Projeto Morro do Silício promove a diversidade e estimula negócios nas periferias

Durante o Delas Summit, evento que reuniu mais de 7 mil mulheres em Florianópolis, o projeto Morro do Silício realizou o Encontro Afroempreendedoras – Conectando Sistemas, em parceria com o Sebrae. Mulheres de diferentes segmentos compartilharam suas experiências de negócios.

Cofundadora do Morro do Silício, Cleuse Soares fala à coluna, na entrevista de domingo, sobre a trajetória do projeto, que nasceu há seis anos com o objetivo de ampliar o protagonismo de mulheres negras nos negócios e impulsionar a geração de renda e impacto social nas periferias.

“Cada uma dessas mulheres é um exemplo vivo de resistência e inovação. Essa parceria com o Sebrae Delas é um passo fundamental para garantir que mulheres negras estejam conectadas aos espaços de decisão e oportunidades da nova economia”, afirma Cleusa.

Como surgiu o projeto Morro do Silício?
O Morro do Silício nasceu em 2019 como um movimento para promover diversidade no ecossistema de tecnologia e inovação e fortalecer o empreendedorismo de comunidade, especialmente o periférico. Desde então, temos construído pontes entre afroempreendedores, profissionais e jovens das comunidades e o mercado que precisa de mão-de-obra qualificada. Trabalhamos com capacitação, qualificação e networking, promovendo o acesso a eventos e espaços de visibilidade. Recentemente, estamos com um foco especial nas mulheres negras empreendedoras, estimulando o protagonismo delas nesse ecossistema.

O que mudou entre os empreendedores das comunidades desde o início do projeto?
Hoje há mais consciência de que seus negócios são, de fato, empreendimentos. Muitos começaram por necessidade e não se reconheciam como empresários. Agora, estão entendendo o valor do que fazem e buscando melhorar e expandir seus negócios.

O acesso a crédito ainda é um desafio?
Sim, é uma das maiores dificuldades. Muitos empreendedores não têm garantias ou capital para acessar crédito formal. Há iniciativas de microcrédito que ajudam bastante, mas ainda é pouco. Falta um fundo específico e políticas públicas adaptadas à realidade das comunidades. A maioria é mãe e chefe de família, o que torna a rotina desafiadora. Muitas trabalham para sustentar a casa e têm dificuldade de separar vida pessoal e negócio. Além disso, o acesso a crédito e a falta de tempo para planejamento e capacitação são obstáculos constantes.

Quantos empreendedores participam do projeto atualmente?
Temos cerca de 200 empreendedores e profissionais conectados em nossos grupos de WhatsApp e mais de 60 cadastrados na plataforma online do Morro do Silício, que funciona como vitrine de talentos e serviços.

A informalidade ainda é grande?
Menos do que antes. O MEI ajudou muito nesse processo. Cerca de 70% das mulheres já têm CNPJ, e trabalhamos com contadores e o Sebrae para orientar sobre formalização e gestão de negócio.

Esses empreendimentos costumam atender só a comunidade local?
Não. Muitos extrapolam os limites da comunidade, principalmente com o apoio digital. Nosso objetivo é justamente ampliar o alcance desses negócios, usando a plataforma do Morro do Silício como meio de divulgação e conexão com novos públicos.

Como a inovação se manifesta nesse contexto?
Inovação não é só tecnologia. É também repensar a forma de produzir e vender. Às vezes, é incluir um ingrediente novo, um diferencial. Também trabalhamos o uso das ferramentas digitais — redes sociais, comunicação online — e o fortalecimento da autoconfiança dessas mulheres para se apresentarem e divulgarem seus negócios.

Quais são os próximos passos do Morro do Silício?
Estamos nos reestruturando para realizar encontros e capacitações com mais regularidade, fortalecendo parcerias com organizações como Sebrae, Acate e Impact Hub. Outro desafio é aprimorar nossa plataforma e internacionalizar conexões — tivemos, inclusive, apoio da Embaixada dos Estados Unidos nesse processo. O foco agora é ampliar o engajamento, a qualificação e o reconhecimento do potencial dos empreendedores de periferia.

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