O Ministério da Agricultura divulgou nova projeção para 2026 com recuo nas lavouras de arroz, feijão e laranja.
Em Santa Catarina e no Sul, cresce a mobilização para enfrentar a crise no leite – com articulações no Parlamento, reuniões da Aliança Láctea, pleitos às cooperativas e estratégias emergenciais estaduais.
Brasília também registrou movimentação intensa: a Frente Parlamentar da Agropecuária discutiu o recuo do governo no Plano Clima e a Câmara aprovou a convocação de Lewandowski.

Valor Bruto da Produção recua em 2026: arroz e leite entre os mais afetados
O Ministério da Agricultura divulgou ontem (26) a estimativa do Valor Bruto da Produção (VBP) para 2026: R$ 1,37 trilhão – queda de 3,3% em relação aos R$ 1,41 trilhão estimados para este ano. A principal retração virá das lavouras: arroz, feijão, laranja e cana devem perder receita, enquanto a soja deve se recuperar e alcançar R$ 341 bilhões, impulsionada por produção recorde de 177 milhões de toneladas.
No arroz, a previsão é de queda de 23,3% nas receitas – agravando um cenário que já registrou recuo de 13% neste ano. O leite também enfrenta retração: queda de 2% na receita em 2026. A pecuária, por outro lado, segue em alta, com destaque para a bovinocultura, cuja produção deve atingir R$ 208 bilhões em 2025 e crescer 1,3% em 2026.
Aliança Láctea Sul-Brasileira articula exportações e reage à crise
Em reunião híbrida realizada na sede da Faesc, em Florianópolis, a Aliança Láctea Sul-Brasileira reuniu lideranças de SC, RS, PR, MS e SP para debater estratégias contra a crise do leite.
O presidente da Faesc, José Zeferino Pedrozo, destacou a audiência pública realizada na Alesc em 12 de novembro, por iniciativa do deputado Altair Silva (PP), que reuniu mais de 700 pessoas e resultou na criação de um grupo de trabalho estadual e federal.
Entre os encaminhamentos discutidos, destaque para o modelo de negócios para exportação de lácteos e a continuidade do monitoramento da ação antidumping movida pela CNA contra o leite em pó importado do Mercosul. Rodrigo Rizzo, presidente da Aliança, reforçou a importância de ampliar a competitividade da cadeia com base em qualidade e sanidade.
Câmara debate dumping no leite; SC, RS e PR se unem em nova audiência
Ontem (26), a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados realizou a segunda audiência pública para discutir a crise do leite e a concorrência desleal das importações. A reunião foi proposta pelo deputado Domingos Sávio (PL-MG) e criticou o indeferimento, pelo governo federal, do pedido de abertura de investigação de dumping feito pela CNA.
A primeira audiência, realizada em 4 de novembro, foi proposta pelo deputado Valdir Cobalchini (MDB-SC), que destacou o risco de colapso da atividade entre pequenos produtores.
Hoje (27), ocorre nova audiência pública em Passo Fundo (RS), proposta pelo deputado Paparico Bacchi (PL-RS), com a participação do deputado Altair Silva (SC). Em pauta, o PL 412/2025, que propõe a proibição da venda de leite reconstituído no RS.
Leite e arroz: Lunelli cobra medidas e detalha proposta anticrise
O deputado estadual Antídio Lunelli (MDB) cobrou em plenário medidas eficazes do governo federal para salvar os produtores de leite e arroz. Em artigo publicado essa semana, aqui, no Upiara.net, Lunelli destacou que SC perdeu 1.548 produtores de leite em um ano e que o arroz tem sido vendido por R$ 55 a R$ 60 a saca, com custo acima de R$ 75.
Entre as medidas defendidas estão:
– Para o arroz: retomada de política de preço mínimo, crédito com juros adequados, investimentos logísticos e suspensão de importações;
– Para o leite: ação antidumping, redução de impostos, crédito emergencial, fortalecimento das cooperativas e renegociação de dívidas com juros limitados a 3%-4% ao ano.
O SindArroz-SC e a Ocesc também criticam a ineficácia das compras da Conab e pedem mecanismos de escoamento ao mercado externo.
