Lula, Trump e a reidratação do agro catarinense.

Entre apertos de mão na Malásia, crise no leite e frango liberado, o agro de Santa Catarina tenta respirar no meio da geopolítica, do dumping e das promessas diplomáticas.

Diplomacia climática (e comercial) na Malásia: menos DR, mais exportação?

O agro brasileiro virou espectador de um encontro que parecia fanfic: Lula e Trump lado a lado, tentando resolver o tarifaço de até 50% que trava as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

O papo durou 45 minutos, mas a repercussão foi imediata. O presidente da FIESC, Gilberto Seleme, classificou a conversa como avanço concreto e destacou que Santa Catarina já sente os impactos diretos do protecionismo americano: queda de 55% nas exportações para os EUA em setembro, retração estimada de R$ 1,2 bilhão no PIB do estado, 20 mil empregos a menos e perda de R$ 171 milhões em ICMS

Com base nisso, a FIESC lançou o programa desTarifaço, enquanto segue pressionando por mais produtos na lista de isenção e defendendo soluções técnicas, não ideológicas.

Frango liberado, maçã aprovada: a Malásia de portas abertas

Enquanto Lula entregava um dossiê e Trump distribuía sorrisos, a Malásia reabriu o mercado de carne de frango brasileiro. A medida interessa – e muito – a Santa Catarina, principal exportador nacional, com destaque para os polos de Chapecó, Concórdia e Xanxerê.

Além disso, o país asiático liberou a entrada da maçã produzida em SC, junto com cinco outros produtos (como pescados e gergelim). A auditoria para plantas suínas também foi antecipada, com visita técnica marcada para novembro. Resultado: o agro catarinense colhe frutos (e frangos) da diplomacia.

Crise do leite: a conta que não fecha

Enquanto o presidente negocia tarifas internacionais, o leite virou símbolo do abandono rural. Em SC, o preço médio pago ao produtor caiu para R$ 2,14/litro, abaixo do custo médio de R$ 2,20.

O cenário é de desânimo e endividamento. Pequenos produtores estão deixando a atividade mês após mês, e a cadeia leiteira familiar já opera no prejuízo. Segundo o Cepea, a média nacional também caiu: R$ 2,22 em outubro, contra R$ 2,66 no mesmo mês de 2024.

Produtores, cooperativas e parlamentares já pedem medidas de emergência, como:

  • controle das importações (sobretudo do Mercosul);
  • incentivo ao consumo interno;
  • ativação de compras públicas (PAA e PNAE).

Altair Silva e o PL contra o “leite fake”

Para enfrentar o dumping e proteger o produtor local, o deputado Altair Silva (PP-SC) apresentou projeto de lei que proíbe a venda de leite reconstituído com pó importado como se fosse leite fluido em Santa Catarina.

A proposta prevê multa de até R$ 1 milhão e suspensão do registro sanitário. Os recursos arrecadados com sanções seriam destinados ao Fundo Estadual de Desenvolvimento Rural. A iniciativa será debatida em audiência pública na Alesc no próximo dia 12 de novembro.

COP30: caravana, palco e protestos

Enquanto o agro prepara vitrines sustentáveis para a AgriZone, na COP30 em Belém, uma caravana de 300 indígenas e movimentos sociais cruza o país em protesto contra o modelo agroexportador.

Com paradas estratégicas entre Mato Grosso e o Pará, o grupo ataca a Ferrogrão, critica o avanço da monocultura e promete “respostas” na Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP oficial.

É o campo sendo celebrado na vitrine e atacado no asfalto – tudo ao mesmo tempo.

Entre a Malásia e o Oeste Catarinense

Enquanto Lula entrega dossiê bilíngue para Trump, Santa Catarina tenta manter viva sua base produtiva – seja defendendo o frango, a maçã ou o leite.

A reaproximação com os EUA pode aliviar tarifas. A abertura da Malásia ajuda. Mas sem medidas internas urgentes, o produtor continua operando no vermelho, mesmo com o mundo batendo na porta.

Não adianta só mostrar poder de negociação no cenário internacional. É preciso reconhecer que, sem chão firme no campo, o país perde raízes e a vitrine quebra.

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