A revolução silenciosa da inteligência artificial no Judiciário. Por Rubens Schulz

Artigo de Rubens Schulz, desembargador

O avanço da Inteligência Artificial (IA) marca uma nova era para o Poder Judiciário. Já não se trata de um experimento ou de uma ferramenta periférica, mas de um eixo estratégico que vai moldar o futuro da Justiça. A questão central, no entanto, não é “usar ou não usar IA”, e sim como usá-la e para quê.

Mais do que um recurso tecnológico, a IA deve ser compreendida como uma extensão da inteligência humana, e não como sua substituta. Quando aplicada com propósito, ela pode fortalecer a capacidade decisória, ampliar a proteção aos mais vulneráveis e ajudar na construção de um ambiente de Justiça mais ágil, acessível e, paradoxalmente, ainda mais humano.

O ponto de partida é definir o propósito dessa transformação. Para quais desafios reais do sistema judicial a IA será dirigida? Queremos apenas reduzir o tempo de resposta dos processos? Ou buscamos identificar padrões de litigância abusiva, apoiar magistrados nas decisões e prevenir conflitos?

A clareza sobre o objetivo é o que transforma tecnologia em impacto. O Judiciário precisa medir resultados de forma transparente e contínua, com indicadores concretos, e não com slogans. Projetos-piloto são essenciais nesse caminho: permitem testar, corrigir e aperfeiçoar soluções em ambiente controlado, democratizando o acesso ao conhecimento e evitando o isolamento técnico.

Mas a adoção da IA não é apenas uma decisão tecnológica – é uma decisão de arquitetura institucional. Exige governança, ética e supervisão humana. A criação de um Comitê de Governança de IA, com papéis claros, critérios éticos e auditoria de algoritmos, é indispensável para garantir transparência, segurança e aderência aos valores da magistratura. Sem governança, a IA se torna risco; sem responsabilidade, improviso.

O desafio está em fazer com que a inovação tecnológica sirva à missão da Justiça, e não o contrário. Cada ferramenta precisa nascer com foco no valor que entrega ao cidadão. A IA deve ser usada para resolver problemas reais, validar resultados com dados concretos e permitir que soluções bem-sucedidas sejam escaladas de forma segura.

A tecnologia avança rapidamente, mas o que dará legitimidade ao Judiciário nesse processo é algo atemporal: a combinação entre consciência, método e propósito. A IA não ameaça a inteligência humana. Ela a amplia. E, se conduzida com responsabilidade, pode tornar o Judiciário de Santa Catarina uma referência nacional em inovação e humanização.

O futuro não pertencerá a quem apenas observa, mas a quem lidera com serenidade, visão e espírito público. E é exatamente isso que a Justiça catarinense está pronta para fazer.

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