Se o clima fosse um jogo de futebol, a pecuária brasileira entraria hoje pedindo VAR!

Pecuária de SC desafia o IPCC e força Brasília a rever o jogo climático. Os modelos globais tratam o boi como vilão do clima -enquanto a pesquisa científica brasileira (e catarinense) mostra outra narrativa: pastagem bem manejada sequestra carbono, dieta ajustada reduz emissões e sistemas tropicais não podem ser medidos com régua europeia.

👉 De um lado, o agro pede critério científico no debate climático.
👉 De outro, o Congresso sinaliza que o país também quer critério institucional e lei com consequência.

Dados, método, segurança jurídica e o que muda para quem produz, exporta e vive do campo é o que você vai ler por aqui hoje.

Pecuária consciente: Santa Catarina troca o carimbo de vilã por selo verde

A Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – está comemorando 50 anos com um presente técnico para o Brasil: o projeto Pecuária ConSCiente Carbono Zero, que comprova que o modelo catarinense de produção bovina emite menos metano (−8% a −9%) e até 30% menos óxido nitroso do que os índices usados pelo IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.

A lógica é simples:

Pasto manejado sequestra carbono.
Dieta bem formulada reduz metano.
Tecnologia transforma ambiente e produtividade.

O coordenador do projeto, Tiago Baldissera, explica:

“Não dá para usar número genérico de clima temperado em sistema tropical.”

✔️ Meta final: neutralidade em carbono, com recomendações técnicas saindo já em 2026.
✔️ Traduzindo: boi de pasto catarinense pode ser solução climática e não problema.

COP30 – O agro pede VAR (e quer tropicalizar a conta)

Na COP30, o discurso brasileiro endureceu: os modelos globais não contabilizam o que o setor já faz – de plantio direto a integração lavoura-pecuária-floresta.

O pedido é direto:

“Se o boi emite, tem que contabilizar também o que o sistema captura”

Além disso, Embrapa, MBRF e ONGs lançaram o Selo Carne Baixo Carbono, auditável e construído para mercado premium, com apoio técnico e critério.
A verdade é que o debate na COP deixou claro:

➡️ Não dá mais para discutir agricultura tropical usando régua europeia.

Tecnologia: o preço da carne decide o ritmo da mudança

Segundo o Cepea — Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, a adoção tecnológica depende diretamente do valor pago ao produtor. Quando o preço sobe, entra genética, manejo, suplementação e eficiência.

Ou seja:
👉 a sustentabilidade anda junto com a rentabilidade.

Pastagens rotacionadas – a pecuária de ROI e carbono

A Embrapa reforça: pasto rotacionado aumenta lotação, melhora a forragem, reduz insumo, aumenta ganho por hectare e ainda ajuda no carbono.

📈 Produtividade comprovada: 852 kg/ha/ano de ganho de peso.

O AGRO EM NÚMEROS – E o boi segue mandando no placar

Mesmo com tarifaço dos EUA, o Brasil exportou 360,3 mil toneladas de carne bovina em outubro, faturando US$ 1,897 bilhão — crescimento de 37,4%.
💡 Resumo:
➡️ Clima pressiona discurso.
➡️ Mercado pressiona tecnologia.
➡️ China segue comprando.

Boletim Agropecuário SC – um raio-x da produção e dos preços

Produzido mensalmente pela Epagri/Cepa (Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola), o Boletim resume o comportamento de produção, preços e mercado das principais cadeias agrícolas do estado — e a edição de novembro traz um cenário marcado por ajustes, alertas e oportunidades.

Panorama das culturas monitoradas:

✔️ Arroz
O preço caiu cerca de 50% em relação ao ano passado, pressionando a rentabilidade e preocupando produtores. Mesmo com intervenção da Conab, ainda não há sinais de recuperação consistente.

✔️ Feijão
Houve recuperação nos preços em outubro, mas a safra deve ser menor devido ao excesso de chuvas e atraso no plantio.

✔️ Trigo
Segue com queda no preço e redução de área cultivada. Apesar disso, as lavouras mantêm, em geral, boa qualidade agronômica.

✔️ Milho
Depois de meses de retração, os preços começam a reagir, sustentados pelo aumento das exportações e maior demanda interna.

✔️ Soja
Apesar de leve alta de preço no início de novembro, a área plantada deve reduzir pela primeira vez em anos, com produtores migrando para milho, silagem e tabaco.

