De impostos a soja, de juros a seguro: um dia em que Brasília trabalhou e o agro fez as contas
Em Brasília, a semana foi de “super plenário”. Enquanto o Senado e a Câmara disputavam espaço na pauta, o agro assistia atento a um combo de votações que mexem diretamente com o bolso, a terra e o crédito de quem produz.
Foram 11 matérias aprovadas entre os dois plenários, em uma daquelas jornadas que o Congresso batiza de “superquarta” — quando tudo acontece ao mesmo tempo e o país tenta entender o saldo no dia seguinte.
Sextou entre pautas fiscais, juros altos e insegurança jurídica, quem produz segue esperando previsibilidade.
No fim do expediente, a sensação foi a de sempre: Brasília legisla, mas quem paga a conta ainda é o campo.

Senado aprova reajuste do IR e pauta fiscal avança
O Plenário do Senado aprovou o projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil por mês.
O texto segue para sanção do presidente Lula (PT), o que deve ocorrer quando ele voltar de Belém, onde está para a COP30.
A medida tem reflexo indireto no agro, especialmente nas empresas familiares rurais e cooperativas que operam sob o regime de pessoa física. Paralelamente, a Casa avançou com votações de pautas fiscais e de arrecadação, que compõem o pacote de ajuste orçamentário de 2025.
Câmara aprova pacotão rural na Superquarta
No Congresso, a superquarta foi de pautas de infraestrutura e logística rural. Entre os destaques: o PL 2317/2024, que cria o Programa Nacional de Estradas Vicinais; a PEC dos Caminhoneiros (nº 45/2025), de autoria do senador Jaime Bagattoli (PL-RO), que estende benefícios tributários à categoria; e o PL 1092/2025, relatado pelo presidente da FPA, Pedro Lupion (REP-PR), que trata da regularização de terras produtivas com titularidade pendente.
A FPA comemorou o avanço do pacote. “É uma vitória da mobilização ruralista, mas ainda há muito a ser corrigido no crédito e na segurança jurídica”, resumiu Lupion.
Maior safra da história — e sem seguro? Entenda o alerta do Senado!
O seguro rural vive o pior momento da década.
Dados da CNA e da Susep mostram que o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) cobre hoje apenas 6 milhões de hectares — menos da metade da área segurada em 2021.
Com orçamento reduzido e sinistros em alta, o Senado discutiu nesta quarta-feira (5) o PL 1.217/2025, que cria um crédito emergencial para produtores que não conseguiram indenização após perdas climáticas.
A autora da audiência, senadora Tereza Cristina (PP-MS), classificou o seguro rural como “imprescindível para a estabilidade da produção”, enquanto o senador Hamilton Mourão alertou que muitos agricultores estão “de joelhos”.
A CNA e a Aprosoja Brasil reforçaram que a próxima safra pode ser a maior da história — e a menos protegida dos últimos 10 anos.
A Comissão de Agricultura da Câmara alertou que a redução pode comprometer o acesso ao crédito rural. “O produtor está ficando descoberto e não é só de chuva”, ironizou um deputado ligado à FPA.
STF manda parar tudo na Moratória da Soja
No STF, o ministro Flávio Dino suspendeu todos os processos sobre a Moratória da Soja, o acordo que veta a compra de grãos produzidos em áreas desmatadas na Amazônia depois de 2008. A liminar vale pro país inteiro e congela as investigações que estavam tramitando no Cade e nos tribunais de Mato Grosso e São Paulo. A justificativa dada foi de evitar “litigiosidade exagerada”, ou, traduzindo do juridiquês, segurar até o Supremo decidir quem tá com a razão: o mercado ou a mata.
De um lado, a Abiove comemorou dizendo que a moratória é o cartão de visita do agro brasileiro lá fora. Do outro, a Aprosoja-MT soltou fumaça do escapamento e voltou a falar em cartel disfarçado de sustentabilidade. Dino tentou apaziguar dizendo que a pausa serve pra garantir segurança jurídica ao agronegócio, mas o clima continua quente. Agora o caso vai pra plenário entre os dias 14 e 25 de novembro, quando os ministros decidem se a liminar fica ou cai.
Selic nas alturas: o juro colhe o que o campo planta
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15%, frustrando o mercado que esperava corte de 0,25 ponto. Para o agro, a decisão pesa duplamente: encarece o crédito e limita investimentos em tecnologia.
A CNA e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) criticaram a manutenção do patamar. “O campo continua produzindo, mas o juro segue colhendo”, disse um parlamentar da bancada do agro, em tom de ironia.
Crédito, Fé e força feminina no campo!
Mulheres do agro em Chapecó estão colhendo autonomia e oportunidades.
A parceria entre a Credioeste e a Pastoral do Migrante da Arquidiocese tem levado educação financeira e crédito acessível a quem mais precisa -especialmente mulheres migrantes e empreendedoras.
“Temos linhas de crédito que vão do bem-estar pessoal ao crescimento dos negócios — como o Juro Zero, o Microcrédito e o Força para Elas”, explica Éderson Behne, supervisor da Credioeste.
São ações que fortalecem o cooperativismo, o empreendedorismo feminino e o papel da mulher como protagonista no agro catarinense.
O supervisor da equipe de agentes de crédito, Éderson Behne, ressaltou que a Credioeste conta com quatro linhas de crédito que contribuem desde o bem-estar dos clientes ao crescimento da empresa. “Temos o programa Qualidade de Vida para pequenas reformas, capacitações, tratamentos dentários e de saúde, além de linhas focadas especificamente para impulsionar as atividades empreendedoras, como o Juro Zero, o Microcrédito e o Força para Elas”.
Dallas Summit – negócios e networking do agro
O Sistema Faesc/Senar-SC reuniu produtoras, gestoras e técnicas para debater liderança, sucessão e empreendedorismo.
No Dallas Summit, em Florianópolis, lideranças públicas e privadas discutiram ambiente de negócios, inovação e internacionalização, com participação do agro catarinense. A agenda reforçou parcerias comerciais e a integração com cadeias globais, em linha com a estratégia das entidades catarinenses de abrir mercados e atrair investimentos.
O presidente do Sistema Faesc/Senar, José Zeferino Pedrozo, enfatizou a importância da participação feminina em iniciativas que fortalecem sua atuação no agronegócio. “Inovação, relacionamento e conexões fizeram parte dessa experiência e não temos dúvidas de que elas retornaram com novas ideias e conhecimentos essenciais para aprimorar suas atividades”.
Meliponicultura em Florianópolis
A criação de abelhas sem ferrão movimenta Florianópolis entre os dias 6, 7 e 8 de novembro, com dois grandes eventos voltados à meliponicultura zootécnica: o 6º Encontro Catarinense de Meliponicultura Zootécnica (ECAMZOO) e o 2º Simpósio Nacional de Meliponicultura Zootécnica.
As atividades acontecem na Epagri e no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no bairro Itacorubi.
Os eventos sobre criação de abelhas unem pesquisa, sustentabilidade e capacitação técnica, com palestras, oficinas e feira aberta ao público no início de novembro.
A meliponicultura, prática dedicada ao manejo racional de abelhas sem ferrão, ganha destaque crescente no agronegócio e na sustentabilidade urbana, por unir preservação ambiental e geração de renda.
O Congresso correu, o agro resistiu
E se Brasília teve uma superquarta, o campo precisa de uma superpolítica — que olhe menos para a manchete e mais para quem sustenta o país de sol a sol.





