O legado reputacional de William Bonner

Pouquíssimas pessoas conseguem atravessar três décadas de grande exposição pública sem sofrer maiores desgastes em sua imagem. Quando esse centro de atenção é a bancada do principal telejornal do país, o feito se torna ainda mais notável. William Bonner, que recentemente anunciou a passagem do bastão para César Tralli, é um desses raros fenômenos, deixando um legado reputacional singular no jornalismo brasileiro.

A anunciada saída de Bonner da TV Globo significa a despedida de um dos principais nomes do telejornalismo nacional. Ele foi a voz que conduziu os debates políticos mais relevantes da história recente do Brasil, equilibrando com maestria seu papel: crítico atento, mas sempre com aquela entonação inconfundível que marcava sua narrativa. Impôs respeito quando necessário e, em momentos de crise, assumiu um papel quase institucional, traduzindo o Brasil para os brasileiros.

Sua reputação não se construiu apenas pela competência jornalística, mas também por escolhas estratégicas de vida: a reserva em sua vida pessoal e a sobriedade no trato público são marcas que permanecem. Há uma previsibilidade confortável em ouvi-lo, como quando anunciava avanços importantes durante a pandemia, transmitindo segurança ao público.

Bonner não é isento de críticas, pois há quem o considere parcial ou arrogante, mas essas opiniões nunca comprometeram sua reputação. Isso se deve a uma credibilidade acumulada ao longo dos anos, que permitiu que enfrentasse turbulências sem grandes danos. Ele ainda transformou seu icônico “boa noite” em uma assinatura quase patrimônio cultural.

Mais do que uma simples troca de apresentador, sua saída simboliza o fim de uma era em que o telejornal noturno era a principal janela para a realidade. A transição para a era digital é inevitável, mas o legado de Bonner será lembrado como o de quem atravessou essa mudança estrutural sem perder sua relevância.

Reputação, afinal, é isso: resistir ao tempo. E William Bonner conquistou algo raro, que poucos conseguem: atravessar décadas e deixar uma marca indelével no jornalismo brasileiro.

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