para cumprir seu papel, precisa tramitar com rigor, ética e responsabilidade, preservando a confiança pública e respeitando as garantias legais. Afinal, o verdadeiro desafio não está apenas em desmascarar irregularidades, mas em assegurar um futuro mais justo e transparente para todos.