Quando até a tilápia vira alvo, o risco não é o peixe — é a insegurança

O Brasil iniciou a semana liberando a Petrobras para perfurar a Margem Equatorial — tratado como novo pré-sal — ao mesmo tempo em que cogita classificar a tilápia, cultivada há 25 anos com licença do Ibama, como espécie invasora com potencial de erradicação.

No meio disso, cria uma Secretaria do Mercado de Carbono, exonera um dos articuladores da agenda sustentável a 21 dias da COP30, e a Câmara discute um sistema de rastreamento de agrotóxicos que pode multiplicar o custo logístico.

Entre o discurso de liderança climática e a prática burocrática, a sensação no campo é uma só: o risco não é ambiental — é institucional.

Tilápia: o peixe mais produtivo do Brasil vira alvo (de novo)

Em três meses, a tilápia — líder das exportações de pescado do Brasil — enfrentou três golpes seguidos:
• agosto: tarifaço dos EUA sobre produtos do agro brasileiro
• setembro: liberação da importação de tilápia do Vietnã pelo governo brasileiro
• agora, dia 8 de novembro: a Conabio/MMA votará se o peixe será classificado oficialmente como espécie invasora com potencial de controle e erradicação

A proposta vem justo no momento de supersafra e preços baixos, e reacendeu a revolta das entidades do agro.

Impacto no PR e SC

O Paraná, que responde por 36% da produção nacional, alerta para impacto direto sobre mais de 2.200 empregos imediatos.
Santa Catarina, que é a quarta maior produtora de tilápia nacional, movimentou R$ 400 milhões em 2024 e tem 30 mil produtores, chama essa possibilidade de “ataque à segurança jurídica”.

O alerta das entidades

Peixe BR, Peixe SP e FAEP foram cirúrgicas:

“Não se pode tratar piscicultura licenciada há 25 anos com o mesmo status de javali.”
“Classificação retroativa é violação à segurança jurídica e ao pacto federativo.”
E a frase que reverberou forte no setor:
“O Brasil está tratando quem produz como problema antes de punir quem destrói.”

Governo cria mercado de carbono

O Ministério da Fazenda criou, oficialmente em 16 de outubro, a Secretaria do Mercado de Carbono, liderada por Cristina Reis.
Agora, carbono não é discurso ambiental — é instrumento fiscal e geopolítico, com o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões – SBCE em implantação até 2030.
Tradução pragmática: Brasília vai dizer quem pode emitir, quanto vai pagar e quem vai lucrar com o crédito de carbono.
O campo sabe ler sinais: o jogo não é ambiental — é regulatório e financeiro.

Transporte aciona o freio

Na última sexta-feira (17), em audiência da Comissão de Agricultura, os deputados Pedro Lupion (PP-PR) e Rafael Pezenti (MDB-SC) confrontaram o novo sistema de rastreamento digital de agrotóxicos.

Segundo eles, a proposta não foi discutida com o setor produtivo e pode aumentar os custos logísticos.

Transportadores alertaram: custo por veículo pode subir de R$ 16 para R$ 600.

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