Amin nas redes: quando comunicar bem parece mudar tudo

Fred Perillo escreveu uma excelente coluna sobre Esperidião Amin. É sofisticada, provocante e repleta de boas perguntas, mas talvez tenha cometido um pequeno equívoco de ponto de vista. Não é que Amin tenha mudado de personagem. É que ele, finalmente, passou a comunicar melhor o que sempre foi.

Marcello Natale responde artigo de Fred Perillo sobre a mudança de percepção sobre o senador Esperidião Amin nas redes sociais

A narrativa de Fred parte da ideia de que o senador catarinense, um dos últimos grandes nomes da velha guarda política de Santa Catarina, teria abandonado o papel de gestor moderado para vestir o figurino do bolsonarismo. O Amin técnico, conciliador e de fala mansa teria dado lugar ao Amin das redes digitais, frases duras e engajamento em alta. Bonita história, mas se olharmos com atenção, talvez o enredo seja outro.

Amin sempre foi um homem de direita. Defendeu pautas liberais quando liberalismo ainda era palavrão. Falou de gestão pública, de eficiência, de modernização do Estado quando o debate nacional orbitava o clientelismo. No Senado, muito antes das redes explodirem, esteve alinhado a temas que hoje são bandeiras de direita, como o voto impresso, a anistia e a defesa da autonomia das instituições. Ou seja, ele não virou outro. Ele se traduziu. O que mudou não foi a essência, foi a forma de torná-la compreensível num novo tempo, num novo tipo de disputa.

A verdade é que a política pune quem não sabe contar sua própria história. Na última eleição para governador, Amin entrou no jogo com o que chamo de vazio de comunicação. Não deixou claro o produto que oferecia. Era o gestor experiente? O conservador moderno? O estadista catarinense? Faltou narrativa. E narrativa, no fim, é aquilo que diz ao eleitor por que você existe. O resultado veio nas urnas, com um desempenho modesto, apesar de uma biografia respeitável e de serviços prestados que poucos políticos do estado podem reivindicar.

A política não perdoa quem é coerente, mas inaudível. E, nesse sentido, o Amin dos últimos meses não é uma mutação, é uma reação tardia. Ele preencheu o espaço vazio com discurso, presença e clareza. Fez o que políticos de todas as gerações tentam fazer: adaptar o verbo sem perder a alma.

É curioso como o debate público tende a confundir volume com radicalismo. Amin passou a se comunicar mais e melhor, e isso foi lido como uma guinada ideológica. Mas não há nada de novo em defender o que ele defende. O novo é ele ter descoberto o valor de fazer isso em voz alta. E isso é marketing político no seu estado mais puro: não inventar personagens, mas ajustar a lente para que o público enxergue o que sempre esteve ali.

A história de Amin não é sobre metamorfose, é sobre clareza. Sobre como um político veterano, com décadas de serviços e uma trajetória solida, redescobre o poder de se explicar. Sobre como, em tempos de redes, o silêncio é interpretado como ausência e a ausência vira irrelevância. E sobre como quem domina a comunicação tem mais chances de ser ouvido, ainda que diga o mesmo de sempre.

Fred tem razão em um ponto. A narrativa pode devorar quem a escolhe mal. Mas há um outro lado da moeda. A ausência de narrativa devora com ainda mais crueldade. Porque a política não é apenas sobre quem fala mais, é sobre quem consegue contar sua própria história antes que contem por ele.

Esperidião Amin não é um personagem reinventado. É mesmo de sempre, mas agora em alta resolução. E o fato de estarmos discutindo Amin, e não o esquecendo, já é, por si só, prova de que a comunicação tem poder.

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