Brasília: o que o Agro precisa saber (semana de 17 a 22 de novembro)

Nesta edição Brasília: o que o Agro precisa saber, se Brasília já estava tensa com tarifa, clima e tabaco, os últimos dias provaram que ainda cabia mais. A semana trouxe:

  • COP11 com fumaça real e fumaça política
  • COP30 em chamas – literalmente, com manchetes internacionais expondo falhas
  • STF e Congresso divididos entre taxar ou modernizar o debate sobre defensivos agrícolas
  • Tilápia importada irritando estados produtores
  • Javali virando disputa federativa
  • Tarifas americanas caindo… mas deixando Santa Catarina fora da lista do alívio
  • E a ciência catarinense colocando a pecuária tropical no centro da pauta climática.

No campo e no Congresso, novembro está terminando com o recado nítido:
O agro espera diálogo — mas desta vez, exige coerência.

Por Letícia Schlindwein da Agro Agência Catarina — direto de Brasília

COP11 – discurso antitabaco × fila para fumar

Delegações deixando o auditório para fumar enquanto debatem proibição de filtro virou símbolo da semana. A nota da CONICQ tentou conter ruído diplomático, afirmando que o projeto não era brasileiro. Santa Catarina reagiu tecnicamente, com a fala assertiva de Celles Regina de Mattos, presidente da CIDASC:

“O Brasil não pode ser o boi de piranha.”

Agrotóxicos X defensivos: mudança semântica ou ajuste técnico?

A Comissão de Agricultura da Câmara aprovou o projeto que troca o termo agrotóxico por defensivo agrícola, alinhando o país ao padrão internacional (GHS — Sistema Globalmente Harmonizado).

Enquanto o Congresso mudava palavras, o que realmente preocupa está no STF: o julgamento que pode acabar com isenções fiscais para agroquímicos.

Se o imposto mudar, o custo explode — e isso afeta arroz, soja, milho, leite, hortifrutis e a cesta do supermercado.

Santa Catarina reagiu politicamente: o PLP 54/25, da deputada Daniela Reinehr (PL-SC), prevê redução tributária para insumos essenciais.

No agro, a palavra da semana foi previsibilidade.
E a frase mais compartilhada foi a do artigo de Ivan Ramos, da FECOAGRO:

“O campo não vive de manchete ideológica.”

Tilápia: Brasília abre debate, Santa Catarina trava resistência

Com sinalização do governo federal para possível importação da tilápia vietnamita, Santa Catarina mobilizou:

  • senadores,
  • secretarias estaduais,
  • entidades do setor,
  • e cooperativas.

O tema volta à mesa nesta próxima semana com pressão crescente.

Javali – STF reacende disputa sobre quem manda

Estados querem autonomia para controle da espécie invasora.
O Congresso já prepara texto garantindo competência estadual plena.
A bancada da segurança pública apoia.
A bancada ambiental pressiona por limites.
A novela está só começando.

Campo + Indústria + Mercado

EUA derrubam tarifa, mas não para SC

A retirada da sobretaxa americana beneficiou carnes, frutas e café — mas deixou de fora os principais produtos exportados por Santa Catarina, como:

  • madeira,
  • máquinas,
  • motores e
  • equipamentos industriais.

Santa Catarina ficou literalmente fora da lista VIP.

COP30: O incêndio que expôs mais que fiação elétrica

O fogo no pavilhão oficial virou símbolo:

  • da pressa,
  • da falta de estrutura,
  • e da inconsistência entre discurso e execução.

Enquanto isso, o único espaço que funcionou sem caos foi a AgriZone – organizada por CNA, Embrapa e setor privado.

Plano Clima — desmatamento sai da conta do agro

Depois de forte pressão técnica e política, o governo aceitou criar plano específico para emissões ligadas ao desmatamento.

O agro comemora: menos culpa genérica, mais cálculo real.

Ciência & Tecnologia – Santa Catarina entrega dados, não slogans

A Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SC) marcou a semana no clima e nos mercados.

🔹 Pecuária ConSCiente Carbono Zero comprovou que a pecuária catarinense:

  • emite menos metano,
  • reduz óxido nitroso,
  • sequestra carbono em pastagens bem manejadas,
  • e pode chegar à neutralidade já em 2026.

🔹 Boletim Agropecuário Epagri/Cepa apontou:

  • cebola com safra recorde e zero importação nacional,
  • soja com área reduzindo pela primeira vez em anos,
  • arroz afetado por preço e clima,
  • preço da maçã reagindo com safra otimista,
  • milho voltando a ganhar fôlego,
  • alhos com preço subindo no produtor, mas caindo no atacado.

🔹 Bioinsumo catarinense contra o percevejo do arroz avança em testes.

🔹 FECOAGRO + ILSA lançam fertilizantes BIO+.

Santa Catarina não comenta o clima, entrega pesquisa aplicada.

Santa Catarina – institucional e alinhada

O estado segue com:

  • produtores organizados,
  • cooperativismo forte,
  • políticas estaduais articuladas,
  • e protagonismo técnico no discurso climático.

Radar do AgroO que acompanhar?

Segunda — 24/11: Reações pós-COP11 e COP30 devem começar a aparecer oficialmente – principalmente notas técnicas, posicionamentos de entidades e possível revisão narrativa do governo após repercussão internacional negativa do incêndio em Belém e das contradições observadas na COP do Tabaco. É o dia em que Brasília tenta reorganizar discurso antes que o Congresso e setores produtivos ocupem o vácuo.

Terça — 25/11: O Senado pode retomar a votação do PL Antifacção. Integrantes do Palácio do Planalto avaliam que a escolha de Alessandro Vieira (MDB-SE) como relator do PL Antifacção no Senado foi mais “equilibrada” para o governo do que a de Guilherme Derrite (PL-SP) na Câmara dos Deputados.

Quarta — 26/11: O debate técnico sobre o Plano Clima segue no Senado e nos ministérios estratégicos. Expectativa é de avanço em duas frentes: metodologia de medição de emissões no agro tropical (pressão do setor) e desenho do plano exclusivo para desmatamento — retirado oficialmente da conta da agropecuária. Santa Catarina acompanhará de perto, pois o tratamento diferenciado para sistemas tropicais é bandeira catarinense na COP30.

Quinta — 27/11: O governo deve dar novo passo na análise da importação de tilápia do Vietnã. Entidades catarinenses articulam presença física em agendas técnicas e políticas, porque o tema ganhou dimensão nacional e simbólica: competitividade, soberania sanitária e política de estímulo versus dependência. A depender do rito, o tema pode migrar para audiências públicas no Senado antes de deliberação final.

Sexta — 28/11: O STF pode retomar dois julgamentos sensíveis ao setor: isenção fiscal para agroquímicos e a chamada Moratória da Soja. No caso dos defensivos, o impacto é direto na planilha do produtor — principalmente arroz, milho, soja e leite. No caso da moratória, a decisão influencia compliance ambiental, exportações e rastreabilidade. É o dia em que o agro observa jurisprudência — não discurso.

Visão da Semana – o agro não tem tempo para contradições

Se a COP11 discutiu cigarro enquanto produzia fumaça e a COP30 debateu clima enquanto o pavilhão pegava fogo, o agro fez o contrário:

Falou pouco, mostrou muito. Apresentou dados, e exigiu método.

O mundo performa agenda climática. O agro entrega agenda técnica.

Santa Catarina, novamente, ficou no lado certo: o da produção com ciência, coerência e resultado.

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