Traficantes são vítimas dos usuários? Por Alexandre Silveira de Sousa

Artigo de Alexandre Silveira de Sousa, Policial Civil e vereador no município de Palhoça

O noticiário recente exige uma reflexão: para qual caminho vamos direcionar a nossa segurança pública?

Que leitura traduz os fatos: vivemos o enfrentamento de um estado paralelo narcoterrorista ou estamos lidando com inocentes “vítimas dos usuários de drogas”?

O que aconteceu na última terça-feira (28) assustou a nação, quando um verdadeiro cenário de guerra se configurou nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, durante uma megaoperação desencadeada pelas forças de segurança.

O confronto alcançou níveis nunca antes vistos, pelo aparelhamento e pela diversificação das ações de defesa das facções criminosas; agora, não bloqueiam a ação policial apenas com as já conhecidas e rudimentares barricadas em avenidas, mas também passaram a utilizar alta tecnologia, como o uso de drones.

É um alerta: a violência escalou para algo que vai além da criminalidade “comum”. Recente estudo da Universidade de Cambridge aponta que 26% da população vive sob domínio de facções criminosas no Brasil – é o maior índice de “governança criminal” da América Latina. São mais de 50 milhões de brasileiros vivendo em áreas controladas por grupos como o PCC e o Comando Vermelho, sob o domínio do terror.

Não é à toa que autoridades já classificam essas facções criminosas como “narcoterroristas”. São grupos que agem como “estados paralelos”, criando suas próprias leis, cobrando tributos, prestando “assistência social” e garantindo a “segurança” em seus domínios à sua própria maneira. Trabalham com hierarquia, forças armadas, estatuto e ordenamento jurídico próprio. A grande diferença em relação ao nosso Judiciário é que o tribunal do crime “não falha”: os “julgamentos” são gravados e divulgados para todos os moradores da região via WhatsApp, e a pena é imediata, para que sirva de exemplo.

Alguém acredita que exista um exagero em querer classificar as facções criminosas como organizações terroristas? Exagero ou realidade dos fatos? Alguém acredita que tenha sido um exagero enviar um efetivo policial com cerca de 2.500 agentes para uma ação de pacificação? Exagero ou necessidade?

Infelizmente, nem todos estão na mesma página quando o assunto é o enfrentamento à violência do narcoterror. Mais triste ainda é quando a desconexão começa no próprio centro do núcleo decisório do país, quando o presidente da República afirma que traficantes são meras “vítimas dos usuários” de drogas.

Passou da hora de um pacto nacional pela segurança pública, para a recuperação dos territórios dominados pelo poder paralelo; com leis rígidas, para que os bandidos cumpram pena de verdade; com uma boa valorização e com a estruturação das forças de segurança em nível de excelência.

O governo, no âmbito federal, precisa encarar a situação com o pulso firme de Estado ou o povo brasileiro continuará refém desses grupos terroristas.
A população brasileira precisa pressionar os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – a entenderem a gravidade da conjuntura atual, para que, juntos, possam salvar o país; ou a tendência é só piorar, porque o que vimos atualmente são policiais enxugando gelo e pagando com o próprio sangue.

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