Plano Clima: recuo do governo garante revisão com participação do agro
Ainda na reunião da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) de terça-feira (25), a presidente do Instituto Pensar Agro, Tânia Zanella, confirmou que o Plano Clima – que seria anunciado na COP30 – foi adiado após pressão do setor. O motivo: descontentamento com a metodologia que atribuiria ao agro 70% das emissões nacionais, ao incluir desmatamento em assentamentos e imóveis rurais.
A proposta será reformulada por um grupo de trabalho com participação do Mapa, da CNA, da Embrapa e de outras entidades. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) classificou o recuo como “vitória técnica” e defendeu o protagonismo do agro na COP30.
Governo de SC reforça socorro a produtores atingidos por temporais
Na terça-feira (25), o governador Jorginho Mello esteve em Rio das Antas para avaliar os prejuízos causados pelos eventos climáticos extremos que atingiram mais de 30 municípios catarinenses. Acompanhado do secretário estadual da Agricultura e Pecuária, Carlos Chiodini, e de técnicos da Epagri, ele visitou propriedades afetadas por granizo, vendavais e chuvas intensas.
“O campo foi duramente atingido, mas o Estado está presente. Estamos colocando nossos programas emergenciais em campo com agilidade para que o produtor não enfrente essa crise sozinho”, afirmou o governador.
“A Epagri já está em campo com nossas equipes para mapear os danos, elaborar projetos de recuperação e garantir que o agricultor tenha acesso rápido ao crédito emergencial e ao apoio técnico necessário”, reforçou o secretário Chiodini.
Entre as medidas, destacam-se:
- Pronamp Agro SC Emergencial: crédito de até R$ 100 mil por família com juros de até 3% ao ano;
- Projeto Proteção de Pomares: financiamento de telas antigranizo com subvenção de juros;
- Sistema Antigranizo: expansão em convênio com prefeituras;
- Programa Safra Garantida SC: subsídio estadual de até R$ 1.500 na adesão ao Proagro Mais.
Sinal Bom na Alesc
O governo do estado também encaminhou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei 152/2025, que institui o programa Sinal Bom. A proposta prevê investimento de até R$ 578 milhões para expandir a cobertura de telefonia móvel e fibra óptica no meio rural, com 688 novas Estações Rádio Base e parcerias com cooperativas de energia para uso compartilhado de postes.
O secretário Carlos Chiodini afirmou que a conectividade é hoje “ferramenta essencial para a gestão e a vida no campo”. O objetivo é ampliar a competitividade e permitir que o jovem permaneça na propriedade com acesso à tecnologia e informação.
Câmara aprova convocação de Lewandowski
A Comissão de Agricultura da Câmara aprovou ontem (26) requerimentos dos deputados Pedro Lupion (REP-PR) e Rodolfo Nogueira (PL-MS) convocando o ministro Ricardo Lewandowski para explicar a omissão da Força Nacional diante das invasões em áreas produtivas e a homologação de terras indígenas.
A convocação vem na esteira da notícia-crime protocolada na terça-feira (25) pela FPA contra o presidente Lula, Lewandowski e outros agentes do governo federal. A bancada contesta os decretos e portarias de homologação de terras indígenas assinados durante a COP30, alegando descumprimento da Lei 14.701/2023, que instituiu o Marco Temporal.
Lupion classificou os episódios como “inaceitáveis” e cobra explicações urgentes.
Agricultura no vermelho, produtores na linha de frente
De um lado, a previsão de queda no Valor Bruto da Produção e o colapso silencioso do leite e do arroz; de outro, as perdas causadas por tempestades e a demora nas respostas federais à crise fundiária.
O que se vê é um campo pressionado por burocracia, clima e insegurança jurídica, mas também um setor que reage: organiza audiências, estrutura pleitos, propõe projetos e articula políticas públicas nos três níveis de governo.
Como reforçou o secretário Carlos Chiodini: “Nosso compromisso é garantir que as políticas públicas cheguem rapidamente a quem mais precisa.”
Na luta por renda, respeito e resiliência, o agro segue firme – mesmo quando o tempo, o preço e a política conspiram contra.






