Crime ágil, Estado lento: enquanto isso, o consumidor continua sendo abastecido com combustível e ilusão — ambos adulterados

Abastecer ou ser abastecido?

Quando o brasileiro para no posto, a dúvida não é só o preço que vai sangrar o bolso. A pergunta silenciosa é: o que será que vem no tanque hoje? Gasolina, solvente, álcool de posto de esquina ou uma mistura criativa assinada pelo crime organizado? Pois é, a adulteração de combustíveis não é mais uma “malandragem” isolada. Virou negócio bilionário — tão bilionário que a “Operação Carbono Oculto” revelou uma movimentação de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Não, não é erro de digitação. São bilhões com “B” de bomba.

Gasolina batizada, caixa turbinado

O Congresso corre para tapar os buracos de um setor que já virou playground do crime organizado. Multas mais altas, mais fiscalização, mais estrutura para a ANP. Parece promissor. Mas no Brasil a história se repete: o crime é ágil e o Estado é lento.

Carbono Oculto, caixa às claras

A investigação Carbono Oculto mostrou não só adulteração, mas uma estrutura empresarial digna de multinacional: caixa, logística, distribuição e até clientela cativa. O rombo? Pelo menos R$ 7,6 bilhões aos cofres públicos. Enquanto isso, quem joga limpo perde mercado, e o consumidor paga — no tanque, no bolso e na confiança.

Na mesa da FPA

Acompanhamos ontem, a reunião almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA, que, com a presença do diretor da Agência Nacional de Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Pietro Mendes, debateu, justamente, as ações de combate à fraude e adulteração de combustíveis.

Comissão de frente

Além da FPA, as frentes parlamentares do Biodiesel (FPBio), do Empreendedorismo (FPE) e do Etanol reforçam a urgência do Congresso Nacional em aprovar os projetos de lei que endureçam a fiscalização no segmento e combatam o crime organizado, que são:

PL das Notas Fiscais (109/25): ANP com lupa sobre os dados da Receita.

PL das Penalidades (399/25): multa para fraudadores que sai de R$ 5 milhões e pode chegar a R$ 500 milhões, em casos mais graves

PL do Operador Nacional (1923/24): mais poder de fiscalização e sanções.

PLP do Devedor Contumaz (164/22): para enquadrar quem faz da sonegação um “modelo de negócio”.

Santa Catarina no mapa do crime

A operação Carbono Oculto também impactou Santa Catarina. Itajaí e Criciúma entraram no roteiro da Polícia Federal. Nada surpreendente: se tem porto, tem fluxo; se tem fluxo, o crime organizado está de olho.

Os deputados catarinenses Valdir Cobalchini e Rafael Pezenti estiveram presentes na reunião da FPA, e também apoiam a urgência na aprovação das leis que endureçam a fiscalização no setor de combustíveis.

Crise X Crime

Enquanto empresas tradicionais do agro entram em recuperação judicial (+44,6% em relação ao ano passado, segundo a Serasa), o crime organizado nada de braçada. Caixa eles têm. Agressividade, também. E, diferente de muito empresário honesto, não precisam se preocupar com Receita, TCU ou compliance.

Pacote de socorro

No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou ontem, dia 16, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 168/2025, que viabiliza o pacote de socorro às empresas atingidas pelo tarifaço dos EUA. São R$ 5 bi em renúncia fiscal e R$ 4,5 bi em garantias. Agora, o projeto seguirá para votação do plenário, sob regime de urgência, e pode ser pautado ainda nesta semana, já que há pressa do governo para aprovação do texto a fim de garantir o lançamento de linhas de crédito.

Ação Efetiva

O Congresso tem, de fato, uma oportunidade rara: transformar projetos em ação efetiva e mostrar que ainda pode reagir à altura de um problema que não é só econômico, mas de segurança pública. Mais que punir, é preciso estruturar a ANP, fechar brechas e evitar que o crime organizado siga expandindo sua participação em setores estratégicos. O consumidor, o empresário sério e o próprio Estado não podem mais continuar pagando essa conta.

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