Santa Catarina não pode ser punida por dar certo. Por Vinícius Lummertz

Artigo de Vinícius Lummertz (MDB), ex-ministro do Turismo e ex-secretário de Planejamento de SC

A posição do prefeito Topázio Neto, de Florianópolis, ao reagir à possível prática de municípios que estariam enviando seus vulneráveis para a capital catarinense, precisa ser analisada com seriedade e sem hipocrisia. Em ocorrendo, não se trata de exclusão, mas de responsabilidade administrativa. Florianópolis e Santa Catarina não podem ser punidas por darem certo num país em que o sucesso , quando não é compreendido , costuma ser atacado. E há uma ironia histórica que desmonta a retórica dos críticos: o estado que mais acolhe venezuelanos no Brasil é justamente Santa Catarina. As famílias que fogem do país com as maiores reservas de petróleo do planeta, transformado no maior fracasso humanitário recente, buscam esperança aqui, e não nos estados de origem dos que acusam Santa Catarina. Vêm para o estado mais seguro, organizado, com melhor índice de Gini, maior empregabilidade e melhores indicadores sociais e maior segurança . Os fatos falam mais alto do que qualquer narrativa raivosa.

Florianópolis vive um dilema urbano e ambiental raro. Quase 60% do seu território está em áreas de preservação ambiental , restingas, dunas, manguezais e encostas frágeis. Poucas capitais do mundo convivem com tamanha proporção de áreas protegidas. Isso impõe limites objetivos ao adensamento, à infraestrutura, à mobilidade e à capacidade de absorção urbana. Preservar esse bioma não é capricho: é dever institucional. Da mesma forma, proteger os índices de segurança , os melhores do Brasil , é obrigação, não escolha. Quando o prefeito defende esses pilares, age com responsabilidade pública, e não com exclusão social. Pondo-se no lugar dele , não é assunto agradável .

Santa Catarina cumpre um papel nacional que raramente é reconhecido. Recebe 8,5 milhões de turistas por ano e, segundo o IBGE, foi o estado que mais acolheu novos moradores vindos de outras regiões em 2023: mais de 370 mil brasileiros. Enquanto isso, São Paulo perdeu quase 90 mil habitantes, o Rio de Janeiro cerca de 180 mil, e Minas Gerais e o Rio Grande do Sul também encolheram. Santa Catarina acolheu quem os outros estados expulsaram , e acolheu com trabalho, dignidade . São essas pessoas que nas redes sociais defendem o estado . O mesmo ocorre com a forte colônia paraense e com migrantes de todas as partes do país. Aqui, encontra-se futuro porque aqui funciona.

É disfarçatez , para não dizer má-fé , virar o rosto diante desses fatos e atacar Santa Catarina por funcionar. O Brasil vive uma onda de ressentimento, grosseria e retrocesso cultural, em que o moralismo de fachada substitui a honestidade intelectual. Influenciadores que não estudaram desenvolvimento, militantes presos a narrativas de conveniência e colunistas dominados pela gritaria transformam Santa Catarina em alvo, não pelos defeitos, mas pelas virtudes. É mais fácil destruir um exemplo do que imitá-lo. Mais fácil gritar do que reformar. Mais fácil rotular do que compreender.

Chegou-se ao grotesco de associar Santa Catarina ao “nazismo”, ignorando que o nacional-socialismo era socialista, autoritário e estatista. Santa Catarina é exatamente o oposto: o estado mais liberal do Brasil e, ao mesmo tempo, um dos mais tolerantes politicamente. Todas as suas principais cidades já foram administradas pelo PT. Aqui não se pune ideologia; avaliam-se resultados. Ainda assim, SC sofre com uma das maiores injustiças federativas do país: contribui cerca de dez vezes mais do que recebe da União, enquanto estados como o Piauí recebem dez vezes mais do que arrecadam. Mesmo assim, mantém os melhores indicadores de segurança, emprego e qualidade de vida.

Santa Catarina, porém, é um estado pequeno, com território limitado e pressão demográfica acelerada. O IBGE projeta que poderá ultrapassar o Rio Grande do Sul em população e PIB até 2046 e o Paraná mais adiante. Isso exige planejamento, infraestrutura e prudência .

Os boquirrotos que atacam Santa Catarina deveriam reconhecer a ironia maior deste tempo: os desesperançados da Venezuela, país que a esquerda raivosa ainda tenta justificar, encontram esperança exatamente em Santa Catarina. Porque é aqui que há trabalho, futuro e segurança. O estado que recebe quase 400 mil pessoas em um único ano não pode ser acusado de exclusão . O prefeito Topázio está certo. Florianópolis está certa. É a capital cuja população mais cresce no Brasil mas não pode ser avacalhada . Santa Catarina está certa. E o Brasil só terá futuro quando parar de hostilizar quem funciona e aprender, finalmente, com quem dá certo. O Brasil precisa construir e não destruir.

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