
O Senado tenta regular o carbono antes que ele evapore, enquanto o campo prova que dá pra reduzir emissões e produzir mais — desde que a conta feche.
No meio disso, o Pronaf segura os pequenos e Santa Catarina comemora safra cheia, mas com preços murchos.
E o crédito rural continua sendo o calcanhar de Aquiles: está no papel, mas não chega ao bolso.
Brasília segue semeando boas intenções e colhendo polêmicas.
No agro, como no Supremo, o que vale é o mesmo ditado: quem planta dúvida, colhe incerteza — e o Brasil continua esperando que o próximo ciclo seja de colheita melhor.
Antes de pendurar a toga, Barroso mexeu no campo
Na véspera de se despedir do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso resolveu plantar polêmica no agronegócio.
Antes de anunciar a aposentadoria, na quinta-feira (9), ele tirou do plenário virtual e levou ao presencial o julgamento da Lei Estadual nº 12.709/2024, de Mato Grosso — a que proíbe benefícios fiscais e doação de terrenos públicos a empresas que participam de acordos como a Moratória da Soja.
Embaralhando o jogo
O pedido de destaque de Barroso embaralha o jogo: o processo (ADI 7774) será agora analisado presencialmente, ainda sem data marcada.
No placar virtual, o relator Flávio Dino havia restabelecido parte da lei, argumentando que os estados têm autonomia para definir incentivos fiscais, desde que em sintonia com as normas federais — e que acordos privados, como a moratória, não obrigam o poder público.
O texto volta a valer parcialmente a partir de 1º de janeiro de 2026. Até lá, empresas e órgãos públicos podem negociar a aplicação da norma.
Mas, convenhamos, não deixa de ser um último movimento emblemático: antes de tirar a toga, Barroso ainda conseguiu virar a terra.
A moratória em novo terreno
Com a decisão, o Supremo recoloca no radar a velha discussão sobre até onde vão os limites dos acordos privados no agro.
O setor vê risco de insegurança jurídica, enquanto ambientalistas comemoram o “resgate da coerência”.
Na prática, Barroso saiu, mas deixou o campo dividido entre quem teme retrocesso e quem enxerga uma chance de revisar o modelo.
Senado abre a porteira do carbono
O Senado resolveu abrir a porteira e encarar o debate sobre o mercado de carbono.
A Comissão de Agricultura discutiu a regulamentação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), com um objetivo claro: dar segurança jurídica e botar ordem antes que o mercado vire bagunça.
O senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) resumiu o espírito da coisa: sem regras claras, ninguém investe. Flávio Arns (PSB-PR) foi direto: “O mercado de carbono tá engatinhando, o Brasil precisa ensinar a andar — ou correr”.
Zerar carbono sem zerar lucro
Enquanto Brasília debate, o campo age.
A Coalizão de Agricultura — que reúne nomes de peso como Amaggi, Nestlé e Bayer — apresentou à presidência da COP30 um plano ousado: reduzir entre 59% e 67% das emissões líquidas até 2035 e zerar tudo até 2050.
A aposta é em cinco frentes que o produtor já conhece bem: plantio direto, cobertura vegetal, ILPF, manejo de pastos e rebanho mais produtivo.
Essas práticas sozinhas podem responder por 80% da redução.
O restante vem de tecnologias emergentes, como agricultura digital, bioinsumos e fertilizantes inteligentes.
Mas o discurso é bonito e o bolso pesa: o custo da transição deve ficar entre US$ 120 e 170 bilhões até 2050.
Como diz o agro, “sem cheque, não tem colheita”.
Pronaf de outubro dá fôlego aos pequenos
Saiu a nova lista com os produtos contemplados pelo Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), válida de 10 de outubro a 9 de novembro.
Entre os destaques estão mandioca e arroz de Santa Catarina, além de mel de abelha, feijão-caupi e cebola em outros estados.
Os maiores bônus vão para a cebola em São Paulo (70,31%) e no Paraná (65,62%), seguidas pelo feijão-caupi no Amapá (64,92%) e mel no Rio Grande do Sul (54,52%).
Em Santa Catarina, além da mandioca e do arroz, os produtores de erva-mate e feijão também entram na lista de contemplados.
Clique aqui para acessar a lista com todos os produtos contemplados neste mês e os percentuais de bônus.
Safra farta, renda apertada: o dilema da cebola catarinense
Santa Catarina deve colher 594 mil toneladas na safra 2025/26 — avanço de 6,9%, segundo a Epagri.
A produtividade média subiu para 30,4 toneladas por hectare, e mais de 90% das áreas estão saudáveis.
O problema é outro: o preço!
A saca de 20 kg foi vendida a R$ 30,36 em junho, abaixo do custo médio de produção. Com o avanço da colheita em outras regiões, a tendência é de preços ainda mais baixos.
Ou seja: safra farta, renda apertada — o velho dilema do produtor catarinense.
A abertura oficial da colheita, em Ituporanga, reuniu mais de 500 pessoas em um Dia de Campo da Epagri, com demonstrações de cultivares, manejo e novas tecnologias.
Santa Catarina segue líder nacional na produção da hortaliça — e a pesquisa continua rendendo frutos (e bulbos).
Crédito rural no alvo do Congresso
Amanhã, 14 de outubro, a Comissão de Agricultura da Câmara realiza audiência pública para discutir as exigências impostas pelos bancos na liberação do crédito rural.
O pedido partiu da deputada Coronel Fernanda (PL-MT), que quer apurar práticas como venda casada de seguros e títulos de capitalização — o que, segundo ela, fere o Código de Defesa do Consumidor e a Lei da Concorrência.
O tema promete render.
Quando o assunto é financiamento rural, todo produtor sabe: a porteira é larga, mas o portão do crédito segue trancado.
Entre moratórias, carbonos e cebolas
De toga pendurada, Barroso deixa o STF, mas leva o agro junto para o plenário.
O Senado tenta regular o carbono antes que ele evapore, enquanto o campo prova que dá pra reduzir emissões e produzir mais — desde que a conta feche.
No meio disso, o Pronaf segura os pequenos e Santa Catarina comemora safra cheia, mas com preços murchos.
E o crédito rural continua sendo o calcanhar de Aquiles: está no papel, mas não chega ao bolso.
Brasília segue semeando boas intenções e colhendo polêmicas.
No agro, como no Supremo, o que vale é o mesmo ditado: quem planta dúvida, colhe incerteza — e o Brasil continua esperando que o próximo ciclo seja de colheita melhor.