Criador do conceito da “cidade de 15 minutos”, o urbanista franco-colombiano Carlos Moreno defende que os serviços do dia a dia fiquem a uma curta distância, a pé ou de bicicleta, das casas das pessoas – o que diminuiria grandes deslocamentos obrigatórios dos veículos.
“Uma cidade viva é a que podemos fazer o que queremos sem a dependência de um carro”, disse o especialista, nesta terça-feira (23), na capital catarinense, em evento realizado pela Hurbana e Cidade das Águas, com a participação dos prefeitos de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), e de Joinville, Adriano Silva (Novo).
De acordo com Moreno, as cidades precisam ter “inteligência ancestral”, para aprender com as experiências e prestar atenção na herança cultural, e capacidade de adaptação, para enfrentar, por exemplo, os impactos das mudanças climáticas. Depois da “aula” sobre planejamento urbano, o autor de “A cidade de 15 minutos – Uma solução para salvar nosso tempo e nosso planeta”, conversou com a coluna sobre como pensar o planejamento territorial de uma forma diferente.
Como surgiu o conceito de “Cidade de 15 minutos”?
Este conceito aparece quando considerei que as cidades não podem ser somente smart city. Em 2010, muitas cidades queriam usar a tecnologia para criar uma cidade inteligente. E eu disse que o mais importante na cidade não era a tecnologia, mas sim a mudança climática, a economia e a interação social. E que a tecnologia tinha que combinar com a adaptação à mudança climática e recuperar a inteligência ancestral. Essa foi a motivação para que esse conceito aparecesse.
Onde os carros ficam dentro desse conceito?
A urgência climática significa ter cidades baixo carbono e os carros são a primeira fonte de contaminação. E é a primeira fonte de perda de tempo em atrasos, de grandes distâncias que tiram qualidade de vida. Se tivermos, no entanto, serviços nas proximidades naturalmente vamos usá-los e naturalmente, pouco a pouco, vai diminuir a urgência e a necessidade de fazer sempre grandes distâncias de carro.
A questão da densidade, muito discutida em Florianópolis durante a revisão do Plano Diretor, importante nessa questão das cidades dos 15 minutos, não é?
Sim, a escala humana, uma cidade voltada para as pessoas, mais compacta. A densidade tem que oferecer parques, zonas verdes, qualidade dos materiais, para que a densidade não seja viver em caixas de fósforos, mas uma cidade que seja ao mesmo tempo sustentável e de serviços.
Todas as cidades cabem nesse conceito de cidade de 15 minutos?
Sim, todas as cidades do mundo cabem nesse conceito para que tenham mais serviços, mais saúde, mais deslocamentos a pé ou bicicleta e melhor qualidade de vida.

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