Brasília: o que o Agro precisa saber (semana de 03 a 08 de novembro)

Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, o campo atravessou a primeira semana de novembro com Brasília em modo frenético: juros em 15%, pacotes de leis sobre terras, leite derramado, estradas e crédito rural, e a COP30 lançando um desafio político – manter o Brasil na vitrine climática sem empurrar o produtor para o banco dos réus.

Foi uma semana de “superquarta legislativa”, daquelas em que o Congresso inteiro trabalha e o campo faz as contas. Enquanto o Senado ampliava a isenção do Imposto de Renda e discutia o seguro rural, a Câmara aprovava pacotes de infraestrutura e regularização fundiária. O campo reagiu com a clareza de quem vive na ponta: o juro colhe o que o produtor planta.

Na terça-feira (4), durante o tradicional almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o agro reagiu à escalada da criminalidade rural. A bancada apresentou em Brasília o pacote de segurança no campo — resposta direta à violência que já cruza porteiras e ameaça transformar o interior no novo Rio de Janeiro.

Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília

Agro em Alerta

• Selic em 15%: crédito estrangulado
O Copom manteve a taxa Selic em 15%, contrariando expectativas de corte. A CNA e a FPA criticaram o peso dos juros sobre o crédito e a produção.

• Reforma fiscal e IR isento até R$ 5 mil
O Senado aprovou o projeto que amplia a faixa de isenção do IR, beneficiando quem ganha até R$ 5 mil. A medida impacta pequenos produtores e cooperados que operam como pessoa física.

• Terra e fronteira: regularização de volta
A ratificação de registros de terras públicas em faixas de fronteira voltou à Câmara, reacendendo o debate sobre segurança fundiária.

• Superquarta ruralista: pacote da FPA
A Câmara aprovou o PL 2317/2024, PEC dos Caminhoneiros (45/2025) e PL 1092/2025. A FPA classificou a votação como vitória do agro produtivo.

• Segurança no campo e crimes ambientais
A FPA articulou a aprovação de projetos que endurecem penas contra o tráfico de animais e pedem medidas urgentes para conter furtos e invasões.

Leite em ebulição — a paciência acabou em Brasília

A audiência pública sobre a crise do leite, realizada na Câmara dos Deputados na segunda-feira (4), carregava a esperança dos produtores catarinenses, mas terminou em frustração e recado duro: a paciência acabou.

O encontro, requerido pelo deputado Valdir Cobalchini (MDB-SC), reuniu representantes da FAESC, Conseleite, OCB, FPA, CNA e de cooperativas de todo o Sul. O clima foi de desabafo. O setor apresentou dados que retratam o colapso da cadeia: o preço pago ao produtor caiu 25% em 12 meses, as importações de leite em pó do Mercosul subiram 38%, e mais de 10 mil propriedades encerraram as atividades desde 2023.

Cobalchini cobrou reação do governo federal:

“O que se viu foi uma audiência para ouvir, não para resolver. O produtor está no limite, e o leite catarinense não pode virar símbolo de abandono.”

Enquanto isso, o setor se prepara para a audiência estadual marcada para o dia 12 de novembro na Alesc, proposta pelo deputado Altair Silva (PP-SC), que deve reunir governo, cooperativas e produtores em busca de respostas — e menos promessas.

STF pausa a Moratória da Soja

O ministro Flávio Dino suspendeu os processos sobre a Moratória da Soja até julgamento no plenário, entre 14 e 25/11.

Santa Catarina na COP30 — quem produz também preserva

O Estado será representado na COP30 pela Frente Parlamentar da COP30, liderada por Mauro de Nadal (MDB). O documento ‘SC na COP30 — Quem produz, também preserva’ defende três pilares:


– Compensação financeira a quem produz e preserva;
– Incentivos fiscais à energia limpa e renovável;
– Recursos aos municípios que mantêm áreas verdes e rios limpos.

O cooperativismo catarinense também ganha vitrine global: quatro cooperativas do Estado estão entre as 48 brasileiras selecionadas pelo Sistema OCB para apresentar cases de sustentabilidade na conferência.

A Embrapa chega à COP com 400 eventos no hub AgriZone e apresenta nove propostas para um agro de baixo carbono.

Mulheres do Agro e crédito social

Em Chapecó, o programa da Credioeste com a Pastoral do Migrante mostrou que educação financeira e crédito solidário são instrumentos de autonomia feminina.

Dallas Summit — negócios e sucessão

O Sistema Faesc/Senar-SC reuniu lideranças em Florianópolis, debatendo sucessão e empreendedorismo.

Abelhas em pauta

Florianópolis sediou o 6º Encontro Catarinense de Meliponicultura Zootécnica (ECAMZOO) e o 2º Simpósio Nacional, mostrando que sustentabilidade e renda podem nascer do mesmo enxame.

Tá Quanto? — Indicadores & Mercado (YTD)

  • Ibovespa: 142.870,54 (+19,98%)
  • Raiz4: R$ 0,89 (–58,02%)
  • Beef3: R$ 6,91 (+40,17%)
  • Milho (Cepea): R$ 62,80/saca (–7,13%)
  • Soja (Cepea): R$ 128,50/saca (+1,80%)
  • Etanol hidratado: R$ 2,48/L (+8,90%)
  • Bitcoin: US$ 126.040,00 (+27,45%)
  • Ethereum: US$ 4.503,10 (+24,08%)

Fonte: Cepea, BCB, BRAPI, B3

Radar do Agro


• Seguro Rural: Senado cobra ampliação orçamentária do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).


• Crédito & Selic: produtores aguardam reabertura de linhas do BNDES Rural.


• Infraestrutura Vicinal: governadores do Sul articulam adesão ao novo programa.

O que acompanhar (10 a 14 de novembro)

Segunda (10/11): Câmara discute atualização da Política Nacional de Irrigação, com o objetivo de modernizar o setor, promover o uso eficiente da água e a adoção de tecnologias sustentáveis.


Terça (11/11): Senado debate orçamento do Plano Safra 2025/26, e concentra-se em como tornar o programa mais eficiente e garantir apoio adequado aos produtores rurais. 


Quarta (12/11): Alesc realiza audiência sobre a crise do leite, solicitada pelo deputado Altair Silva (PP), na busca pela valorização dos produtores e do leite catarinense.


Quinta (13/11): Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou sua minuta final do decreto do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que institui o mercado regulado de carbono no Brasil. .


Sexta (14/11): STF retoma julgamento da Moratória da Soja, que é um acordo voluntário de mercado de 2006 e que proíbe a compra de soja de fazendas desmatadas na Amazônia após julho de 2008. O STF retomou o julgamento para decidir sobre a constitucionalidade da lei de Mato Grosso (12.709/2024), que proíbe incentivos fiscais e terrenos públicos para empresas signatárias do acordo.

Visão da Semana — O agro entre juros e justiça

A semana mostrou o que Brasília é capaz de fazer e de travar. Enquanto o agro produz e exporta, enfrenta juros de dois dígitos, crédito restrito e insegurança jurídica.

Mas também mostrou o vigor catarinense: da Credioeste às abelhas da UFSC, passando pela Faesc e pela Pastoral do Migrante, o agro de SC reafirma que inovação e inclusão são parte da mesma lavoura.

A próxima semana será de definições no STF, no MME e nas comissões rurais – e o campo segue, como sempre, entre o trabalho do plantio e a espera da colheita.

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