Santa Catarina precisa pular na frente: o acordo Mercosul–UE é agora. Por Paulo Bornhausen

Artigo de Paulo Bornhausen, Secretário de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos de Santa Catarina

Estamos diante de um momento que exige adaptação rápida e visão estratégica. As novas tarifas americanas não devem ser vistas como obstáculo, mas como um chamado à diversificação. A maior oportunidade agora é o acordo Mercosul–União Europeia.

O governador Jorginho Mello entendeu a urgência. Em julho de 2024, sua primeira missão internacional foi à Europa, escolhendo Portugal como porta de entrada. Reativamos protocolos de cooperação, discutimos logística via Porto de Sines e estabelecemos bases para empresas catarinenses no maior bloco econômico mundial. Em setembro, o voo direto Santa Catarina-Lisboa completou um ano, conectando nossos mercados.

A articulação internacional continuou rendendo frutos. Em fevereiro, o ministro da Economia português, Pedro Reis, veio a Florianópolis para defender que o acordo entre os blocos “é tremendamente oportuno e precisa ser acelerado”. Em abril, o cônsul-geral alemão reforçou o apoio de seu país à ratificação. Santa Catarina conquistou protagonismo nas grandes negociações.

A Europa vive uma crise de competitividade. Segundo os dados econômicos, enquanto o PIB global cresceu 2,97% ao ano neste século, a Europa avançou apenas 1,27%. A crise de 2008, agravada pela pandemia e pelo conflito na Ucrânia, criou uma tempestade perfeita para a estagnação. Com as exportações respondendo por 40% do PIB europeu, o bloco busca urgentemente novos parceiros. As pressões comerciais americanas e o avanço da capacidade industrial chinesa tornaram o Mercosul sua “tábua de salvação”.

Por isso, a Comissão Europeia propôs um acordo comercial provisório, separado do tratado geral. A estratégia acelera a implementação: a parte comercial entra em vigor com a aprovação simples do Parlamento Europeu e dos congressos do Mercosul, deixando os demais temas para ratificação posterior. Mesmo com as salvaguardas europeias, as perspectivas são promissoras para o Brasil.

Os números do Ipea calculados em 2024 confirmam o potencial. O acordo geraria US$9,3 bilhões ao PIB brasileiro até 2040 e um aumento de 1,49% nos investimentos. Mais de 90% do comércio bilateral será liberalizado, criando a maior área de livre comércio do mundo, conectando mais de 750 milhões de consumidores. Pelos cálculos, o Brasil terá ganhos proporcionais maiores do que a própria União Europeia.

O acordo transcende os números. É uma reafirmação do multilateralismo em uma era de fragmentação. A parceria Mercosul-UE demonstra que a cooperação entre blocos e o comércio baseado em regras podem prevalecer sobre a lógica da soma zero. Para Santa Catarina, representa não apenas diversificação comercial, mas também inserção estratégica em cadeias globais que valorizam integração e abertura comercial.

Santa Catarina está bem posicionada, com competitividade em setores relevantes. Em 10 anos, 82% dos produtos agrícolas terão tarifa zero no mercado europeu, favorecendo nosso agronegócio. Simultaneamente, setores industriais importantes – proteínas, papel, móveis e tecnologia – acessarão consumidores europeus exigentes e dispostos a pagar por eficiência e qualidade.

Temos capacidade produtiva, talento humano e liderança que age. O governador Jorginho Mello articulou com Portugal, Alemanha e lideranças europeias, colocando nosso estado na mesa das grandes negociações. Somos um estado comerciante, logístico, com portos estratégicos e vocação exportadora. Entre os estados brasileiros, temos agilidade para ir mais longe e chegar primeiro.

O acordo Mercosul–UE não é apenas uma oportunidade; é uma necessidade estratégica. Representa uma demonstração rara de que a lógica da abertura e integração ainda prevalece. Quem sair na frente colherá frutos por décadas. Santa Catarina deu o primeiro passo e tem a chance histórica de se posicionar como protagonista dessa cooperação transatlântica. Vamos transformar esse desafio em uma das grandes vitórias das nossas relações internacionais.

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