Enquanto o Brasil e o mundo olham para a COP30, que começou oficialmente ontem, 10, com discursos sobre “transição verde” e metas globais, Santa Catarina já está em outra COP – a que realmente impacta o bolso de quem produz.
É em Genebra, na COP11 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), que será discutido o futuro de uma das cadeias mais sociais e mais sensíveis da agricultura familiar brasileira.
No palco global da COP30, fala-se de metas climáticas para 2050. Em Genebra, fala-se do produtor que precisa pagar o boleto na segunda-feira.
Enquanto o planeta inteiro discute lacres, metas e transição ambiental na COP30, Santa Catarina vai para Genebra, na COP11, defender quem produz hoje – o agricultor familiar, o produtor rural e os municípios que vivem da renda do campo.
Ideologia não paga boleto. Agricultura paga!

GENEBRA DECIDE, SC SENTE!
A COP11 ocorre entre 17 e 22 de novembro em Genebra (Suíça). Em discussão: proibição de filtros em cigarros, responsabilização do produtor rural por resíduos sólidos e novas restrições ao cultivo.
O tabaco representa quase 30% de toda a produção nacional no Sul do Brasil. Santa Catarina responde por cerca de 30% desse volume, e 95% dessa produção vem da agricultura familiar. São 184 municípios e 188 mil pessoas envolvidas.
Sem tabaco, o impacto é direto no PIB do agro catarinense – uma das cadeias mais intensivas em mão de obra e permanência no campo.
É SUSTENTO, NÃO IDEOLOGIA
Em entrevista exclusiva à coluna Política & Agro, Celles Regina de Matos – presidente da Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina), enviada oficialmente pelo Governo do Estado ao evento e representando também, a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina – SAR, afirmou:
“Ninguém quer que as pessoas fumem e tenham problema com a nicotina. Mas o tabaco é o sustento de milhares de famílias. Não se pode apagar uma cadeia produtiva inteira sem alternativas reais.”
Ela reforça que há risco de ruptura sem planejamento: “É um momento que requer cautela. As ações precisam ser orquestradas: equilibradas, crescentes, constantes e transformadoras.”
PRODUTOR NA MESA, NÃO NO ALVO
A delegação terá representação governamental, técnica e política e o deputado Rafael Pezenti (MDB-SC) será o único parlamentar catarinense na missão oficial brasileira.
Pezenti resume o risco: se a proposta avançar como está, o produtor rural passa a ser responsabilizado pelo resíduo do filtro, mesmo sem participar da cadeia industrial do produto final.
Celles reforça:
“Associações, sindicatos, produtores, deputados e a Cidasc estarão em Genebra acompanhando, buscando apoio e criando alternativas junto às esferas governamentais. A produção agropecuária existe, é real, e também precisa de um plano de transição que faça sentido globalmente e é para isso que estaremos lá, em tempo real e trabalhando no interesse do produtor rural.”
Santa Catarina quer virar o jogo político: colocar o produtor na mesa de decisão, e não no alvo das restrições. O agro catarinense não aceita mais ser espectador.
O QUE ESTÁ EM JOGO (RESUMO DA COP11)
- PIB do agro catarinense afetado diretamente
- Economia de municípios inteiros em risco
- 188 mil pessoas envolvidas na produção só em SC
- Cadeia 100% financiada pela agricultura familiar
Se a transição vier sem política pública, a COP11 vira COP do abandono.
Hoje, o produtor de tabaco é uma das poucas atividades do agro que recebe assistência técnica, contrato e compra garantida. Cortar isso sem alternativa gera vulnerabilidade econômica e social – primeiro na lavoura, depois no município. Transição não é desligar a tomada. É planejar o caminho.
AURORA ENTRE AS GIGANTES
A Aurora Coop, cooperativa catarinense com sede em Chapecó, entrou no Top 50 das marcas mais valiosas do Brasil em 2025, ocupando a 33ª posição, com valor de marca estimado em R$ 3,38 bilhões — ranking divulgado pelo InfoMoney, com metodologia alinhada à ISO 10668 (avaliação de marcas).
São 14 cooperativas agropecuárias integradas e mais de 85 mil famílias cooperadas produzindo proteína animal, lácteos, massas, vegetais e pescados.
O estudo considera força da marca, percepção do consumidor e desempenho financeiro e coloca a Aurora ao lado de gigantes como Ambev, Vale, Vivo, Itaú e JBS.
Não é apenas um resultado financeiro: é reputação construída no campo, com base em rastreabilidade, qualidade e origem catarinense certificada.
INOVAÇÃO NÃO PODE SER POBRE
A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou o projeto que amplia o prazo de proteção de cultivares (sementes e variedades vegetais). Culturas frutíferas, florestais e ornamentais passam de 18 para 25 anos de proteção. As demais espécies vegetais passam de 15 para 20 anos.
Na prática, isso significa segurança jurídica para o desenvolvimento de novas tecnologias no agro: pesquisa genética, novas variedades de soja, uva, maçã, flores, sementes resistentes a pragas e mudanças climáticas.
Hoje, o Brasil desenvolve genética, mas perde competitividade porque outros países protegem os cultivares por mais tempo e atraem investimento.
O projeto mantém o direito do produtor de guardar sementes para uso próprio, mas cria mecanismos mais claros de pagamento quando há repasse ou multiplicação por terceiros.
Inovar custa caro. Sem proteção, ninguém investe.
EUA PARAM. EXPORTAÇÃO NÃO
O shutdown (paralisação do governo dos Estados Unidos) congelou negociações com o Brasil — especialmente no que diz respeito ao tarifaço sobre produtos agrícolas e industriais brasileiros. Com o governo americano sem orçamento, reuniões bilaterais foram suspensas e o diálogo ficou travado.
Na prática, enquanto os EUA negociam internamente, o Brasil segue embarcando commodities para outros mercados: China, Oriente Médio e União Europeia absorvem o volume exportado.
Além disso, o dólar volta a oscilar durante o shutdown, o que pode aumentar a receita de exportação (mais reais para o produtor por saco exportado).
Enquanto a política trava, o agro não para.
VOZ DO JORNALISMO NA POLÍTICA E NO AGRO
A jornalista Ketrin Raitz, parceira da coluna Política e Agro e sócia da Agro Agência Catarina, recebeu ontem, 10, em Brasília, a Moção de Louvor na Câmara Legislativa do Distrito Federal, pelo Dia do Engenheiro Agrônomo.
A homenagem reconhece sua atuação cobrindo política agrícola e aproximando produtores, cooperativas, entidades e parlamentares.
Ketrin é uma das vozes que abre caminho para o jornalismo especializado no agro – área onde a presença feminina ainda é minoria.
Na cobertura legislativa, ela não só noticia: articula, provoca debate e dá visibilidade a temas que impactam diretamente quem está na ponta da produção.
Representatividade não se pede. Se conquista, e com trabalho.
Parabéns, Ketrin!