✔️ Maçã
Após queda, os preços voltaram a subir e a projeção da safra é otimista: crescimento estimado de 27,9%, com frutos de melhor qualidade.

✔️ Alho
O valor pago ao produtor subiu, mas o mercado atacadista ainda registra queda – cenário típico de período de colheita e ajuste de oferta.

Referência para o país

Apesar das oscilações entre culturas, Santa Catarina segue referência no país com forte desempenho no tripé da proteína animal: frango, suínos e leite, consolidando o estado como polo agroindustrial estratégico.


O Boletim reforça o papel de Santa Catarina não apenas como produtor, mas como gestor de mercado e tecnologia, com cadeias cada vez mais organizadas, especialmente a da cebola – que assume protagonismo nacional nesta virada de ciclo.

Exportação de subprodutos avança na Câmara

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 4314/2016, que atualiza as regras para exportação de subprodutos de bovinos e bubalinos – como tendões, miúdos, tripas e matérias industriais – desde que passem por estabelecimentos com inspeção federal habilitados pelo Ministério da Agricultura.

📌 O que muda na prática?
Hoje, muitos desses materiais não encontram demanda no mercado interno e acabam tendo destinação industrial limitada – ou, em boa parte dos casos, virando resíduo sem valor agregado. Com a atualização, produtos que já atendem padrões sanitários poderão ser destinados ao mercado internacional – especialmente China, Vietnã, Coreia do Sul, México e União Europeia, onde há tradição de consumo e uso industrial.

📈 Por que isso importa para o agro?

  • Gera novas fontes de receita para frigoríficos e cooperativas;
  • Amplia a competitividade do Brasil na cadeia global da carne;
  • Reduz desperdício e melhora o destino de resíduos do abate;
  • Fortalece sistemas equivalentes ao SISBI-POA, aproximando a inspeção estadual da federal.


👉 O projeto muda a lógica do descarte para a lógica de mercado e posiciona o Brasil para aproveitar nichos de alto valor na cadeia global da proteína.

SC lança programa bilionário: Coopera Agro SC – crédito, cooperativismo e desenvolvimento

O Governo de Santa Catarina enviou para a ALESC – Assembleia Legislativa do Estado o projeto que cria o Programa Coopera Agro SC, iniciativa estruturada pela Secretaria da Agricultura e Pecuária para ampliar o acesso ao crédito, estimular investimentos no campo e fortalecer o modelo cooperativista catarinense.

O programa prevê a criação de até 10 linhas de financiamento, com juros subsidiados próximos a 9% ao ano, prazos de pagamento de até 10 anos e carência de dois anos – algo raro no cenário atual de crédito rural.

A operação será viabilizada por meio de parceria financeira com o BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, com aporte inicial de R$ 200 milhões do Estado e R$ 800 milhões do setor privado, totalizando R$ 1 bilhão em capacidade de crédito.

Expectativa do governo:

IndicadorProjeção
Impacto econômico totalR$ 26 bilhões
Beneficiados diretos+120 mil produtores rurais
Geração de empregos40 mil vagas diretas e indiretas
Público prioritáriocooperativas, agroindústrias e agricultores integrados

Além do crédito, o programa permitirá que cooperativas utilizem créditos acumulados de ICMS como contrapartida para investimentos – mecanismo já adotado em outros estados, mas inédito neste formato em SC.

O governador Jorginho Mello define assim:

“É uma política para fortalecer quem produz, industrializa, gera emprego e mantém o campo vivo.”

Na prática, o Coopera Agro SC nasce com propósito claro:
👉 financiar expansão, modernização e competitividade do agro catarinense, garantindo segurança para investir – mesmo em um cenário econômico volátil.

Do vilão ao protagonista e de Brasília à COP30

Enquanto o mundo debate carbono tropical e o agro exige referência técnico-científica (não ideológica), o Congresso envia outro recado: segurança pública, economia e produção precisam caminhar juntas.

👉 A ciência apresentada na COP mostra um agro disposto a recuperar controle narrativo.

Porque no fim – seja na pecuária, na segurança ou na exportação – o Brasil não está pedindo palmas. Está pedindo critério.

E Santa Catarina, mais uma vez, chega com dados, modelo produtivo e resultado.

Bom feriado pra você!

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