Medicamento para emagrecer pode se tornar muleta emocional silenciosa

Medicamento para emagrecer pode causar dependência emocional. Foto: Unsplash/Divulgação

O uso crescente de medicamentos para emagrecimento, como o Mounjaro, gerou um avanço no tratamento da obesidade, mas trouxe à tona um alerta silencioso: o risco de dependência emocional. A neuropsicóloga Juliana Gebrim adverte que, embora não causem dependência física, esses fármacos podem levar à perda de autonomia e ao medo intenso de engordar novamente, transformando-se em uma “muleta emocional” na vida dos usuários. Esse fenômeno psicológico, marcado pela sensação de que o corpo só é controlável com ajuda externa, tem sido associado ao aumento de sintomas de ansiedade e compulsão em quem faz uso prolongado.

O ciclo do medo e a perda de confiança

Segundo Juliana Gebrim, essa relação emocional é mais comum do que se imagina. “A dependência emocional surge quando a pessoa acredita que, sem o remédio, vai perder totalmente o controle. O cérebro passa a associar o medicamento à segurança, e não à saúde, isso gera um ciclo de medo e autodepreciação,” explica. Estudos recentes mostram que a pressão estética, aliada ao pânico de reganho de peso, intensifica sentimentos de culpa e fracasso na possibilidade de interromper o tratamento, mesmo quando a indicação médica não exige continuidade.

Sinais de alerta psicológico

A especialista alerta que o momento de repensar o uso não se baseia apenas no protocolo médico, mas também em sinais psicológicos claros. Indícios de que a relação com o medicamento deixou de ser terapêutica e se tornou dependente incluem:

  • Irritabilidade e obsessão com o peso.
  • Medo exagerado de engordar.
  • Pensamentos de incapacidade sem o uso da medicação.
  • Quando o remédio passa a ditar o humor do dia.

“Quando o remédio passa a ditar o humor do dia, a autonomia desaparece. Interromper, pausar ou repensar o uso deve ser feito com acompanhamento e sem culpa. Estabilidade emocional é tão importante quanto o controle do peso”, destaca.

Recuperando o equilíbrio

Para a neuropsicóloga, a chave para reverter a dependência emocional é reconstruir a confiança interna, através da adoção de hábitos realistas, acompanhamento multiprofissional e acolhimento psicológico. “Medicamentos são ferramentas, não salvadores. Quando entendemos isso, recuperamos o equilíbrio entre saúde física e mental”, conclui.

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