Santa Catarina merece Carlos Bolsonaro?

Somos um dos estados mais bolsonaristas do Brasil. E isso, na nossa história recente, nos deu o direito de eleger uma grande parcela de representantes políticos ligados à direita, muitos inclusive até então desconhecidos pelos eleitores catarinenses.

Em 2018 decidimos que o deputado estadual mais votado do parlamento seria um ex-vereador de Blumenau, cujo sobrenome, por começar com a letra A, estava entre os primeiros nas listas de votação coladas nas portas das seções nos colégios eleitorais.

Ricardo Alba, no PSL à época, ficou conhecido como o “azarão” do pleito. Na oportunidade, ao comemorar o feito, o deputado eleito já avisava: “A gente vai mudar essa política, nem que seja na marra.”

De fato, desde então a política mudou, inclusive na marra. A direita conservadora ganhou vez e voz nos diversos espaços. Os candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) surfaram na chamada “onda” e fizeram de seu líder sua bandeira. Os chamados traidores, ao exemplo do ex-governador Carlos Moisés, foram rejeitados pelo eleitor.

Na última eleição municipal, líderes da direita bolsonarista já avisaram: os bolsonaristas fakes não seriam aceitos. E foi assim que o PL, atual partido de Bolsonaro, mudou o mapa político catarinense, tornando-se líder em número de prefeitos eleitos.

Agora, caminhamos para uma nova eleição estadual e decidiu-se que o mesmo estado que elegeu o desconhecido Jorge Seif (PL), um carioca sem serviços prestados a Santa Catarina, Senador da República, vai ter um dos filhos de Jair Bolsonaro como candidato em 2026.

Carlos Bolsonaro nem mudou seu domicílio eleitoral ainda, mas já “chegou chegando”. Pediu para vir, o pai disse que sim e fez o pedido ao governador Jorginho Mello, que já deu a sua benção. Tudo certo, não fosse o fato de não ter combinado com a base e muito menos com o povo.

Precisou a deputada estadual Ana Campagnolo, a mais votada da história de Santa Catarina e a mais conservadora dos bolsonaristas no estado, dizer o óbvio.

A vinda de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) é uma imposição que compromete não só o futuro catarinense mas o próprio bolsonarismo. A entrada de Carlos expulsa Carol de Toni da chapa de Jorginho Mello. E por que dar a possibilidade de concorrer ao Senado a um vereador do Rio de Janeiro?

Porque para a família Bolsonaro “se você está dentro do partido do Bolsonaro, eleito com apoio do Bolsonaro, pouco importa se você é grande ou pequeno, ou mediano. Isso é secundário. Existe uma hierarquia a ser seguida. Bolsonaro vai falar e você vai seguir.” A frase é de Eduardo Bolsonaro, também filho do ex-presidente, em declaração que circulou nas redes sociais na última semana.

Então, o bolsonarismo tem que dizer amém a Carlos Bolsonaro. E se pensar diferente, como a deputada Ana Campagnolo fez, será considerado traidor, ingrato e mentiroso. E os demais representantes da classe política? Seguem omissos.

Uma vez que a política catarinense, em sua grande maioria, aceita em silêncio o nome de um forasteiro para disputar um dos cargos mais importantes da política estadual, caberá somente ao eleitor decidir se a família Bolsonaro está acima de todos.

Mas, pelo histórico e pela omissão, talvez seja mesmo o caso: Santa Catarina merece Carlos Bolsonaro.

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