SC não merece Carluxo: não por ideologia, mas por incompetência.

E cá estou, novamente tentando falar de narrativa e posicionamento, mesmo quando o tema parece puramente político. E, antes mesmo do artigo ser publicado, já estou preparado para ler comentários de gente que não leu o texto, ficou apenas na manchete ou, pior, não entendeu absolutamente nada.

Mas, apesar desses efeitos colaterais, não resisti a dar meus dez centavos de contribuição nesse imbróglio que tomou conta do debate político catarinense: a possível candidatura do vereador Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina. E que esse tema suma rapidamente do noticiário.

A brilhante Sol Urrutia já lançou luz sobre o tema em um artigo instigante, ‘Santa Catarina merece Carlos Bolsonaro?’ e o debate, de modo geral, tem girado em torno de três linhas principais: política, ideologia e bairrismo.

Ou seja, quem se opõe à candidatura de Carlos geralmente aponta que:

1. Ele não teria espaço político por aqui, já que nomes como Esperidião Amin e Carol de Toni seriam os candidatos naturais da direita.

2. Ele representaria o lado mais radical, da extrema-direita, inclusive sendo o piloto do ”gabinete do ódio” que foi muito ativo na presidência do pai.

3. Ele não é de Santa Catarina, nunca atuou aqui e não tem domicílio eleitoral no estado. Ou seja, não seria um tradicional candidato “minhoca”, ou seja, da terra.

Esses argumentos são compreensíveis e válidos mas, para mim, totalmente periféricos nessa questão. O verdadeiro problema da candidatura Carlos Bolsonaro é outro e quase ninguém fala dele: Carlos é um político ruim. Não ruim no sentido ideológico, mas no sentido de atuação concreta. Ele é um legislador inexpressivo, com baixíssimo desempenho em mais de duas décadas de mandato.

Vamos aos dados. Em quase 25 anos como vereador do Rio de Janeiro, Carlos foi autor ou coautor de apenas 67 propostas aprovadas, o que dá uma média de menos de três por ano. Destas, apenas 43 são leis ordinárias. Para fins de comparação, vereadores atuantes chegam facilmente à casa das centenas.

Seus projetos mais citados envolvem bandeiras conservadoras, como a proibição do chamado “kit anti-homofobia”. Quase nenhuma de suas iniciativas legislativas teve impacto estrutural relevante nas áreas de saúde, educação, transporte ou segurança pública no Rio de Janeiro, seu estado natal. Não há legado administrativo, nem articulação relevante com os problemas da cidade.

Sua presença em comissões também foi modesta. Poucos discursos, escassa atuação em plenário e uma exposição pública centrada quase exclusivamente nas redes sociais, onde tem se dedicado muito mais a ataques ideológicos do que a apresentar soluções concretas.

Ou seja: Carlos se notabilizou mais pelo sobrenome do que por qualquer contribuição objetiva ao eleitorado carioca. Sua atuação pode ser resumida em uma frase: baixo desempenho, alto ruído.

E ainda assim, ele é cogitado como pré-candidato ao Senado por Santa Catarina. Por quê?

Porque o voto, em grande parte, não é racional. Ele é basicamente emocional. O eleitor decide com base em elementos como a paixão, a aversão (inimigo comum) e a identificação. E só depois tenta justificar racionalmente essa escolha. Carlos representa um símbolo: o herdeiro do bolsonarismo raiz. E, para muitos, isso basta.

Mas se levássemos a sério o desempenho legislativo como critério, sua candidatura seria inviável. Ele não tem projeto de país, não tem projeto de estado e sequer tem projeto de mandato. Sua ficha legislativa é oca. E o que se espera de um senador é exatamente o oposto: visão, articulação, produtividade.

A polêmica em torno da candidatura de Carlos Bolsonaro deveria ter outro foco. Mais do que o domicílio eleitoral, o vínculo familiar ou o alinhamento ideológico, o que realmente o desqualifica é o currículo. E, convenhamos, Santa Catarina merece mais do que um sobrenome famoso e um histórico pífio de atuação parlamentar.

Concluindo: se o voto fosse racional, Carlos já estaria fora do jogo. Mas como não é, estamos aqui, debatendo o inaceitável como se fosse apenas controverso.

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