Entre o bolsonarismo e a nova direita: a batalha pelo eleitor conservador e a ilusão dos votos infinitos

Com os filhos de Bolsonaro em franco favoritismo, pelo menos em tese, para as eleições de 2026 em Santa Catarina, o que sobra para os candidatos de direita e principalmente para os conservadores joinvilenses é uma grande dúvida. Em terra de bolsonarismo quem fala mais alto é rei.  E pelos posicionamentos em redes sociais ou até mesmo em plenário vale se posicionar com força pelas bandeiras da direita, conservadora e pelo tocar do bolsonarismo raiz.

Com o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro já instalado no Estado e na disputa ao Senado e vereador de Balneário Camboriú, Jair Renan Bolsonaro, pré-candidato a deputado federal, resta saber quem vai se sobressair nesta disputa de votos que, embora muitos pensem, não é ilimitada. 

A dúvida é se o eleitorado catarinense se manterá fiel ao bolsonarismo ou partirá para uma nova direita, mais focada nos assuntos locais do que em batalhas nacionais. 

A vez da direita moderada?

Em 2024, na eleição municipal, o eleitor de Joinville praticamente ignorou o fator Bolsonaro e o candidato do seu partido, o deputado sargento Lima. Embora tivesse um discurso afiado ao bolsonarismo e o apoio do governador Jorginho Mello, Lima não conseguiu evitar a sólida vitória de Adriano Silva. O eleitor de Joinville que em 2022 deu 259.534 votos (77,34%) para Jorginho e 268.079 votos (76,6%) para Bolsonaro não embarcou no voto cego ao 22 e preferiu mais um mandado a Adriano Silva, do Novo, que fica numa balança confortável de direita moderada. 

Equilibrar o discurso nacional e o conservadorismo local

O PL de Joinville tem dilemas para resolver e lidar com o tal favoritismo na nominata de candidatos. No mar de candidatos voltados à direita, o PL é que vai lutar com mais força para manter as suas bandeiras na eleição do próximo ano. E os nomes já estão a postos e podem ser divididos em duas bandeiras: aqueles que defendem os temas nacionais, como críticas ao STF, ao Lula e ao sistema ou aqueles que abordam questões mais domésticas do conservadorismo local.

Zé Trovão, a voz barulhenta nacional

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O deputado federal Zé Trovão é nome cativo para a reeleição. Com base em Joinville, ele é um dos principais nomes do bolsonarismo e da direita brasileira. A voz de Trovão chega para 980 mil de seguidores no Instagram (mais do que o governador Jorginho que tem 672 mil seguidores) e é esperança de ser o principal impulsionador de votos em 2026.  Zé Trovão surpreendeu ao ser o único deputado eleito por Joinville com 71.140 votos. Por não ter raizes fincadas na política local causou um certo estranhamento. Agora, o cenário é outro. Recebendo políticos locais em seu gabinete em Brasília e figura conhecida na defesa da direita, não é mais surpresa o seu potencial de votos e de engajamento. 

Sargento Lima sem “pau-molenguismo”

Sargento Lima se coloca para deputado federal com um desafio grande. Em seu segundo mandato como deputado estadual e uma disputa a Prefeitura de Joinville em 2024, agora ele tenta aproveitar o universo conservador de Joinville e na região para ser o segundo nome do PL joinvilense da Câmara Federal. A tarefa não é das mais fáceis, mas Lima conta com uma postura forte pela segurança pública e uma defesa rigorosa das causas conservadoras. Tem se manifestado em defesa de uma direita mais aguerrida e menos “pau-molenguismo”, como postou nas redes.

Congestionamento de estadual

Na disputa para a Assembléia Legislativa pode ter um certo congestionamento com perfis diferentes na disputa no PL. Na coluna da semana passada eu disse que a vice-governador Marilisa Boehm pretendia ser candidata a federal. mas o governo já lhe convenceu que o plano é a Assembleia Legislativa. Marilisa acatou e já se coloca como pré-candidata com apoio e as obras do governo rumo a reeleição de Jorginho. O duelo das vices (com Rejane Gambin, vice-prefeito de Joinville) não está descartado mesmo cada uma disputando eleições diferentes. O olho é em 2028.

Maurício Peixer em busca da consolidação e equilíbrio dos pratos

Assim como Sargento Lima tem uma tarefa difícil nesse mar finito de votos da direita catarinense, o deputado Maurício Peixer segue a mesma linha. Suplente que herdou a vaga neste ano, Maurício tem base sólida em Joinville e tenta construir maior densidade em outras regiões do Estado. Embora tenha discurso afinado ao conservadorismo ligado a igreja católica, não segue a linha enfática de um Sargento Lima ou até de um Zé Trovão. Sua missão é superar os 22 mil votos feitos em 2022 e se colocar como forte liderança local. 

Tonezi se impõem como emergente

Vereador mais votado de Santa Catarina em 2024 com 9.323 votos, William Tonezi é outro político que carrega fortemente a bandeira bolsonarista.  Credenciado pela onda de votos coloca-se como força emergente na política joinvilense. Na Câmara de Vereadores já foi ferrenho crítico a Adriano Silva, deu uma recuada, mas continua com as suas bandeiras fortes contra o PT e a ala mais progressista. É mais um pré do PL na congestionada disputa de deputado estadual. 

Profeta voz única

Sessão Ordinária

Ele não é candidato a nada, mas é praticamente uma voz única do PL de oposição mais ferrenha ao governo municipal na Câmara de Vereadores. Profeta segue sua linha de não parar a metralhadora. Defende CPI do Transporte Coletivo  e foi o único ataque solitário contra as autorizações das viagens ao exterior do prefeito e da vice-prefeita. Só não é candidato em 2026 porque tem gente maior na fila. 

Cuidem os números 

É preciso ficar atento aos números. Joinville teve queda do eleitorado. Por ajuste que não era feito desde a pandemia, o eleitorado da maior cidade do Estado está em 424.408 aptos a votar, sendo 387.199 os que são obrigados e 37.209 facultativos (jovens de 16 e 17 anos, idosos acima de 70 anos, analfabetos e eleitores deficientes com dificuldade para exercício do voto). Em janeiro de 2025, em números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Joinville tinha 436.960 eleitores. 

Voto dos forasteiros

Não dá pra esperar que todos os eleitores de Joinville voltem em candidatos de Joinville. Na eleição de 2022 Ana Campagnolo, do PL, fez 21.153 votos em Joinville para deputada estadual. Sua colega de partido Carol De Toni, abocanhou 10.198 votos na cidade para deputada federal. Gilson Marques do Novo fez 5.900 para deputado federal em Joinville, o que muitos acusam de prejudicar a eleição da delegada Tânia Harada, que era nome joinvilense do partido para a Câmara Federal. 

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